Protesto na Avenida Paulista exibe a força do lulopetismo
Carlos Newton
Em fevereiro de 2015, quando começou a ser esboçada a possibilidade de haver impeachment e tirar o PT do poder, o ex-presidente Lula do Silva fez um provocador pronunciamento no auditório da Associação Brasileira de Imprensa, dizendo que iria colocar nas urnas o “exército do Stedile”. No mesmo momento em que ele discursava no sétimo andar, a ameaça começava a se concretizar em frente ao histórico prédio da ABI, com militantes do PT espancando manifestantes que defendiam o afastamento da então presidente Dilma Rousseff.
Depois, Lula começou a falar em “incendiar o país” e outros dirigentes petistas e coordenadores de movimentos sociais passaram a fazer idêntica ameaça, especialmente Guilherme Boulos, um jovem de classe média que lidera o movimentos dos sem-teto, organizado nas principais cidades do país pelo PCdoB e que invade imóveis públicos e particulares para transformá-los em “ocupações”.
De lá para cá, começaram as manifestações com cenas de violência e depredação, embaladas pela Mídia Ninja e pelos Black blocs. Eram incidentes esporádicos, não colocavam em risco a democracia. Mas agora a situação se definiu, o PT foi mesmo derrubado do poder, há um clima de revolta nos movimentos sociais, que perderam suas fontes de renda, e tudo pode acontecer.
TEMER ERROU – Não há dúvida de que o presidente Michel Temer mostrou inabilidade ao menosprezar a importância dos protestos, pois foi logo desmentido pelo êxito da manifestação na Avenida Paulista neste domingo, sem dúvida uma extraordinária demonstração de força das bases do lulopetismo.
Na China, o ministro Henrique Meirelles foi mais hábil nesta segunda-feira, ao destacar que esses protestos são democráticos e devem ser encarados com naturalidade, porque são fruto da insatisfação da minoria, e o novo governo conta com apoio da maioria da população.
De toda forma, o domingo na Avenida Paulista virou motivo de preocupações, pelas dúvidas que desperta. A principal delas é saber se Lula tem mesmo condições de incendiar o país, com os exércitos de Stédile e Boulos atraindo novos adeptos para os dissidentes sociais que se intitulam “Black blocs”.
RECURSOS ESCASSOS – A tendência deve ser no sentido de que os protestos se mantenham, mas acabem perdendo força, por falta de recursos para transportar, alimentar e até remunerar grande parte dos manifestantes, como aconteceu na última etapa do julgamento de Dilma Rousseff no Senado.
No dia 26 de agosto, a jornalista Natuza Nery, editora da coluna Painel, já antecipava na Folha o esvaziamento, ao noticiar: “CUT e os movimentos sociais informaram à direção do PT que, por causa da falta de recursos, será difícil levar militantes para acompanhar da Esplanada a fala de Dilma. Sugeriram que, além de vaquinha entre senadores, Dilma use o que sobrou do crowdfunding que custeou suas viagens para bancar os ônibus que levarão manifestantes a Brasília”.
De toda forma, o protesto desde domingo na Avenida Paulista era fundamental e emblemático para manter acesa a militância. Os recursos então apareceram e o ato foi mesmo um sucesso. Resta saber o que virá daqui para a frente.
PRISÃO DE LULA – A situação é inquietante, porque o repetitivo discurso de “golpe das elites” funcionou junto aos jovens carentes e da classe média, sem a menor dúvida, e eles podem reforçar os exércitos de Stedile e Boulos.
Diante desse quadro, é conveniente que o juiz Sérgio Moro evite qualquer precipitação em suas decisões. Sabe-se que já são abundantes as provas de envolvimento direto de Lula na corrupção, como chefe da quadrilha que quase quebrou a Petrobras e outras estatais. Mas não será oportuno – nem mesmo necessário – decretar a prisão preventiva do ex-presidente.
Uma decisão desse tipo transformará Lula em “vítima” e pode funcionar como combustível para incendiar o país, cumprindo a própria ameaça dele. E isso só interessa aos inimigos da democracia, que ainda é frágil no Brasil e precisa ser preservada.
Tribuna da Internet