Por LARA ALVES | SIGA-NOS NO TWITTER @OTEMPO
01/05/20 - 13h44
Foto: AFP
O descumprimento das medidas de isolamento social por parte da população de Juiz de Fora, na Zona da Mata, pode estar na raiz do aumento considerável no número de casos confirmados e suspeitos de coronavírus na cidade no curto espaço de uma semana. Até quinta-feira passada (23), o município contava com 118 moradores diagnosticados com a infecção, e outros 1.649 com sintomas, mas que ainda não haviam sido submetidos a testes. Transcorridos sete dias, relatório da Secretaria Municipal de Saúde aponta 179 casos confirmados nessa quinta-feira (30), enquanto outros 2.239 aguardam diagnóstico.
Diante do crescimento significativo e do temor de que os leitos de UTI do município não sejam suficientes para acolher os doentes em um possível pico da pandemia estimado para acontecer no início de junho, o prefeito Antônio Almas (PSDB) se pronunciou na manhã desta sexta-feira (1º) e respondeu às perguntas enviadas à distância pela imprensa.
O secretário adjunto de Saúde, o médico Clorivaldo Rocha Corrêa, participou da entrevista e esclareceu que se não houver conscientização imediata da população a situação tende a se tornar cada dia mais drástica na cidade. “Nós percebemos um aumento de 58,5% nos casos suspeitos em relação à semana anterior. Com isso, fica muito flagrante o descumprimento das medidas de isolamento social por parte da população. Se as pessoas não tiverem responsabilidade com a própria saúde, não conseguiremos avançar”, comentou.
Almas reforçou a declaração do secretário e destacou que existe, sim, uma grande preocupação de que que o sistema público de saúde entre em colapso nas próximas semanas. “Hoje nós temos 127 leitos de UTI ativos em Juiz de Fora, o que não quer dizer que são leitos disponíveis apenas para Covid-19. É importante que a população não esqueça que a necessidade de ter mais leitos está diretamente relacionada com a nossa adesão ou não ao isolamento. Nos últimos dias nós assistimos a esse aumento considerável, o que cresceu ainda mais o alerta para o risco de chegarmos entre maio e junho com uma necessidade de leitos superior à que temos condições hoje de incorporar. Se nós não fizermos a nossa parte, teremos um grande problema sanitário, logo ali na frente. Precisamos diminuir o risco de colapso”. De acordo com o prefeito, outros dez leitos serão incorporados ao sistema ainda na próxima segunda-feira (4), no Hospital Regional João Penido.
Com o crescente número de casos, o município ainda estuda se realmente irá aderir às etapas do Minas Consciente, projeto do governo estadual para a reabertura lenta e gradual do comércio. Inicialmente, não há qualquer previsão de relaxamento do decreto que determina a interdição completa das atividades econômicas não-essenciais na cidade. “Juiz de Fora ainda não chegou ao pico da doença, não está no pico da doença, estamos tentando achatar a curva a partir. A definição quanto a volta das atividades se estabelecerá de acordo com parâmetros epidemiológicos”, comentou.
Durante a transmissão do pronunciamento pelas redes sociais, muitos moradores questionaram o porquê do município não optar por medidas mais duras de repressão ao descumprimento do isolamento social. Almas afirmou que não há quantidade suficiente de profissionais para que isso seja feito, além disso declarou que optou por trabalhar com a conscientização da população ao invés de adotar práticas mais duras de controle.
Pacientes do Rio de Janeiro
Além dos moradores de Juiz de Fora infectados pelo coronavírus, existe uma preocupação do município com a chegada de pacientes trazidos do Rio de Janeiro, onde a situação do sistema de saúde é considerada crítica e à beira do colapso. Até 28 de março, a cidade na Zona da Mata havia recebido dez pacientes vindos do estado vizinho, oito com suspeita de Covid-19 e outros dois com ferimentos causados por acidente de trânsito. Eles viajaram até Juiz de Fora dada a ausência de vagas nos hospitais do Rio.
Segundo Almas, a prefeitura analisa se será confirmada essa tendência de que moradores do estado fluminense tomem o município de Juiz de Fora como uma opção para atendimento médico. Ele adiantou que não haverá instalação de barreiras sanitárias em uma rodovia federal. Apesar desse momento ser tratado inicialmente com cautela, a Secretaria de Estado de Saúde, o governo de Rio de Janeiro e o Ministério da Saúde já foram acionados, como esclarece o prefeito.
“O secretário estadual de Saúde sabe da nossa preocupação com o deslocamento desses pacientes do Rio para Juiz de Fora. Alguns não tinham quadros só de síndrome respiratória aguda grave ou de qualquer outra síndrome gripal, dois deles, por exemplo, saíram de Volta Redonda e vieram de ambulância após um acidente automobilístico. Não pensamos em instalar barreiras sanitárias. Quero deixar bem claro que estamos atuando, o Ministério da Saúde tem um olhar específico sobre a posição estratégica de Juiz de Fora”, pontuou.
Testes na UFJF
Com instalações preparadas, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) já realiza testes para diagnosticar pacientes com coronavírus. Contudo, os laboratórios ainda não estão credenciados pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) e, portanto, as conclusões obtidas nos testes não possuem validade para os balanços do município ou do Estado de Minas Gerais. Ainda não se sabe quando esses laboratórios serão certificados, certo é que, para Almas, a incorporação dos resultados dos testes da UFJF serão determinantes para entender qual é a real situação da cidade.
“O número de testes realizados até agora em Juiz de Fora está muito aquém do desejado. Nós temos uma capacidade muito baixa hoje de testar pacientes, profissionais da saúde e a população. A única medida para entendermos a real situação é a ampliação dos testes, é isso que nós permite diminuir a distância entre números de pacientes suspeitos e efetivamente confirmados”, declarou.
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