sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Roteiro bem construído e grandes nomes do Vale do Silício fazem o sucesso de “O dilema das redes”

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Júlia de Aquino
Instagram literário @juentreestantes

“Nada grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição”

É com essa frase de Sófocles que tem início o documentário “O dilema das redes”, um dos mais vistos na Netflix no mês de outubro. Como vivemos no mundo das redes sociais todos os dias, achei válido trazer minha percepção sobre a produção para o blog, com dicas de livro no final, claro! Muitos professores e amigos já tinham indicado, e após assistir entendi o porquê de ser tão marcante.

SINOPSE DO DOCUMENTÁRIO – O Dilema das Redes mostra ao público como os “magos da tecnologia” possuem o controle sobre a maneira que pensamos, agimos e vivemos. Através de depoimentos de frequentadores do Vale do Silício, a produção revela como as plataformas de mídias sociais estão reprogramando a sociedade e sua forma de enxergar a vida. (Fonte da sinopse: Adoro Cinema)

PONTOS PRINCIPAIS – De forma resumida, o documentário aborda pontos interessantes de serem pensados e, acima de tudo, repensados por todos nós enquanto sociedade e consumidores de conteúdo.

Alguns temas discutidos são:

  • Informação e desinformação
  • Fake News
  • Vício em redes sociais
  • Publicidade e monetização dos espaços
  • Relacionamentos interpessoais prejudicados pela tecnologia
  • Uso de dados de usuários

CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO – Enquanto vê diversos depoimentos de profissionais do Vale do Silício, o espectador acompanha a rotina de uma família composta por quatro pessoas, com foco em um dos filhos jovens do casal. Essa mesclagem ficou interessante, porque a partir do comportamento desse jovem viciado em celular, eles mostram de forma didática como funciona o algoritmo das redes.

Numa cabine de controle, reproduzindo algo parecido com o que ocorre no filme “Divertida mente”, da Disney, quatro sujeitos representam o sistema do algoritmo e observam o comportamento do jovem. Dependendo de sua atividade no celular e na Internet, essa “equipe” escolhe o tipo de conteúdo e de notificação que aparecerá nos feeds e dispositivos desse usuário.

Muito além de construir uma narrativa, os roteiristas utilizaram essa ferramenta para passar a seguinte mensagem: nós não temos controle sobre o tipo de conteúdo que recebemos.

IMPOTÊNCIA – Esse fato é o que guia todas as falas e fatos mostrados no documentário – nossa total impotência diante do que consumimos nas redes sociais.

O ponto defendido é que o algoritmo é criado e pensado por humanos contratados pela Indústria para fazer as pessoas passarem o maior tempo possível nas redes sociais, em seus e-mails e conectados em seus dispositivos (celulares, tablets, computadores). Desse modo, eles podem monetizar aquele espaço, vendendo a atenção do usuário para milhares de marcas.

Afinal, as marcas querem – e precisam – estar onde as pessoas estão. E, atualmente, esse lugar são as redes sociais. Em diversos momentos os entrevistados repetem que o objetivo das redes sociais é “vender” a atenção das pessoas. Elas nos mantêm conectadas como se fôssemos visitas que não vão embora e que são estimuladas a não irem. E lucram com essa nossa longa visita.

O PROBLEMA PRINCIPAL – Desde o início, uma voz pergunta aos executivos que dão seus depoimentos: “Então, qual é o problema?”. Eles hesitam ao tentar responder, e analisam o X da questão ao longo dos minutos do documentário.

Como já foi dito, são muitos os problemas relacionados às redes, e todos possuem a mesma raiz: o modelo de negócio das empresas.

Facebook, Twitter, Tik Tok, Snapchat, Google… Elas não são apenas marcas e organizações: elas são um mercado. Um mercado que movimenta trilhões de dólares e aprende cada vez mais de que maneira seus usuários pensam, agem, consomem e, acima de tudo, como tomam decisões.

TOM ALARMISTA – Apesar de ter um roteiro consistente e apresentar dados e reflexões interessantes, o espectador deve começar a assistir já esperando toques de sensacionalismo o tempo todo.

O tom alarmista está nas falas dos entrevistados, nas projeções feitas por eles e mesmo no destino dos personagens da família comentada acima. Esse clima pessimista se mantém até o final, quando a conclusão apresentada é a de que o futuro da nossa sociedade seria uma guerra civil (provocada por anos de desinformação consumida nas redes).

QUATRO LIÇÕES – O que, então, aprendemos com o documentário?

  1. É essencial controlar nosso tempo nas redes sociais para não nos tornamos “reféns”.
  2. Devemos sempre verificar a veracidade de notícias e informações antes de compartilhá-las ou toma-las como verdadeiras.
  3. Tirar alguns momentos do dia para se desconectar completamente, principalmente durante as refeições em família
  4. Não aceitar sugestões do algoritmo, pois ele “aprende” quando concordamos com ele. Um exemplo: se você quer ouvir uma música e, ao abrir o Youtube, o algoritmo te mostra como “sugestão de música”, o ideal é não clicar na sugestão, mas ir na caixa de busca e pesquisar o nome da música manualmente.

DICAS DE LIVRO – Como não poderia faltar, vou indicar dois livros que têm muita relação com o tema do documentário. Embora não abordem especificamente as mesmas questões, ambos têm o mundo das redes sociais como pano de fundo e premissa.

# DICA 1

O clique de um bilhão de dólares – A incrível história do brasileiro Mike Krieger, fundador do Instagram

Autor: Filipe Vilicic
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Páginas: 240

# DICA 2

O inverno da nossa desconexão
Autora: Susan Maushart
Editora: Paz e Terra
Ano: 2011
Páginas: 312

# Algumas frases do documentário:

  • “Não é que a tecnologia em si seja uma ameaça existencial. É a capacidade da tecnologia de trazer à tona o pior da sociedade. E o pior da sociedade é uma ameaça existencial”;.
  • “Se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”.
  • “Qualquer tecnologia avançada, é indistinguível da mágica”.
  • “O modelo de negócios de empresas desse tipo é manter as pessoas vidradas na tela”.
  • “Nós não pagamos pelos produtos que usamos, os publicitários pagam. Eles são os clientes. Nós somos a coisa que está sendo vendida”.
  • “Cada ação que você realiza nas redes sociais é cuidadosamente monitorada e registrada”.

Documentário: O Dilema das Redes (The Social Dilemma)
Ano: 2020
Produção: Netflix
Duração: 89 minutos
Direção: Jeff Orlowski
Roteiro: Jeff Orlowski, Davis Coombe, Vickie Curtis

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