07/02/2015 00h37 - Atualizado em 07/02/2015 00h58
Do G1 BA
A Anistia Internacional afirmou, em nota pública divulgada nesta sexta-feira (6), que "relatos iniciais contestam a versão oficial da polícia militar e apontam indícios de execuções sumárias" na ação que resultou na morte de 12 pessoas suspeitas de assalto, na madrugada desta sexta, na Estrada das Barreiras, no bairro do Cabula, em Salvador. A ação também deixou cinco feridos, entre eles um policial.
Segundo a nota, há relatos que contestam a versão da polícia de que o grupo de homens estaria a caminho de um assalto a banco quando foram abordados pelos agentes. A Anistia afirmou que "espera que o governo baiano realize uma investigação minuciosa, independente e célere da operação policial da Rondesp (Rondas Especiais)".
Ainda de acordo com a nota, ao longo dos últimos meses, a Anistia tem recebido denúncias sobre a "abordagem abusiva" da Rondesp, com relatos de uso excessivo da força, desaparecimentos forçados e execuções sumárias.
Um dos casos citados é de Davi Fiuza, adolescente de 16 anos, que desapareceu no dia 24 de outubro de 2014, no bairro de São Cristóvão, na capital baiana. Ele sumiu depois de supostamente ter sido abordado por policiais militares da Rondesp e do PETO (Pelotão de Emprego Tático Operacional).
Por fim, a Anistia Internacional pede que as autoridades "tomem as medidas necessárias para garantir a segurança imediata dos moradores e proteger testemunhas e os sobreviventes".
Policiamento reforçado
Depois das mortes, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) anunciou o reforço do policiamento da Estrada das Barreiras, na tarde desta sexta-feira (6). A preocupação é direcionada para uma possível tentativa de retaliação da criminalidade ou para um confronto entre quadrilhas rivais que percebam a fragilidade do grupo.
De acordo com investigação policial, nove dos 15 atingidos têm passagens pela polícia e alguns são ex-presidiários. Os nove policiais envolvidos na ação entregaram as armas de forma voluntária e, segundo a polícia, não serão afastados.
"Não houve determinação do comando geral ou da SSP com relação ao afastamento, até porque a ação foi legítima por parte dos policiais militares. Não objetivamos o confronto, mas estamos preparados para caso ele aconteça", disse o major da PM Agnaldo Ceita. "Reagimos de modo proporcional à reação injusta sofrida pelos policiais militares", completou.
Chefes de polícias falaram sobre ação em coletiva.
(Foto: Henrique Mendes/G1 BA)
Confronto
Segundo a polícia, o confronto foi iniciado após os policiais da Rondesp perceberem seis homens de mochilas, o que despertou desconfiança inicial, até que o grupo saiu correndo ao encontro de mais 30 homens, que teriam iniciado os disparos.
Além disso, a polícia diz ter apreendido com os suspeitos 12 armas de fogo calibre.38, 1 pistola calibre.40, outra pistola calibre .45, 1 espingarda calibre .12, dois coletes balísticos, além de 3 kg de maconha, 1,2 kg de cocaína, 300 gramas de crack, além de diversos uniformes camuflados parecidos com as roupas usadas no Exército.
Parentes de vítimas
"Eles estavam no ponto [de tráfico], [os policiais] renderam e mataram". A versão é do irmão de uma das 13 pessoas mortas durante ação de policiais militares na Vila Moisés, Estrada das Barreiras, no bairro do Cabula, em Salvador, na madrugada desta sexta-feira (6). Quatro pessoas, entre eles um PM, ficaram feridos na ação - desses, dois suspeitos estão internadas em estado grave de saúde e mais dois receberam alta, entre eles, o policial.
Drogas e armas apreendidas durante a ação.
(Foto: Henrique Mendes/G1 BA)
De acordo com jovem de 24 anos, que não será identificado por questão de segurança, o irmão tinha 18 anos e tinha envolvimento com tráfico. "Essa história de assalto a banco é mentira. Eles, realmente, estavam no ponto [de venda drogas] e se renderam com a chegada da polícia", contestou o posicionamento da PM, que disse ter recebido denúncia de que o grupo planejava assaltar um banco da região.
O irmão do jovem relata, ainda, que três dos suspeitos conseguiram fugir e se esconderam num matagal, sendo encontrados pela polícia por volta das 8h e também mortos. "Ele morava com a avó. Não vou dizer que meu filho era santo, mas o que a polícia fez foi covardia", disse o pai do jovem sobre o caçula de 10 filhos. Ele disse que os crimes podem ter sido cometidas em vingança pela morte de um coronel na região, há cerca de um mês.
O irmão do adolescente disse que o jovem de 18 anos morava com a avó, que está viajando e ainda não foi informada sobre o caso. "Ela vai sofrer muito. Eles eram muito apegados. Por incrível que pareça, ela ligou hoje perguntando se algo tinha ocorrido. Disse que estava sentindo um mal estar. Ela sentiu, mesmo de longe", comentou.
A noiva do irmão da vítima disse que uma irmã dele, que mora na Suíça, soube do envolvimento dele com as drogas e já planejava a ida dele para o país. "Pena que não deu tempo", desabafou.
Investigação
O governador Rui Costa disse que não há indícios para a necessidade de afastamento dos policiais militares que participaram da ação. Um sargento da PM foi atingido de raspão na cabeça, mas foi socorrido e teve alta médica.
A troca de tiros ocorreu na madrugada desta sexta, na Estrada das Barreiras, no bairro do Cabula, em Salvador. "A Polícia Civil vai detalhar a apuração e, se algum fato justificar o afastamento de alguém, isso será feito. Mas nesse momento não há nenhum indicativo de afastamento dos policiais", destacou o governador.
Secretário disse que resposta da polícia foi "à altura"
(Foto: Maiana Belo/G1)
'Resposta à altura'
O secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, defendeu a ação dos policiais. "Tudo está sendo apurado. O Departamento de Homicídio, com a Corregedoria de Polícia. Agora prefiro acredita na versão dos meus policiais até que algum outro fato apareça. A resposta da polícia tem que ser dura e energética no combate ao crime organizado", disse o secretário.
"Nós não vamos tolerar a participação de elementos armados na prática desse tipo de delito que a gente tem combatido tanto, que é o estouro de terminal de caixa eletrônico por bandidos armados, querendo colocar em risco a sociedade. Os nosso policiais, em uma situação de enfrentamento, não vão ficar esperando alguma coisa acontecer contra eles ou contra a sociedade. O criminoso que quiser enfrentar a polícia vai ter resposta a altura", acrescentou Maurício Barbosa.
Segundo o comandante geral da Polícia Militar, coronel Anselmo Alves Brandão, o tiroteio aconteceu após policiais receberem a informação de que um grupo planejava roubar um banco na região. A PM afirma que, ao chegar ao local, a viatura das Rondas Especiais (Rondesp) foi recebida a tiros por cerca de 30 assaltantes.
"Seguimos a informação do nosso serviço de inteligência, foi dado um alerta geral e as guarnições ficaram aguardando uma ação desses grupos. Foi quando nós avistamos uma quadrilha na região de Tancredo Neves, próximo a um Terminal de Autoatendimento. Ao abordarem essas pessoas, nossas guarnições se surpreenderam com arsenal deles", contou o militar.
"As informações do policial que estava coordenando [a operação] eram que eram mais de 30 pessoas. Estavam bem armados, inclusive com arma de grosso calibre, com poder de fogo de tiro de rajada, com silenciadores. Muitas armas, muitas drogas. Eles vieram bem articulados, inclusive com uniforme. Estavam camuflados também", descreve Brandão.
Feridos
De acordo com o Hospital Geral Roberto Santos, 15 pessoas foram levadas para a unidade de saúde, sendo que 10 já chegaram mortas. Dos demais cinco, um morreu logo após ter dado entrada no Centro Cirúrgico e foi identificado como Vítor Amorim de Araújo. Dos quatro restantes, segundo o hospital, Arão de Paula Santos, 23 anos, teve alta após ser medicado e levado à Polícia Civil. Luan Lucas Ferreira de Oliveira, 20 anos, passou por cirurgia e já está em uma enfermaria. Elenilson Santana da Conceição, 22 anos, tem estado de saúde grave, passou por cirurgias e vai ser levado para a UTI. Não há informação do último morto, que completaria os 12 informados pela polícia.