Por Guilherme Macedo — de Belo Horizonte
04/02/2024 04h00
O Cruzeiro não brilhou, mas foi soberano e mereceu vencer o Atlético-MG. Com atuação segura, construiu a vitória por 2 a 0 na Arena MRV, colocando mais um tijolo na construção inicial do time de Nicolás Larcamón.
O Atlético-MG chegou para o jogo como favorito. Tem um trabalho mais longevo com Felipão e mais material humano à disposição para colocar em campo. O Cruzeiro ainda não tem sequer um elenco completamente definido e estava apenas no terceiro jogo com o novo treinador. Favoritismo em tese, mas a prática foi diferente.
Larcamón fez o básico na escalação. Colocou João Marcelo na vaga de Neris, promoveu a reestreia de Lucas Romero e manteve o esquema com três atacantes, mesmo ciente da possibilidade de pressão adversária pelo meio-campo, com Otávio, Edenilson, Zaracho e Scarpa - ainda que os dois últimos aparecessem também pelos lados.
O início de jogo foi complicado. O Cruzeiro não conseguiu manter a posse, e o Atlético transitou bem a bola entre os homens de frente, especialmente utilizando as espetadas com Hulk (na direita) e Guilherme Arana (na esquerda). Em uma transição rápida, Cabral evitou o gol de Paulinho, que abriria o placar aos 15 minutos. O lance virou a chave celeste na partida. Foi a bola do jogo.
O Cruzeiro foi crescendo aos poucos, principalmente nos ajustes defensivos, com João Marcelo, Zé Ivaldo e Marlon soberanos em posicionamentos e também nos duelos individuais. Seguro na defesa, faltava o Cruzeiro ajustar o setor ofensivo. Assim foi até o segundo tempo.
O time celeste era mais compacto que o rival. Por isso, conseguia dobrar a marcação sobre as principais peças atleticanas. Scarpa, Paulinho e Hulk tinham dificuldades de se encontrar. Graças às peças da linha de defesa e também aos demais jogadores.
Cruzeiro vence o Atlético-MG — Foto: Cruzeiro
Romero e Lucas Silva se encaixaram bem na proteção da área, enquanto Matheus Pereira, Arthur Gomes (depois Japa) e Robert (depois João Pedro) foram fundamentais nas recomposições pelo meio e também pelos corredores do campo.
Ofensivamente, o Cruzeiro tinha boas movimentações, mas com dificuldades para ter conexões capazes de gerar chances claras de gol. No primeiro tempo, Matheus Pereira e Arthur Gomes assustaram em chutes da entrada da área. No segundo, que estava morno para os dois lados, Zé Ivaldo e João Pedro definiram o jogo.
Se o gol de Zé Ivaldo foi de um lance de sorte, com erro de Guilherme Arana na saída da área, o de João Pedro nasceu do planejamento que Larcamón tinha feito minutos antes. Queria ganhar mais combates pelo meio e ter a chance de explorar a velocidade. Desta forma, Ian Luccas quase havia aberto o placar. E, também assim, João Pedro matou o rival.
— Foto: Gilson Lobo/AGIF
O Cruzeiro havia enfrentado diversos problemas defensivos nas duas primeiras rodadas do Mineiro, especialmente pela falta de proteção à linha de defesa. Era um receio diante do Atlético-MG, que está entre os principais poderios ofensivos do país. Mas Larcamón conseguiu fazer ajustes que servem como parte da construção do time para a sequência do ano.
O primeiro deles diz respeito a peças individuais. Lucas Romero mostrou, na prática, o que já se projetava: é o único "primeiro volante" do elenco. Pela dinâmica sem a bola, facilita a proteção da zaga e ajuda no crescimento do companheiro - Lucas Silva fez o melhor jogo deste início de ano.
João Pedro Cruzeiro — Foto: Gilson Lobo/AGIF
João Marcelo e Zé Ivaldo também tiveram bom encaixe como dupla de zaga. O estilo de jogo proposto por Larcamón, com muitos jogadores próximos da bola, exige zagueiros de mais velocidade, que possam fazer coberturas pelos lados quando há a perda de posse no campo ofensivo. Os dois foram irretocáveis nessas bolas durante o duelo da Arena MRV. Atuações perto da perfeição.
O clássico também conta com o componente da concentração. É natural que jogos desse quilate façam com que os jogadores entrem mais concentrados do que em compromissos diante de equipes menores. O desafio de Larcamón é fazer com que essa diferença seja um pouco menor, até para que os ajustes coletivos sejam feitos em todos os duelos do Mineiro. E, claro, que a vitória não suba à cabeça do elenco.
O primeiro clássico do ano não serve como balizador para o restante da temporada, mas ajuda a aumentar a confiança interna no trabalho que está sendo iniciado. O jogo deu sinais a Nicolás Larcamón, que ainda terá um elenco bem mais forte à disposição no decorrer das próximas semanas. Na Arena MRV, o Cruzeiro deu mais um passo rumo à construção do time, o que ainda levará tempo para se concluir.
https://ge.globo.com/futebol/times/cruzeiro/noticia/2024/02/04/analise-cruzeiro-vence-classico-com-seguranca-e-empilha-tijolo-na-construcao-do-time-de-larcamon.ghtml
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