Publicado em 4 de janeiro de 2021 por Tribuna da Internet
O número de mortes por Covid-19 em dezembro de 2020 foi quase 65% maior do que o registrado em novembro pelo Ministério da Saúde. Desde a virada entre junho e julho, os registros vinham caindo mês a mês no país, mas, agora, novamente eles aumentam: novembro teve um acumulado de 13.236 óbitos, enquanto dezembro contabilizou 21.829, o maior número desde setembro.
Para o físico Roberto Kraenkel, um dos membros do Observatório Covid-19 BR, que acompanha os dados da pandemia desde o começo, o cenário não é uma surpresa, já que pesquisadores notam tendência de aumento caso desde outubro.
ATUAL ESCALADA – O pior cenário, na perspectiva dele, seria continuar na atual escalada nos próximos meses, enquanto a vacinação no Brasil não tem data para chegar à maioria da população.
“A gente precisa chegar bem até o ponto em que vai haver vacinação, mas não é isso que está acontecendo. Em alguma hora, as pessoas foram relaxando o isolamento e relaxaram a tal ponto que (os óbitos) estão subindo de novo. Uma das dificuldades que os governos têm, não só no Brasil, é tomar atitudes rapidamente. Faz dois meses que os casos crescem e, agora, em janeiro, vai ter gente dizendo que é preciso fazer alguma coisa”, pontua.
Kraenkel prefere não falar em segunda onda da pandemia, pois considera que o Brasil nunca saiu de uma primeira, diferentemente de países europeus em que número de casos despencou antes de subir novamente. Ele deixa claro, porém, que vivemos um repique da pandemia. Até agora, o mês com maior registro de óbitos no Brasil foi julho, quando o Ministério da Saúde contabilizou 32.881 mortes.
FALSA IMPRESSÃO – A infectologista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raquel Stucchi, destaca que um dos fatores para o aumento de casos entre outubro e novembro e consequente alta de óbitos pode ter sido uma armadilha de percepção.
Enquanto as notícias anunciavam que os casos vinham decaindo, pessoas já cansadas do isolamento social podem ter tido a impressão de que a pandemia estava mais amena.
“Isso, junto à flexibilização da economia, fez com que pensassem que a pandemia acabou e podiam sair sem cuidado”, ressalta. A coincidência de feriados prolongados e das eleições municipais também podem ter contribuído para o aumento de casos, ela diz.
A NOVA CEPA – Outra hipótese levantada pela infectologista é que a nova cepa do coronavírus, que aparenta ser mais transmissível, já estivesse em circulação no Brasil nos últimos meses. Até agora, apenas dois casos de pessoas contaminadas pela variante foram confirmados no país. No Reino Unido, há indícios de que ela estivesse presente desde setembro.
A pesquisadora lembra, ainda, que há chance de os testes para Covid-19 em pacientes contaminados pela cepa darem falso negativo, o que poderia levar a maior subnotificação, caso ela tenha se disseminado pelo Brasil.
Isso explicaria o fato de dezembro ter sido o mês com menos registro de casos desde maio, porém ter aumentado 65% o número de mortos.
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