Por G1 Bauru e Marília - 23/08/2020 08h28
Toda a conversa teria ocorrido por causa que o policial guinchou o carro da vereadora que estava com licenciamento vencido em Marília — Foto: TV TEM/ Reprodução
O Comando do Policiamento do Interior da região de Bauru (CPI-4), ao qual é subordinado o Batalhão de Marília (SP), instaurou um inquérito, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), para investigar a conduta de uma tenente-coronel e de um policial militar envolvidos em uma polêmica na cidade nesta semana.
O procedimento policial foi instaurado depois que o comandante regional ficou sabendo da gravação de um telefonema, no qual a tenente-coronel Márcia Crystal orienta um PM de trânsito a não apreender o carro irregular da vereadora Daniela D'Avila Alves, conhecida como Professora Daniela (PL).
"Após tomar conhecimento da gravação, o comandante regional instaurou inquérito policial militar para esclarecer todos os fatos que envolveram a apreensão do veículo e as condutas da comandante e do policial militar", informou a SSP.
No áudio que vazou e repercutiu nas redes sociais nesta sexta-feira (21), a oficial da PM diz que o policial que guinchou o veículo da vereadora deveria ter "bom senso" ao exercer suas funções ou seria transferido.
O PM, que acabou transferido de área após a abordagem, alegou que o carro da política estava com licenciamento vencido e pneus gastos. No entanto, no momento da apreensão, a vereadora ligou para a oficial pedindo para que não tivesse o carro guinchado.
Inquérito é aberto para apurar transferência de policial após guinchar carro de vereadora
Conversa no telefone
Na ligação, a tenente-coronel afirma que o policial pode ser transferido do setor — Foto: TV TEM/Reprodução
Na ligação a que a TV TEM teve acesso, o policial explica que constatou que o carro da vereadora não tinha licenciamento e estava com os pneus gastos, motivo pelo qual decidiu abordar a filha dela, que dirigia o veículo, na Rua Carlos Botelho.
O policial informou, no áudio, que deu a oportunidade para que ela fizesse o pagamento via aplicativo, mas a jovem e o pai, que chegou ao local mais tarde, teriam dito que não tinham condições.
Depois de ouvir a história, a tenente-coronel pede para que o policial não ficasse “tumultuando” e diz que ele deveria ter apenas feito a orientação, sem apreender o carro.
“Porque isso daí é falta de bom senso, tá? Ela é vereadora. É, é, a condição, você pode muito bem estar fazendo e orientando, tá? E aí segunda-feira, ela pegaria o documento e não precisa apreender o veículo”, explica no áudio.
Em seguida, a tenente-coronel ameaça trocar o policial de setor se ele continuar agindo dessa maneira, já que ele teria desobedecido uma ordem superior.
“Se for desse jeito é o que eu to falando, você não vai estar mais segunda-feira no trânsito (...) porque essa aqui é uma ordem minha, você vai responder também”, continua a tenente coronel.
A conversa continua por mais alguns segundos e a tenente-coronel repete que o policial de trânsito deveria ter tido bom senso ao analisar a situação, já que a mulher é vereadora.
“Olha o que você tá causando, porque politicamente ela é vereadora. Não teve nem uma conversa, o que você está achando que você é?”, questiona no áudio.
O Comando do Policiamento do Interior da região de Bauru (CPI-4), ao qual é subordinado o Batalhão de Marília, informou que "o policial que efetuou a apreensão não foi afastado, mas sim estava matriculado num curso de especialização na área de Policiamento de Trânsito, em São Paulo, desde março, o qual foi suspenso em razão da pandemia de COVID-19, tendo seu reinício agendado para o dia 24 de agosto, motivo pelo qual não exercerá as atividades na cidade de Marília até o término do curso em 04 de setembro de 2020".
Ainda conforme a PM, assim que o policial concluir o curso, ele retornará as suas funções habituais.
"Após tomar conhecimento da gravação, o comandante regional instaurou inquérito policial militar para esclarecer todos os fatos que envolveram a apreensão do veículo e as condutas da comandante e do policial militar, completou a corporação.
Esclarecimento da vereadora
A vereadora Professora Daniela se manifestou por meio de nota. Ela esclareceu que, "em nenhum momento seu telefonema para a comandante tenente-coronel Márcia Crystal teve o objetivo de praticar tráfico de influência" e que foi apenas para ver se havia a possibilidade de não ter o veículo apreendido.
Ela disse também que "não houve nenhuma indagação para que o referido militar fosse punido ao exercer suas funções" e que ficou preocupada com a filha. Além disso, informou que os pneus não estavam gastos.
Por fim, afirmou que concorda com os procedimentos determinados pela legislação de trânsito e que "vai tomar as atitudes jurídicas para o caso, prezando pela verdade e justiça".
Também em nota, o presidente da Câmara de Marília, vereador Marcos Rezende (PSD), afirmou que o episódio refere-se a "assunto privado da vida da Professora Daniela e da esfera administrativa do órgão de Segurança Pública".
Segundo Rezende, "esta Presidência só se posicionará se houver alguma manifestação ou provocação externa, com pedido de providência".
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