21/06/2014 às 19:13
O PTB rompeu com a candidatura da presidente Dilma Rousseff e anunciou, neste sábado, seu apoio ao tucano Aécio Neves. É claro que se trata de um fato importante — e por várias razões. Começo pela básica: o partido tem 1min15s no horário eleitoral gratuito. Isso significa que a desproporção ainda brutal entre os tempos do PT e do PSDB diminuiu em 2min30s — o tempo que ela não terá será dele. Há pouco mais de um ano, a impressão que se tinha era a de que haveria um candidato do PSDB, com apoio do DEM e do PPS, contra o resto. O cenário mudou bastante.
Em segundo lugar, mas não em ordem de importância, estamos diante de mais uma fratura da base — e já há muitas. Vejam o caso do PMDB: o tempo acabou ficando com a petista, mas é certo que o partido não caminha unido para a disputa. O apoio a Dilma contou com o adesão de apenas 59% dos convencionais — em 2010, de 84%.
O PSC, que terá como candidato Pastor Everaldo, também já integrou a base governista. Não apoiará Aécio no primeiro turno; vai de candidatura própria — e, até agora ao menos, fala uma linguagem francamente de oposição. Aliás, se levarmos em conta o discurso da legenda, é o mais abertamente oposicionista porque faz uma contestação também ideológica do regime. Everaldo está longe de ser o brucutu que muitos gostariam que fosse. Ao contrário: tem um discurso articulado, coerente, fundamentado. Tem entre 3% e 4% dos votos. Se ficar só nisso, estamos falando de um potencial de mais de 5,5 milhões de eleitores. Mas acho que ainda deve crescer. Pode ter uma importância fundamental num segundo turno. E não vejo como o eleitorado de Everaldo migraria para Dilma no segundo turno,
O PSD também estará com Dilma na coligação federal, mas não é segredo para ninguém que o partido não marcha unido com a candidata porque existem as realidades regionais. Em São Paulo, por exemplo, o mais provável ainda é um acordo com o PSDB. Aliás, no estado do maior eleitorado do país, o PMDB terá um candidato a governador, Paulo Skaf, que vai terçar armas com um petista e que não mobiliza um eleitorado exatamente favorável a Dilma.
No chamado “presidencialismo de coalizão”, como há no Brasil, a menos que governos façam gestões catastróficas (é evidente que catástrofe não temos nem corremos o risco de ter até outubro), a troca de guarda só se dá quando há divisões no bloco do poder e quando algumas forças se desgarram do grupo hegemônico. Tomemos 2002 como referência. É claro que houve circunstâncias derivadas da gestão propriamente que levaram à vitória do PT. Mas teve peso decisivo o fato de o então poderoso PFL ter decidido romper com o PSDB. Hoje, seria o correspondente de o PMDB cair fora da aliança com o PT.
Como reconhecem os próprios petistas (post anterior), o rompimento não é bom para o governo. Quando menos, estimula outros a fazerem o mesmo, oficial ou extraoficialmente. De 2002 para cá, esta será a eleição mais difícil para o PT. Parte do desespero e da violência retórica que tomam conta do partido deriva daí.
Pior: a direção do partido, hoje, deve estar ouvindo menos um João Santana, que sabe que a estridência doidivanas atrapalha, do que um Franklin Martins, que continua com sangue nos olhos e ainda não desistiu de se vingar da demissão da Globo — daí a obsessão de controlar a mídia. Transformou em política uma questão pessoal.
Não sei se Dilma ganha ou perde; sei que não será fácil. E sei também que o PT está velho e não percebeu que o país mudou bastante nos últimos tempos. A velha guerra do “nós” contra “eles” encontra hoje uma população bem mais desconfiada, que já percebeu que, quando o partido fala “nós”, isso não a inclui. O “nós”, de fato, para o homem comum, soa cada vez mais como “eles”.
Arremato
Viram? Será que eles não gostam de mim porque espalho o “ódio”? Mentira!! Eles não gostam de mim porque escrevo textos como este.
Por Reinaldo Azevedo