segunda-feira, 7 de junho de 2021

Megaempresários enfim percebem que o capitalismo precisa entrar em nova fase, mais humana

 Publicado em 7 de junho de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Eneko (Arquivo Google)

Matthew Wilburn King
BBC Future

Quase 250 anos atrás, o economista e filósofo Adam Smith escreveu o livro A Riqueza das Nações, em que descreveu o nascimento de uma nova forma de atividade humana: o capitalismo industrial. Porém, ele e seus contemporâneos não imaginavam o quanto o novo sistema criaria um acúmulo de riqueza em poucas mãos.

O capitalismo alimentou as revoluções industrial e tecnológica, remodelou o mundo e transformou o papel do Estado em relação à sociedade.

PONTOS NEGATIVOS – Ele tirou inúmeras pessoas da pobreza nos últimos dois séculos, aumentou significativamente os padrões de vida e levou ao desenvolvimento de inovações que melhoraram radicalmente o bem-estar humano, além de tornar possível a ida à Lua e a leitura deste artigo de opinião.

No entanto, a história do capitalismo não é totalmente positiva. Nos últimos anos, as deficiências do sistema se tornaram cada vez mais evidentes.

Priorizar ganhos de curto prazo para as pessoas às vezes fez com que o bem-estar de longo prazo da sociedade e do meio ambiente fosse jogado fora, especialmente porque o mundo está lutando ao mesmo tempo contra uma pandemia de coronavírus e as mudanças climáticas.

QUAL É O FUTURO – Nos últimos anos, várias ideias e propostas surgiram com o objetivo de reescrever o contrato social do capitalismo. Há o modelo dos “cinco capitais”, articulado por Jonathan Porritt, autor de “Capitalism As If The World Matters”.

Porritt pede a integração de cinco pilares do capital humano: natural, humano, social, manufaturado e financeiro, nos modelos econômicos existentes. Um exemplo tangível de onde as empresas estão começando a abraçar “os cinco capitais” é o movimento B-Corporation. As companhias certificadas cumprem a obrigação legal de considerar “o impacto de suas decisões sobre seus trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidade e meio ambiente”.

Suas fileiras agora incluem grandes corporações como Danone, Patagonia e Ben & Jerry’s (que é propriedade da Unilever).

MUNDO E MEIO AMBIENTE – Essa abordagem se tornou cada vez mais comum, refletida em uma declaração de 2019 divulgada por mais de 180 CEOs corporativos, redefinindo “o propósito de uma corporação”.

Pela primeira vez, os CEOs que representam o Wal-Mart, Apple, JP Morgan Chase, Pepsi e outros reconheceram que devem redefinir o papel dos negócios em relação à sociedade e ao meio ambiente.

Sua declaração propõe que as empresas devem fazer mais do que oferecer benefícios aos seus acionistas. lém disso, devem investir em seus funcionários e contribuir para a valorização dos elementos humanos, naturais e sociais do capital a que Porritt se refere em seu modelo, ao invés de focar apenas no capital financeiro.

LUCROS EXCESSIVOS – Em uma entrevista recente ao Yahoo Finance sobre o futuro do capitalismo, o CEO da Best Buy, Hubert Joly, disse que “o que aconteceu é que por 30 anos, da década de 1980 a 10 anos atrás, tivemos essa abordagem única sobre os lucros excessivos. Isso causou muitos desses problemas. Precisamos afrouxar esse modelo. Se tivermos uma refundação de negócios, também pode ser uma refundação do capitalismo… Eu acho que isso pode ser feito, tem que ser feito.”

Mais de três décadas atrás, a Comissão Brundtland das Nações Unidas escreveu no documento “Nosso Futuro Comum” que havia ampla evidência de que os impactos sociais e ambientais são relevantes e devem ser incorporados aos modelos de desenvolvimento.

MAIS INCLUSIVO – Ora, é óbvio que essas questões também devem ser consideradas dentro do contrato social que sustenta o capitalismo, para que ele seja mais inclusivo, holístico e integrado aos valores humanos básicos.

Coletivamente, eles podem apoiar empresas alinhadas com suas crenças e exigir continuamente novas leis e políticas que transformem o cenário competitivo das empresas para que possam aprimorar suas práticas.

Quando Adam Smith observava o nascente capitalismo industrial, em 1776, ele não podia prever o quanto ele transformaria nossas sociedades hoje. Portanto, era aceitável sermos tão cegos quanto ao que o capitalismo se transformaria. No entanto, isso não significa que não devamos nos perguntar como ele pode evoluir para algo melhor no curto prazo. O futuro do nosso planeta depende disso.
Publicado em Geral http://www.tribunadainternet.com.br/megaempresarios-enfim-percebem-que-o-capitalismo-precisa-entrar-em-nova-fase-mais-humana/

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