04/03/2013 - ENTREVISTA
`Quero dar mais atenção à prevenção de homicídios´
Primeira mulher a assumir o comando do policiamento da capital, a coronel promete sair do gabinete e conhecer os problemas de Belo Horizonte de perto. Ela pretende manter um diálogo com a região metropolitana para impedir a ação de criminosos de forma mais eficaz.
Publicado no Jornal OTEMPO em 04/03/2013
FOTO: JOÃO MIRANDA
Diferenças. Policial aposta na sensibilidade feminina para o sucesso no novo cargo e promete diálogo com a comunidade
A senhora é a primeira mulher no comando do policiamento da capital. Quais características femininas a senhora acha que podem contribuir para o cargo?
A mulher tem mais sensibilidade que o homem, acredito que esse será o grande diferencial do meu comando. Não que o homem não tenha sensibilidade, mas a mulher tem um instinto maternal. Eu serei mais sensível aos problemas da sociedade. Em contrapartida, eu não tenho a força física que um homem tem.
A senhora acha que poderá sofrer algum preconceito nesse cargo?
Não, a mulher já está na polícia há mais de 30 anos. Eu já comandei na região metropolitana e nunca tive problema por ser mulher. Todos me respeitavam.
O que podemos esperar do comando da senhora?
Eu tenho uma característica muito visual. Gosto muito de ir para a rua e ver de perto os problemas. Eu vou conversar com o policial que trabalha na rua em determinado local para entender os problemas de cada região. Também vou conversar com a própria comunidade, para entender seus dilemas. É assim que eu vou trabalhar, sempre próxima aos problemas de segurança na cidade. No meu comando, quero que os belo-horizontinos vivam em uma cidade tranquila.
Quais serão os principais desafios da senhora?
O primeiro deles será entender a dinâmica de trabalho da segurança pública em Belo Horizonte. Eu venho de uma região onde eu comandava 22 municípios. Alguns deles tinham características de uma cidade grande, como Vespasiano, Santa Luzia e Lagoa Santa (todas na região metropolitana da capital), no entanto, havia outras cidades que eram mais parecidas com o interior. Agora, eu vim para comandar uma só cidade, mas é uma metrópole que, com certeza, demandará um trabalho muito diferente.
A senhora pretende intensificar o policiamento em alguma região da cidade em particular?
Não. Eu entendo que toda a cidade necessita de atenção de forma igualitária. Claro que se acontecer ou se identificarmos um problema pontual em uma determinada região, ela vai merecer uma atenção especial para solucionarmos os conflitos.
Atualmente, estamos tendo muitas explosões e roubos a caixas eletrônicos. O que poderá ser feito para coibir esses crimes?
Esse não é um problema só de Belo Horizonte, mas sim de todo o Brasil. Minas Gerais já tem várias estratégias para lidar com esse crime. É um trabalho conjunto que envolve as polícias Militar, Civil e Federal, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Exército. O Estado já está fazendo um mapeamento dos caixas arrombados para tentar entender a ação desses criminosos e tentar identificá-los. Outra ação é a ronda das viaturas na madrugada próxima a agências bancarias, porque, se bem me lembro, a maioria desses assaltos acontece durante a noite e a madrugada. Normalmente, onde há menos pessoas circulando. Esse trabalho vai continuar e é claro que vou estudar novas estratégias, mas esse é um trabalho que terá que ser feito em conjunto com esses outros órgãos, porque é um problema de segurança pública e não só da Polícia Militar, que tem um papel de prevenção.
E quanto aos assaltos a residências, um crime que também cresce na capital?
Como assumi agora, é difícil falar sobre um crime mais característico da capital. Vou ter que entender esse problema no tempo mais curto possível e, aí sim, poderei falar de estratégias para coibi-los.
Outro problema da capital é o crack, em especial no bairro Lagoinha. O que a senhora pretende fazer para minimizar os perigos que envolvem o vício? Esse também é um problema que conheço pouco. Pretendo ir até lá e ver o que será possível de fazer. Acredito que só indo a campo e reconhecendo o problema poderemos solucioná-los.
A senhora acredita que há certos tipos de crimes mais praticados em determinadas regiões?
O indivíduo não enxerga fronteira e pratica o crime na oportunidade. Portanto, é preciso que os nove batalhões da cidade trabalhem de forma integrada. De fato, quero dar mais atenção à prevenção de homicídios, já que esse crime envolve vida. Esse é o bem mais precioso que temos.
A região metropolitana tem influência nos crimes da capital?
Sim. Exatamente pelo fato de os criminosos não enxergarem fronteiras. Eles simplesmente agem. Eu pretendo trabalhar de forma integrada com os comandantes das outras cidades da região metropolitana. Manter esse diálogo é muito importante.
A polícia está tendo uma série de desentendimentos com a comunidade do aglomerado da Serra. O que a senhora pretende fazer para solucionar esse problema?
O governo do Estado, junto com as polícias Militares e Civil, o Ministério Público e o Judiciário está trabalhando estratégias de atuação no aglomerado. Eu vou me inserir e dar continuidade a esse trabalho. Mas é claro que se julgar necessário, vou trazer novidades e sugerir formas de trabalho.
O que a cidade terá de especial no que diz respeito ao policiamento para as copas das Confederações e do Mundo?
Eu e outros comandantes das polícias Militar e Civil teremos uma reunião nos próximos dias para definir quais ações especiais serão feitas e, em um momento oportuno, faremos a divulgação.
(Natália Oliveira)