JUIZ DE FORA - 31/5/2021 - 10:14
A websérie “A Peça da Semana”, promovida pela Fundação Museu Mariano Procópio (Mapro), por meio da Prefeitura de Juiz de Fora, apresenta o livro intitulado “História do Brasil pelo método confuso”, de autoria de Mendes Fradique (pseudônimo de José Madeira de Freitas). O exemplar integra a coleção bibliográfica de Alfredo Ferreira Lage (1865-1944), fundador da instituição. A partir desta segunda-feira, dia 31, é possível conferir fotos da obra no Instagram @museumarianoprocopio e no Facebook.
O exemplar disponível na Biblioteca do Museu é a quarta edição da obra, realizada no Rio de Janeiro pela Livraria Leite Ribeiro, em 1922. Antes de se tornar livro, porém, essa produção já havia alcançado grande sucesso na revista carioca D. Quixote, fundada em 1917 pelo humorista Bastos Tigre. Publicada primeiramente em folhetim, a obra de humor apresenta ao público uma paródia da história oficial brasileira, dessacralizando os manuais de história do Brasil e as narrativas cívico-nacionais, difundidas por escritores como Rocha Pombo, Afonso Celso, dentre outros.
No livro, D. João VI é chamado “D. João Cesto”, fazendo alusão à sua fama de “comilão” e “glutão”. D. Pedro I é representado como um menino de calça curta. E Pedro Álvares Cabral passeia de automóvel pelas ruas brasileiras. A obra, portanto, apresenta uma série de deslocamentos temporais e espaciais, bem como diálogos com os hábitos banais do cotidiano, para produzir efeitos de humor através dos personagens “célebres” da história.
Considerando que o auge de circulação dessa obra ocorreu no início do século XX, vale destacar que muitas das sátiras nela veiculadas estavam na contramão das representações nacionais construídas por ocasião dos eventos oficiais de celebração do Centenário da Independência do Brasil, em 1922. A exemplo de diversos periódicos humorísticos em circulação nessa época, o tom do discurso era de crítica ao “Brasil imaginário”, que, para se sobrepor ao “Brasil real”, apresentava um “simulacro” de modernidade e cosmopolitismo. Uma imagem baseada no lema positivista da bandeira nacional (“Ordem e Progresso”) e nos preceitos civilizatórios europeizantes, mas que não se sustentava diante dos contrastes sociais, das desigualdades e das mazelas políticas que nos assolavam.
José Madeira de Freitas, nascido em 1893 e falecido em 1944, era natural do Espírito Santo. O escritor chegou ao Rio de Janeiro para cursar medicina em 1910, profissão que exerceu ao lado de suas facetas artísticas. Estabelecido em terras cariocas, residiu em pensão na Lapa. Foi apresentado às rodas literárias pelo famoso humorista Emílio de Meneses, na Confeitaria Colombo, hoje considerado um dos maiores pontos de atração turística do Rio de Janeiro. Com forte inclinação para o desenho, vivenciou o “período de ouro dos caricaturistas”, chegando a desenhar diversas caricaturas para periódicos da capital.
O pseudônimo Mendes Fradique, que é uma inversão do nome de um dos mais conhecidos personagens de Eça de Queirós, o Fradique Mendes, que alçou Freitas ao status de celebridade nas revistas humorísticas, tendo com ele assinado diversos textos.
Não obstante a irreverência e o humor de sua produção, muitos especialistas consideram seu perfil intelectual conservador. Suas sátiras se voltam contra diversos aspectos da modernidade e manifestações culturais, como o maxixe e os movimentos de vanguarda artística, como o cubismo e o expressionismo, por exemplo, considerados por ele expressões da “degeneração humana”.
É atribuída a Freitas a autoria da frase “país da piada pronta”, imortalizada no imaginário brasileiro, para se referir à tênue relação entre realidade e humor em nossa sociedade. Para argumentar a respeito, utilizou vários exemplos, como o pitoresco caso envolvendo a construção de uma grande avenida no Rio de Janeiro, na qual o único prédio que ruiu por erro técnico foi o do Clube de Engenharia.
No final da década de 1920, Freitas simpatiza-se com as ideias integralistas, tornando-se um ativista desse movimento conservador de extrema-direita, que arregimentou enorme contingente de brasileiros ao longo da década de 1930. Na medida em que se arraigava a essa ideologia, o pseudônimo Mendes Fradique foi sendo gradualmente deixado de lado, vindo a prevalecer seu nome de batismo, José Madeira de Freitas.
https://www.pjf.mg.gov.br/noticias/view.php?modo=link2&idnoticia2=71107
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