Michel Temer foi prestigiado pelos líderes dos países do G20 na China
Clóvis Rossi
Folha
Circula pelas redes sociais a foto da cúpula do G20 em que o presidente Michel Temer aparece no cantinho, acompanhada da insinuação, implícita ou explícita, de que ele foi marginalizado pelos seus pares, como castigo pelo “golpe” que derrubou Dilma Rousseff. Pura tolice. Temer ficou na ponta da foto porque o protocolo do G20 determina que, no centro do quadro, ao lado naturalmente do anfitrião, apareçam os governantes há mais tempo no cargo. Como Temer assumiu definitivamente apenas dias antes da reunião na China, inexoravelmente ficaria no cantinho.
Ao contrário do que insinua essa versão tolinha, a cúpula do G20 foi uma demonstração de que o “golpe” saiu barato, do ponto de vista das relações internacionais do Brasil.
Não houve, no G20, nenhuma restrição ao novo governo, o que significa que os países que representam 85% da economia mundial continuam o relacionamento (e os negócios) com a nova gerência tropical.
TUDO NORMAL – Aliás, só mesmo algum tarado poderia esperar o contrário. Se o G20 aceita a Arábia Saudita, que não chega a ser um paraíso democrático, não poderia recusar o Brasil. Se o teor de democracia fosse critério para fazer parte do grupo, a cúpula não poderia ser na China.
Mesmo na América Latina, a reação concreta ao “golpe” limitou-se aos países bolivarianos — e assim mesmo um deles, a Bolívia, já sinaliza recuo, pragmaticamente interessada em uma boa renegociação do acordo para venda do gás ao Brasil.
Nem Cuba, paradigma revolucionário no subcontinente, chamou de volta seu embaixador, apesar das duras críticas verbais ao impeachment.
As três grandes economias da América Latina, depois da brasileira (Argentina, México e Colômbia), abraçaram sem restrições o novo governo. Até aí, o lado digamos luminoso, para o novo governo, das repercussões do “golpe”.
CUSTO INTERNO – Mas há, sim, um custo alto em termos de imagem, representado pelas críticas de um punhado de jornais de prestígio, como “El País” e o “Guardian”.
O custo mais alto, no entanto, é interno. Não pelo impeachment em si, que havia sido solicitado nas ruas por massas muito mais numerosas do que as que a ele se opunham.
O problema, aí, é o baixo prestígio de Michel Temer, tão baixo quanto o de Dilma. É natural, portanto, que seja vaiado onde quer que apareça ou que se façam manifestações cobrando “diretas já”.
O Eurasia Group até calcula que “demonstrações de rua permanecerão uma característica do panorama nos próximos meses”.
DEPENDE DA ECONOMIA – Por enquanto, os manifestantes são militantes dos partidos que perderam o poder ou de suas organizações satélites — minoritários na comparação com os que rejeitavam Dilma ou com os que estão fartos das classes dirigentes, as anteriores, agora na oposição, ou as atuais, parte das quais era governo antes e continua governo agora.
O custo para Temer vai se tornar insuportavelmente elevado se ele não conseguir dar um jeito na economia e, acima de tudo, pelo menos iniciar a recuperação do emprego.
Aí, sim, as ruas voltarão a ferver como em 2013.