quarta-feira, 31 de maio de 2023

Juiz de Fora comemora 173 anos e monumento do centenário completa mais um ano de abandono

Por Fellype Alberto, g1 Zona da Mata — Juiz de Fora

31/05/2023 14h13 
Marco Comemorativo do Centenário de Juiz de Fora segue em situação de completo abandono — Foto: Fellype Alberto/g1

Juiz de Fora comemora nesta quarta-feira (31) 173 anos, mas paralelo à celebração do aniversário, o Marco Comemorativo do Centenário da cidade, localizado na Praça da República, no Bairro Poço Rico, completa mais um ano em situação de abandono.

O painel, que é o primeiro mosaico modernista em praça pública do Brasil, do artista Di Cavalcanti, está completamente descaracterizado e com a placa de inauguração destruída.

O g1 esteve no local na última semana e identificou a falta de conservação e manutenção no monumento.
Placa de inauguração do Marco Comemorativo do Centenário de Juiz de Fora está destruída — Foto: Fellype Alberto/g1


Ao g1, a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural de Juiz de Fora afirmou tem sido informada pela Funalfa, por meio de ofício, que o Marco do Centenário foi parcialmente deteriorado devido a uma fogueira feita rente ao monumento, possivelmente por pessoas em situação de rua, durante o inverno de 2020.

“As chamas danificaram significativamente o painel de Di Cavalcanti, que já se encontrava com sérias avarias devido à ação do tempo e do clima”.

De acordo com o MPMG, o dano ao patrimônio público está sendo investigado em processo que tramita perante a 3ª Vara Criminal, porém sem indícios consistentes de autoria, em razão da ausência de câmeras ou guarda constante no local.

Em relação às decisões judiciais de 2014, as obrigações inicialmente fixadas ao Município/Funalfa foram: promover a limpeza do local; apresentar projeto de restauração do Marco do Centenário; e apresentar projeto de requalificação da Praça da República.

Nos autos do processo constam que houve certo impasse quanto à aprovação do projeto, mas em julho de 2022 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) se manifestou favorável à requalificação da Praça da República e restava pendentes, àquela data, apenas o encaminhamento das três vias físicas do projeto, assinadas por responsável técnico, o que deveria ser feito pelo Município e responsáveis técnicos.

“O Ministério Público apresentou impugnação à contestação apresentada pelo Município nos autos da Ação Civil Pública, requerendo informações sobre o início da execução dos projetos os quais incluem a efetiva restauração do monumento e a requalificação da Praça da República”.

À reportagem, o MPMG reiterou o compromisso de atuação na Defesa Meio do Ambiente, Habitação e Urbanismo, Patrimônio Histórico e Cultural e afirmou que aguarda informações atualizadas por parte da Administração Pública Municipal. O g1 também contatou o Executivo, sem retorno.
Marco Comemorativo do Centenário de Juiz de Fora — Foto: Fellype Alberto/g1

Monumento sem manutenção causa transtorno para vizinhos

Comerciantes localizados no entorno da Praça da República relataram à reportagem que o monumento é constantemente utilizado por usuários de droga e, por vezes, é usado como dormitório por moradores em situação de rua.

“Não tem limpeza, não tem manutenção e nem fiscalização! É um abandono completo e a gente fica com medo”, relatou José Oliveira.

Apesar de ser patrimônio tombado pelo município e pela União, o monumento modernista encontra-se em precário estado de conservação, apresentando pichações, perda do revestimento de pastilhas, infiltrações e acúmulo de lixo no entorno.
Marco Comemorativo do Centenário com painel destruído, lixo e fezes. — Foto: Fellype Alberto/g1

Patrimônio Cultural
Juiz de Fora conta com 172 bens culturais tombados, 5 acervos documentais relativos às atividades da Câmara Municipal, do Fórum, do Cartório Maninho Farias e do Acervo Cinematográfico de João Gonçalves Carriço, além de sete registros de bens imateriais.

O Marco Comemorativo do Centenário da cidade é um dos três bens tombados em nível federal. Além dele, estão o Cine-Theatro Central e o acervo do Museu Mariano Procópio.

Cine-Theatro Central em Juiz de Fora — Foto: Fellype Alberto/g1

Em nível estadual, são tombados na cidade o Museu do Crédito Real e seu acervo e os três conjuntos paisagísticos: parque, edificações e acervo do Museu Mariano Procópio.

Também são tombados o conjunto arquitetônico, paisagístico e acervo da Usina de Marmelos Zero e das antigas estações da Central do Brasil e da Leopoldina, plataforma entre as estações, passarela sobre a linha férrea e o acervo do atual Museu Ferroviário de Juiz de Fora.

Visitas guiadas ao Museu Ferroviário em Juiz de Fora — Foto: Gil Velloso/Funalfa


Arquitetura histórica
Pelas ruas de Juiz de Fora é possível experimentar experiências e desfrutar de uma arquitetura rica, com casarões e construções centenárias, que guardam memórias da história da cidade. Além disso, trazem consigo diversas manifestações artísticas. Conheça alguns pontos marcantes abaixo:

Palacete Santa Mafalda
O prédio fica na esquina entre a Rua Braz Bernardino e a Avenida Barão do Rio Branco. Ele foi construído no final da década de 1850 pelo Comendador Manoel do Vale Amado, rico proprietário rural que desejava homenagear Dom Pedro II em sua primeira visita a Juiz de Fora.

Ao chegar à cidade, em 1861, para a inauguração da Companhia União Indústria, o imperador utilizou o casarão, todo ornamentado com mobiliário importado de Paris, para a assinatura de importantes documentos e cerimônias. Ele recusou o presente do comendador e alegou que só aceitaria se ele fosse doado ao estado para abrigar uma escola ou obra de caridade.

Anos depois, em 1907 a construção passou a abrigar o Primeiro Grupo Escolar e assim sucessivamente até a Escola Estadual Delfim Moreira. Em 2013 o Palacete foi fechado à espera de reforma que começou apenas em 2018 e foi reinaugurada em março deste ano.

Palacete Santa Mafalda — Foto: Fellype Alberto/g1

Castelinho da Cemig
O antigo edifício da Companhia Mineira de Eletricidade, chamado "Castelinho", foi construído em 1890 para a inauguração do motor elétrico que iria ser colocado na fábrica da Cia. Têxtil Bernardo Mascarenhas como força propulsora.

A edificação tem dois pavimentos e apresenta traços da arquitetura medieval, além de um aspecto de casa fortificada através de características como tijolos à mostra e imitação de aparelho irregular de pedras.

O Espaço abriga atualmente uma agência de atendimento da Cemig e fica na Rua Espírito Santo, 467, Centro.
Castelinho CEMIG — Foto: Reprodução/TV Integração

Cine-Theatro Central
O Cine-Theatro Central é tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e combina características de arquitetura clássica, em seu interior, com influências eclética e art déco na fachada.

Construído pela Companhia Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri e inaugurado em 30 de março de 1929, o teatro foi projetado para apresentações cênicas, óperas, orquestras e balé e integrou o circuito comercial de cinema até o início da década de 1990 como uma das principais salas de projeção da cidade.

O Cine-Theatro Central foi adquirido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1994, restaurado e reinaugurado em 1996.
Cine-Theatro Central em Juiz de Fora — Foto: Cine-Theatro Central/Divulgação

Museu do Crédito Real
O museu foi inaugurado em 1964 com o objetivo de preservar e difundir a história do Banco de Crédito Real. A edificação, que fica na esquina entre o Calçadão da Rua Halfeld e a Avenida Getúlio Vargas, foi construída entre os anos 1929 e 1931 e teve tombamento aprovado em 2005.

O museu conta a história do cenário bancário desde o período colonial até a atualidade, com um acervo de aproximadamente 1.000 objetos, entre eles maquinários, objetos de escritório.

O local abriga também 10.000 fotografias, filmes e livros, cédulas e moedas da época do Brasil Colônia à atualidade e também de outros países.
Museu do Crédito Real em Juiz de Fora — Foto: Fellype Alberto/g1

Museu Mariano Procópio
Projetada pelo arquiteto alemão Carlos Augusto Gambs, a “Villa” – casa de campo da família Ferreira Lage foi concluída em 1863. A edificação conta com arquitetura de caráter sóbrio e elegante, com referências do renascimento italiano.

O Parque ao redor apresenta o conceito de multiplicidade utilizado no século XIX. Os jardins do parque são de autoria do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, de inspiração inglesa.

Alfredo Ferreira Lage herdou a Villa transformando-a em museu particular em 1915, sendo inaugurado oficialmente em 13 de maio de 1922. Em 1936, Alfredo Ferreira Lage doou todo o conjunto incluindo o museu ao município de Juiz de Fora.
Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora — Foto: Fellype Alberto/g1

“As Quatro Estações”
O painel de 1956, mede 4,48 m de altura por 7,95 m de largura, e fica localizado no Edifício Clube Juiz de Fora situado na esquina da Avenida Barão Rio Branco e o calçadão da Rua Halfeld, no centro da cidade.

Produzido por Cândido Portinari, com colaboração de José Moraes e Paulo Fonseca (especialistas em mosaicos), e executado pela empresa Osiarte, de São Paulo, foi instalado na fachada do edifício após ser encomendado pela Associação Civil Clube Juiz de Fora.

A obra expressa uma dinâmica na composição em que as formas abstratas e curvilíneas se transpassam, criando um movimento possível de interpretação como a mudança das estações.
Painel “As Quatro Estações” Candido Portinari ; Edifício Clube Juiz de Fora — Foto: Prefeitura de Juiz de Fora/Divulgação

“Cavalos”
Na fachada lateral do mesmo prédio há outro painel também de Portinari. Um mosaico em pastilha cerâmica que ocupa os 10 andares, formando um conjunto de pequenos murais, cada um medindo 0,96 cm de altura por 1,63 metro, reproduzindo o vai-e-vem das pessoas em uma das principais ruas da cidade
Cavalinhos ; Edifício Clube Juiz de Fora ; Portinari ; patrimônio ; Halfeld — Foto: Fellype Alberto/g1

https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2023/05/31/juiz-de-fora-comemora-173-anos-e-monumento-do-centenario-completa-mais-um-ano-de-abandono.ghtml

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