07 /11/ 2012 - Juiz de Fora
Por Guilherme Arêas e Sandra Zanella
Base que recebeu câmeras foi reformada e equipada pela comunidade e pelos próprios policiais
A adoção de aparatos tecnológicos pelas forças de segurança pública é considerada um caminho sem volta diante do avanço da criminalidade. Em Juiz de Fora, embora as polícias ainda careçam de recursos estruturais básicos e humanos, iniciativas pontuais de investimento em tecnologia têm dado algum resultado. Uma das apostas é a instalação de câmeras que auxiliam no patrulhamento preventivo, no atendimento mais ágil após um evento criminal e na elucidação dos casos na fase de investigação. No ano que vem, por meio do programa estadual "Olho vivo", a cidade receberá 58 câmeras no Centro e em bairros comerciais. A expectativa é reduzir em até 30% os crimes, especialmente contra o patrimônio, seguindo exemplo do que ocorreu nos 570 ônibus urbanos, hoje 100% monitorados. O resultado nos coletivos foi a queda dos roubos a mão armada: 61 casos em 2010, 16 em 2011 e seis entre janeiro e agosto de 2012.
No posto da Polícia Militar no Grama, região Nordeste, das quatro câmeras instaladas há cerca de 20 dias, uma tem alcance 360 graus e é dotada de "visão" noturna que detecta radiação infravermelha. Com zoom que aproxima a imagem em até 25 vezes, o equipamento permite visualizar e identificar facilmente placas de veículos e rostos de suspeitos. A tecnologia torna possível ainda que um policial militar monitore as imagens, em tempo real, do seu próprio celular. As gravações são armazenadas por 45 dias em um HD de um terabyte, equivalente a pouco mais de mil gigabytes.
O custo de implantação do sistema girou em torno de R$ 6 mil, financiados por comerciantes do bairro, que também custearam a reforma do posto policial, feita pelos próprios militares. "Na questão da segurança pública, não podemos desconsiderar a parte tecnológica. Com a instalação das câmeras, já conseguimos resultados positivos, principalmente na praça do bairro, que era alvo constante de brigas de gangues e do uso e tráfico de drogas", comenta o comandante da 31ª Companhia da PM, tenente Alexandre Barbosa Antunes.
Antes de o videomonitoramento finalmente se tornar uma estratégia oficial de segurança pública, as câmeras já se alastram pela cidade. Apenas na UFJF, são 212 dispositivos, além de 600 espalhadas pelas agências bancárias e 366 nos três principais shoppings do município. Nos 12 edifícios de salas comerciais da Avenida Rio Branco, entre a Itamar Franco e a Rua Halfeld, são mais 454 "olhos eletrônicos".
"A tecnologia é muito importante, desde os trâmites administrativos até a execução do serviço operacional da Polícia Militar", avalia o assessor de Emprego Operacional da 4ª Região da PM, Major Alexandre Nocelli. Os dados estatísticos que servem de base para o trabalho de prevenção, por exemplo, são originados em softwares. Outros programas mostram na tela do computador onde há maior incidência criminal, o que auxilia na repressão a determinado crime em uma área específica. Em breve, a PM pretende ainda cruzar essas informações com o geoprocessamento da Prefeitura e criar um banco de dados que vai permitir à polícia atuar em áreas com maior número de famílias em vulnerabilidade social.
Tornozeleiras eletrônicas
Por parte da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a tecnologia vai permitir maior controle dos detentos do sistema prisional. Nos próximos cinco anos, a pasta pretende implantar tornozeleiras eletrônicas em quase quatro mil presos da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Parte dos equipamentos será utilizada também para monitoramento de agressores enquadrados na Lei Maria da Penha, para que eles não se aproximem das vítimas. Ainda não há previsão para que o dispositivo seja usado em detentos em Juiz de Fora.
Descontinuidade anula tecnologia
Utilizada desde a década de 1990 na estrutura das polícias no Brasil, a tecnologia enfrenta, como uma das principais dificuldades no país, segundo o especialista em computação aplicada ao contexto da segurança pública Vasco Furtado, a descontinuidade de políticas públicas para o setor. "Os processos e métodos deveriam ser institucionais e acima de mudanças políticas. Mas isso não ocorre no Brasil, onde a segurança pública muda a bel-prazer de cada governante. E isso não há tecnologia que resista", disse durante recente encontro que discutiu em São Paulo a tecnologia da informação aplicada à segurança pública. Doutor em Inteligência Artificial e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Vasco diz ser perigoso o entusiasmo de achar que a tecnologia será a salvadora da pátria de governos estaduais. Segundo ele, a aplicação das tecnologias da informação (TICs) na redução da criminalidade ainda tem baixo impacto no Brasil.
"A informação mínima que se pode querer quando se trabalha com tecnologia é saber o quanto ocorreu de crime. Mas nós continuamos só contando crimes e contando mal. A informação refinada e as ações que deveriam ser tomadas em relação ao uso da informação não existe ou existe em pouco número", declarou Vasco no encontro em São Paulo.
Perícia terá novos equipamentos
O uso da tecnologia em favor da segurança pública também será aprimorado na Polícia Civil após a criação do Posto de Perícias Integradas (PPI), no valor de R$ 3,2 milhões. Novos equipamentos deverão agilizar exames periciais e de necropsia e auxiliar de forma mais eficiente a elucidação de crimes, principalmente aqueles contra a pessoa, como os homicídios. "Com uma sede maior e recursos vamos atender melhor a todo o 4º Departamento (de Polícia Civil)", avaliou o chefe da seção técnica regional de criminalística, Sérgio Bellas de Romariz. Segundo ele, o prédio será equipado para prestação de todo o serviço de química, usado, por exemplo, na constatação de drogas, comprimidos e produtos envenenados. No caso de apreensões de materiais ilícitos, o exame definitivo é exigência para a confirmação do flagrante. Ainda antes da inauguração do PPI, a perícia deverá contar com um cromatógrafo a gás, aparelho capaz de identificar todos os componentes químicos de um material.
A expectativa é de que o setor de papiloscopia, que pode ser usado no levantamento de impressões digitais, seja aprimorado, mas o uso da tecnologia de forma mais proveitosa depende da criação de um banco nacional de digitais. Equipamentos mais rápidos e precisos ainda vão auxiliar a documentoscopia, feita para atestar ou não a autenticidade de documentos. Outra novidade é relacionada ao setor de engenharia legal. Com o PPI, a expectativa é de que haja materiais e pessoal para atuarem em casos de desastres, como deslizamentos de terra, desmoronamentos e incêndios. "Vamos poder atender a situações de média a alta complexidade, principalmente nos setores de química e balística, que serão todos feitos aqui. Mas o setor de biologia, como exames de DNA, vai continuar em BH, porque depende de equipamentos mais sofisticados", observou Sérgio.
Na previsão, também estão um setor de áudio e vídeo, usado, por exemplo, na transcrição de filmagens de cenas de crimes. Já o exame metalográfico, para identificação de motor e chassis de veículos furtados ou adulterados, vai contar com espaço adequado, com direito à rampa para suspensão dos materiais analisados. "Todos os laboratórios serão úteis na elucidação de crimes e vão facilitar o trabalho de campo, pois haverá suporte", analisou o chefe da seção técnica. Ele espera que com o PPI também seja aumentado o quadro de peritos, que hoje conta com 18 profissionais.