ANA PAULA PEDROSA
FOTO: MISTER COLIBRI
O tão esperado e-commerce do site Mister Colibri pode não passar de um golpe. O sistema, que foi lançado recentemente, vem despertando dúvidas de associados que tentaram comprar por ele. Primeiro, pelo número reduzido de produtos - apenas quatro modelos de relógio, segundo associados que procuraram O TEMPO para contar sobre o sistema - segundo, porque os boletos são emitidos em nome de terceiros, sem ligação aparente com a empresa. Um dos associados, chegou a emitir os boletos, mas não fez o pagamento. "Eu ia perder mais dinheiro", diz ele, um empresário pernambucano que preferiu não se identificar.
Ele pretendia comprar um relógio que custa R$ 500 no mercado, mas está à venda na loja virtual do Mister Colibri por R$ 400. "Escolhi o produto, cliquei e fui informado de que a única forma de pagamento disponível era boleto bancário. Nesse momento, começou o "jogo dos 7 erros", descreveu ele. Segundo esse associado, o cedente do boleto é uma "lojinha fuleira" de confecções do interior do Rio de Janeiro e a agência do cedente fica na capital fluminense, apesar de as operações do Mister Colibri serem concentradas em Fortaleza (CE).
"Esse e-commerce é uma forma de tentar mascarar o golpe, mas os remendos não dão conta de tapar os buracos dessa colcha de retalhos que é o Mister Colibri", diz o delegado da Polícia Federal em Juiz de Fora, Humberto de Marttos Brandão. Ele é o responsável pela investigação do Mister Colibri, mas não recebeu nenhuma queixa contra o e-commerce.
No grupo "Mister Colibri - Reclame Aqui", criado no Facebook, muitos associados reclamam da política pouco transparente da empresa. "Relógios do Paraguai, sem marca, intermediado para um quiosque existente no subúrbio do Rio de Janeiro", escreveu um deles. Outro, ao comentar sobre a empresa que emite os boletos, escreveu: "vamos fazer de conta que tá tudo certo".
Importação. Um outro associado reproduziu uma "nota oficial" que teria sido postada no perfil do Facebook de Gian Piero Di Cillo, fundador da empresa. "Alguém achou estranho que para alguns produtos o sistema gera (através dos softwares das prefeituras) notas fiscais de empresas diferentes. No e-commerce isso é chamado de DROP SHIPPING (vender para outros). A Mister Colibri vendendo seus próprios produtos vai emitir a própria nota fiscal, se oferece o serviço para empresas externas, claramente a nota fiscal deve ser da empresa que oferece os produtos, por esse motivo, teremos sempre produtos com diferentes promoções e formas de pagamento. Sempre falamos que iremos ter empresas parceiras brasileiras, agora que temos, estão achando estranho porquê?", diz o texto.
Segundo a Receita Federeal, o drop shipping é um sistema de importação direta, que é legal entre pessoas físicas e com a declaração de todos os impostos. Quando usada por empresas, a prática é ilegal e a mercadoria pode ser apreendida.
"Colibriano" reclama de tablet não entregue
Antes da venda dos relógios, uma promessa de receber tablet seduziu muitos ‘colibrianos’ pelo Brasil. De acordo com um associado que pediu para não ser identificado, há alguns meses o Mister Colibri prometeu um tablet para quem indicasse novos associados ou comprasse 15 cotas. O valor da cota para esta ação era promocional, R$ 75 cada. "Muita gente comprou as 15 cotas para ver se conseguia receber o tablet e diminuir o prejuízo", diz o associado.
De acordo com ele, o modelo prometido não era top de linha e custaria, no mercado comum, menos do que os R$ 1.125 referentes às 15 cotas necessárias para recebê-lo. "Era um tablet ‘xing-ling’ e, mesmo assim, ninguém recebeu", diz.
No grupo criado para reclamar do Mister Colibri no Facebook, outros associados se queixam de não terem recebido o tablet. "Cadê as promessas feitas? Cadê os produtos baratos com a marca da empresa Mister
Colibri? Cadê os tabletes que não chegam?", escreveu um associado.
Uma outra, comentando sobre os tablets, disse: "está previsto para daqui a umas dez semanas santas, isso se suas orações forem feitas com muita fé...".
Os associados também reclamam de não conseguirem usar suas "LP", a moeda virtual criada pelo Mister Colibri.
A Polícia Federal já pediu a quebra de sigilo bancário dos responsáveis pela empresa, mas, segundo o delegado Humberto Brandão, ainda aguarda resposta. (APP)