A equipe do Flamengo aprendeu como preencher o meio do campo
Tostão
Folha
No futebol, na política, na economia, no meio ambiente e em tudo o que acontece no mundo, os conceitos, as discussões e as possibilidades são baseados somente no que pode ser previsto, calculado e programado. Não se pensa e não se planeja levando-se em conta o que não tem controle, mas que pode estar presente, como os dilúvios urbanos, diante da impotência e do desamparo humano. O acaso é também habitual.
Na Copa de 1958, o ponta Zagallo percebeu que o meio-campo era muito grande para apenas dois jogadores. Passou a ser o terceiro, formando um trio, com Zito e Didi. No Mundial de 1962, fez o mesmo. Em 1970, o meia Rivellino exerceu a mesma função de Zagallo, pela esquerda, ao lado de Gérson e Clodoaldo.
O MESMO PROBLEMA – Sessenta e dois anos depois da Copa de 1958, a maioria das equipes brasileiras tem o mesmo problema no meio-campo. Joga com dois volantes, três meias e um centroavante. Como os dois jogadores pelos lados costumam atuar encostados à lateral durante toda a partida, e o meia centralizado atua mais à frente, na intermediária do adversário, os dois volantes ficam sobrecarregados, ainda mais que são cobrados para jogar de uma intermediária à outra.
A maioria das equipes sul-americanas apresenta a mesma carência. No torneio sub-23 que definiu as duas seleções que disputarão a Olimpíada – Brasil e Argentina se classificaram –, havia, em todas as partidas, enormes espaços no meio-campo. Na vitória por 3 a 0 sobre a Argentina, o técnico André Jardine mudou o desenho tático e, em vez de três meias, escalou um meia ao lado de cada volante e dois atacantes. Deu certo. O meio-campo ficou mais preenchido, e a equipe ficou mais forte no ataque.
O Flamengo mostrou que existem maneiras mais eficientes de se jogar. Os outros técnicos de clubes brasileiros nem tentam. Acham que sabem tudo. Não por acaso, a soberba é considerada um pecado capital.
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