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Roberto Nascimento
Enquanto vigorarem os projetos de poder dos partidos brasileiros em detrimento dos projetos de nação, o Brasil não conseguirá se livrar da dependência externa. E não virá de fora a nossa redenção como país próspero. Nenhuma nação tem ou pode ter amigos, a não ser interesses, como dizia Foster Dulles, secretário de Estado dos EUA. Logo, quem acredita em amizades no concerto das nações verá seu país ser rapinado de suas maiores riquezas. Por isso, os novos tempos no Brasil já vêm sujeitos a chuvas e trovoadas, com os mesmos erros do presidencialismo de coalizão, principal gerador da corrupção desenfreada de agentes públicos e entes privados.
Logo veremos medidas provisórias destinadas a restringir direitos duramente conquistados, tais como a flexibilização da CLT e a reforma da Previdência. Quer dizer, o povo pagará por tudo que estamos observando na Lava Jato, que envolve em corrupção muitos partidos de diferentes tendências ideológicas.
A ONDA É DESESTATIZAR
Estamos vivendo um extraordinário retorno de arrazoados privatistas e neoliberais, na defesa da alienação das empresas estatais que restaram da política iniciada com Fernando Collor, ampliada por FHC e continuada no governo do PT, com a entrega de siderurgias, rodovias, aeroportos, ferrovias e portos construídas e equipados com recursos públicos.
O Estado está alcançando um patamar de privatização que no futuro tirará dos governos o poder de regular a economia, em termos de controle dos preços de combustíveis, energia, transportes e infraestrutura. Com isso, perdem-se importantes instrumentos de regulação econômica e de controle da inflação.
O PAPEL DO ESTADO
Não é possível desconhecer a importância do papel do Estado, com ficou demonstrando na industrialização do Brasil, iniciada na era Vargas.
Na ausência do empreendedor privado, o Estado tomou para si a tarefa de construir hidrelétricas, portos, aeroportos, torres de transmissão, siderúrgicas, enfim toda a infraestrutura para tirar o país do modelo exportador de matérias-primas. Portanto, se constata que o “espírito animal” do capitalismo nacional é inexistente.
Os empresários brasileiros só empreendem com fartos recursos do Tesouro, através principalmente do BNDES, que libera altas somas com prazo de carência, juros subsidiados e pagamento em longo prazo. E a diferença entre os juros cobrados aos empresários e os juros reais é paga por nós,
OS DIREITOS SOCIAIS
Quando analistas citam que a Constituição de 1988 veio para romper com o passado e o país voltar a crescer, incide aí uma falácia. Houve uma guerra nos bastidores da Constituição, notadamente por lobistas que defendiam a defesa dos interesses dos banqueiros, da iniciativa privada e das multinacionais.
A Constituição cidadã, nomeada assim por Ulysses Guimarães, tratou preferencialmente de garantir os direitos individuais e coletivos, realmente uma inovação. Ou alguém minimamente informado acredita que o objetivo desses lobistas seria melhorar das condições do povo, nas áreas da saúde, da educação e moradia?
A AGONIA DO ESTADO
O Estado brasileiro realmente caminha no sentido da desarticulação de seu poder regulatório e da alienação de suas empresas estatais, através da passagem de seus controles para a iniciativa privada, que pode ser pela via do consórcio com empresas europeias, americanas, africanas, asiáticas.
Incute-se nas consciências coletivas que nós, brasileiros, somos incompetentes para gerir nosso desenvolvimento, que o Estado e suas empresas são ineficientes, que os empregados das estatais são preguiçosos e ganham salários elevados demais, que as empresas privadas são mais eficientes.
Então, como explicar as falências da Varig, da VASP, da Transbrasil, da Panam, só para falar no setor aéreo. Quantas empresas sumiram do mapa econômico nos últimos 60 anos, por incompetência, gestão fraudulenta, má-gestão ou por falência múltipla dos órgãos neste país e no mundo?
A OAS e outras empreiteiras, sempre aquinhoadas com vultosas obras públicas, mesmo assim estão no limiar da falência. Como se pode, então, lançar loas à expertise do setor privado comparado ao setor público?
Há estatais em todos os países, capitalistas ou não, especialmente nos Estados Unidos. Aqui, queremos ser diferentes e privatizar tudo, ao invés de seguir o exemplo das nações mais desenvolvidas e simplesmente exigir eficiência às empresas estatais.