O INFIEL DA BALANÇA
De um lado o PT, lutando para evitar que o desgaste de Dilma, por descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, reduza suas condições de exercer o mandato. De outro o PSDB, dizendo lutar para que a lei seja cumprida e, de fato, para que Dilma se transforme naquilo que os americanos chamam de “lame duck” – um pato manco, politicamente irrelevante. Quem ganhou, PT ou PSDB?
Quem ganha é o PMDB velho de guerra. Para garantir a presidente, o PT tem que dar ministérios e abrir o cofre (já saíram R$ 444 milhões para emendas parlamentares – R$ 750 mil per capita). Se o PSDB, no limite, conseguir o impeachment de Dilma, ganha o PMDB – que tem o vice, Michel Temer, tem o eventual substituto de Temer (o presidente da Câmara), tem o presidente do Senado.
E, para exercer de fato o poder no país, o PMDB não precisou sequer apresentar candidato. Apoiou oficialmente a candidata do PT, teve uma ala importante ao lado do candidato do PSDB. Os outros disputam, o PMDB manda.
Nem aquela frase clássica da política, “chega de intermediários, Michel Temer para presidente”, se aplica no caso: o PMDB prefere ter intermediários que corram os riscos, façam o que for preciso e entreguem só o que há de melhor.
Em época de divergências, o líder baiano Antônio Carlos Magalhães disse que o hoje presidente nacional do PMDB, Michel Temer, parecia mordomo de filme de terror. ACM, ácido e direto, tinha razão: Temer faria sucesso no gênero.
E não esqueçamos que, como mordomo, é a ele que cabe abrir a porta do palácio.
Quer pagar quanto?
Dilma mostrou-se transparente e inovadora. Aquela argumentação abundante que modifica votos existe há muito tempo – mas publicada no Diário Oficial da União, e com valor fixado, é a primeira vez.
Parece anúncio das Casas Bahia.
Auto-suficienta
Dilma decidiu o superávit, ela mesmo o descumpriu, ela mesmo ofereceu ao Congresso milhões de motivos para mudar a lei e absolvê-la.
Dilma é eficienta.
Quem parte e reparte…
O governador petista da Bahia, Jaques Wagner, em fim de mandato, já se garantiu; a Assembleia concedeu-lhe aposentadoria vitalícia de R$ 19.300 mensais.
…fica com a melhor parte
Que é que têm em comum José Gregori, jurista, Tião Farias, que foi assessor político do governador Mário Covas, e Francisco “Xico” Graziano, engenheiro agrônomo? Têm em comum a atuação política; o partido, o PSDB paulista; a presença bem remunerada no Conselho de Administração da estatal Emaer, que cuida de energia, captação de água e controle de cheias na Grande São Paulo e Baixada Santista; e carreiras bem sucedidas fora da área em cuja cúpula foram instalados.
Para integrar o Conselho de Administração da Emaer e participar de algumas reuniões, ganham 30% do salário dos diretores que cuidam da empresa.
Cartelão
Foram seis anos de investigações (na Europa, claro; no Brasil, só no finzinho as coisas pegaram no breu), com confissões (de uma empresa obrigada pelas leis alemãs, onde fica sua matriz, a respeitar determinados princípios comerciais), com ensurdecedor silêncio, na maior parte do tempo, dos meios de comunicação (esta coluna, que cobrava a investigação do caso, se sentia mais sozinha que torcedor do América do Rio). Enfim, parece que as coisas estão andando: a Polícia Federal encaminhou à Justiça o nome de 33 pessoas que considera envolvidas no Cartel do Metrô e dos Trens Urbanos de São Paulo. Supõe-se que o desvio de dinheiro público se aproxime dos $ 850 milhões. O caso se estende pelos mandatos de três governadores do PSDB, Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
Há, entre os envolvidos, empresários, políticos, lobistas, doleiros, servidores públicos. Dois políticos estão citados: os deputados federais José Aníbal, PSDB, e Rodrigo Garcia, DEM. Detalhe curioso: mais de R$ 800 milhões desviados em dez anos, e ninguém percebeu nada no Governo. Secretários que, imagina-se, têm a função de controlar os contratos do Estado, também não viram nada.
Olhos de vidro
O caso ainda pode crescer, à medida que houver a possibilidade de delações premiadas. Empresas multinacionais, políticos importantes – nada poderia ser feito sem eles. Pode-se acreditar que ninguém jamais tenha visto nada? Pode-se acreditar que as coisas eram mais caras aqui do que nos outros lugares do mundo, sem que ninguém se desse conta disso? As investigações começaram na Europa, não no Brasil (e, no Brasil, ficaram três anos paralisadas, porque os documentos tinham sido guardados em pasta errada – mas não pense mal: quem é que jamais guardou nada fora do lugar correto?).
Enfim, é preciso esclarecer a dúvida: neste período de dez anos agora investigado, só havia no Governo tucano paulista gente que não era capaz de nada? Ou haveria, talvez, alguém capaz de tudo?
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