14/10/2016 10h42
Nova York
Da Agência Lusa
Apenas uma em cada seis crianças com menos de 2 anos recebe alimentos em quantidade e diversidade suficientes para a idade, o que deixa as restantes em risco de danos físicos e mentais irreversíveis. A conclusão é de um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado hoje (14).
"Os bebês e as crianças pequenas têm maior necessidade de nutrientes do que em qualquer outra fase da vida. Mas milhões de crianças pequenas não desenvolvem todo o seu potencial físico e intelectual porque recebem pouca comida e demasiado tarde", disse France Begin, conselheira sênior para os assuntos de Nutrição da Unicef, citada em nota da organização. Ela alerta que "uma nutrição deficiente em uma idade tão tenra causa danos mentais e físicos irreversíveis".
Chamado Desde a primeira hora de vida, o relatório mostra um mundo em que uma dieta saudável está fora do alcance da maioria. Os dados revelam que a introdução tardia de alimentos sólidos, o número reduzido de refeições e a falta de variedade de alimentos são práticas generalizadas no mundo, privando as crianças de nutrientes essenciais quando o cérebro, os ossos e o físico deles mais precisam.
Com efeito, embora os alimentos sólidos devam ser introduzidos a partir dos 6 meses de idade, um terço de todas as crianças no mundo só começa a comê-los demasiado tarde e um em cada cinco bebês só começa a receber alimentos sólidos após os 11 meses.
Apenas 52% das crianças entre 6 e 23 meses recebem o número mínimo de refeições diárias para a sua idade e a diversidade alimentar é outro problema: menos de metade das crianças recebe diariamente alimentos de pelo menos quatro grupos diferentes.
Entre os 6 e os 11 meses, faixa etária em que a nutrição é mais importante, a situação é ainda mais preocupante: apenas 20% recebem alimentos de quatro grupos diferentes por dia, o que provoca carências de vitaminas e minerais.
O relatório do Unicef refere-se também à amamentação, que segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde deveria ser a forma exclusiva de alimentação dos bebês até os 6 meses.
Segundo os dados, apenas 45% dos 140 milhões de bebês que nasceram em 2015 foram amamentados na primeira hora de vida, como é recomendado, e três em cada cinco bebês com menos de 6 meses não recebem os benefícios da amamentação exclusiva.
De acordo com o relatório, quase metade das crianças em idade pré-escolar sofre de anemia e metade das crianças entre os 6 e os 11 meses não recebe qualquer tipo de alimento de origem animal.
O Unicef alerta ainda para as desigualdades: na África Subsaariana e no Sul da Ásia, apenas uma em cada seis crianças dos agregados familiares mais pobres com idade entre os 6 e os 11 meses têm uma dieta minimamente diversificada, comparando com uma em cada três dos agregados mais ricos.
A organização destaca que a melhoria da nutrição das crianças menores poderia salvar 100 mil vidas por ano, mas lembra que as famílias, embora façam o melhor com os recursos a que têm acesso, não podem fazer tudo sozinhas. É preciso a liderança dos governos e as contribuições de setores-chave da sociedade para fornecer uma dieta saudável às crianças, diz o relatório.
Tornar os alimentos nutritivos mais baratos e acessíveis para as crianças mais pobres exige investimentos consistentes e direcionados por parte dos governos e do setor privado. Transferências em dinheiro ou em gêneros para as famílias vulneráveis, programas de diversificação de colheitas e o enriquecimento de alimentos básicos são essenciais para a melhorar a nutrição das crianças menores.
Serviços de saúde comunitários, com capacidade para ajudar a ensinar aos cuidadores melhores práticas alimentares, bem como a água e o saneamento adequados – essenciais para a prevenção de doenças como a diarreia – são igualmente fundamentais.
"Não podemos permitir falhas nesta luta para melhorar a nutrição das crianças. A sua capacidade de crescer, aprender e contribuir para o futuro dos seus países depende disso", concluiu France Begin.
Agência Brasil