Por DA REDAÇÃO - 17/07/20 - 17h04
Foto: Twitter/Reprodução
Um debate antigo retornou às redes sociais nesta semana: o queijo Minas Frescal, tradicional do Estado, pode ser facilmente contaminado por bactérias e, especialmente, as coliformes. A discussão começou a partir de uma publicação da @carolparaense, que diz ser veterinária especialista em segurança de alimentos em sua descrição no Twitter.
“Você acha que essas olhaduras (furinhos) nesse queijo é normal, pois quanto mais furinho melhor ou é contaminação? Pois saiba que nesse queijo tem uma grande contaminação por coliforme fecal”, publicou ela.
A repercussão foi tamanha que quase 6.000 pessoas compartilharam a história e outras 16 mil curtiram o tuíte até a publicação desta reportagem. Até o biólogo Átila Iamarino, conhecido divulgador científico, comentou o assunto e publicou um trecho de um estudo que confirma as explicações da moça.
“No processo de fabricação do queijo Minas Frescal, se as condições de elaboração não forem mantidas sob um rígido controle higiênico, é possível ocorrer contaminação por bactérias coliformes e por estafilococos patogênicos”, diz o texto divulgado pelo pesquisador, de um estudo da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, publicado em 2009.
Danou-se o queijo frescal?
Então, é perigoso comer o queijo Minas Frescal? A resposta é sim, mas também não. Segundo o doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos e professor de produtos lácteos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maximiliano Soares Pinto o importante é ficar de olho na fabricação do produto.
O leite, que é o principal ingrediente para a produção de queijos, é a chave para entender a possível contaminação. Por ser extremamente rico em nutrientes, ele é um campo fértil para a proliferação de quase todas as bactérias, explica Pinto.
“Praticamente todas vão crescer no leite. Ele tem condições excelentes para proliferação de bactérias e, por isso, é necessário cuidado para ser usado para a fabricação de queijo”, pontua.
O método usado para desinfetar o leite é a pasteurização. Em suma, ele é fervido a temperaturas altas e, imediatamente, resfriado. Com isso, a maior parte das bactérias morre e o leite se torna viável para consumo e produção de derivados.
O principal problema – que causa os “furinhos” no queijo Minas Frescal – é quando esse processo não ocorre. Durante a ordenha, o líquido é contaminado por diversos tipos de bactérias, continua o professor.
A contaminação também pode ocorrer após o processo de pasteurização, quando, por exemplo, o leite é armazenado em tanques. Para isso, a indústria faz testes e análises de qualidade do produto antes da venda, afirma Pinto.
As bactérias do tipo coliforme, inclusive as fecais, são as responsáveis por “furar” o queijo Minas Frescal. Elas se alimentam da lactose e produzem gases, que constroem as olhaduras encontradas no produto.
“Quando você compra um queijo desse tipo e ele vem com esses buraquinhos, é certo de que há alta concentração de bactérias coliformes nele”, explica o especialista.
Em geral, esse tipo de bactéria não faz mal para seres humanos. Contudo, a presença delas é um forte indicativo de que o queijo não foi produzido em condições ideais de higiene. Pior, ressalta Pinto, pode significar que outras bactérias, que causam doenças, estão presentes no produto.
“Existe um risco alto para o consumidor. O queijo Minas Frescal precisa estar liso, não pode estar rendado. A causa das olhaduras é a contaminação”, completa.
Dá pra saber antes de comprar?
No varejo é difícil saber se há esse tipo de contaminação do produto. O ideal é, quando cortar o queijo, ficar de olho se há buraquinhos e, caso existam, pedir para que ele seja trocado por um novo.
“Nem se eu quisesse conseguiria arrumar um motivo para alguém consumir esses queijos Minas Frescal que não são produzidos com qualidade e higiene. Até o sabor, que é sal e ácido, é o mesmo dos ‘artesanais’, ou de feira. Não aconselho”, conclui o pesquisador.
Importante ressaltar que os furinhos não são problema em outros tipos de queijo, como Suíço, que tem as olhaduras naturalmente em seu processo de produção.
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