Por G1 CE
21/02/2020 12h47 Atualizado há uma hora
Encapuzados ocupam unidade da tropa de elite da PM do Ceará em Sobral na manhã desta sexta-feira — Foto: Reprodução/TV Verdes Mares
O Ceará registrou 51 assassinatos em 48 horas – mais de 1 por hora – em meio ao motim de policiais e bombeiros militares por aumento salarial.
A paralisação começou na noite de terça-feira (18). Até então, a média de homicídios no estado em 2020 era de 6 por dia. As 51 mortes ocorreram entre as 6h de quarta e as 6h desta sexta-feira.
Uma delas ocorreu nesta madrugada no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza, onde um adolescente de 16 anos foi atacado por 7 homens que estavam em motocicletas. Outra, no Bairro José Walter, onde ocorreu um tiroteio que deixou 1 morto e 1 ferido.
Na noite de quarta, a dona de casa Maria de Paula Moura foi assassinada na frente da mãe e dos filhos numa tentativa de assalto na capital.
Maria de Paula, morta na frente dos filhos e da mãe na noite de quarta-feira em Fortaleza — Foto: Arquivo pessoal
Batalhões ocupados
Os PMs têm cruzado os braços para pressionar por aumento salarial. O movimento também tem fechado batalhões – nesta sexta, ao menos 9 dos 43 estão ocupados pelos manifestantes – e atacado carros oficiais, que têm os pneus esvaziados para não poderem ser utilizadas.
Em um desses batalhões, o senador licenciado Cid Gomes foi baleado ao jogar uma retroescavadeira contra o portão que era mantido fechado pelos encapuzados. Ele não corre risco de morte.
A proposta do governo é aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3,2 mil para R$ 4,5 mil, em aumentos progressivos até 2022. O grupo de policiais que realiza as manifestações reivindica que o aumento para R$ 4,5 mil seja implementado já neste ano.
Na noite de quinta-feira (21), houve um encontro entre representantes dos policiais que participam do motim e uma comissão de senadores para por fim à paralisação. Mas, não houve acordo. Um dos pontos discutidos foi a anistia aos integrantes do movimento, mas o governo do Ceará diz esse ponto é inegociável.
A Constituição proíbe greve de agentes de segurança, como policiais militares, policiais civis, bombeiros e agentes penitenciários. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) reiterou o veto.
A maioria dos ministros entendeu que, por se tratar de um braço armado do Estado, a polícia não pode fazer paralisação porque isso prejudica e afeta toda a sociedade. A decisão teve repercussão geral, ou seja, vale para todos os casos de greve de polícias que cheguem a qualquer instância da Justiça.
Nesta sexta-feira, o Solidariedade anunciou a expulsão do vereador Sargento Ailton, de Sobral, apontado como um dos coordenadores do movimento.
"Nós não trabalhamos com militância do terror que causam a depredação do patrimônio de pessoas e não podemos aceitar que policiais e agentes públicos, encapuzados e armados como milicianos, levem o terrorismo às ruas", diz a nota.
Exército e Força Nacional atuam no estado
Por conta do motim, o estado pediu ajuda ao governo federal, e recebeu reforço de tropas do Exército e de 300 agentes da Força Nacional, que já começaram a operar.
As tropas do Exército que farão o patrulhamento serão formadas por militares de Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, e vão atuar de forma prioritária na capital e cidades da Região Metropolitana. No interior, as forças serão empregadas conforme a demanda. O número de militares não foi informado.
Homens do Exército fazem patrulhamento em Fortaleza nesta sexta-feeira — Foto: José Leomar/SVM
Resumo:
5 de dezembro: policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
31 de janeiro: o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.
6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
13 de fevereiro: o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
14 de fevereiro: o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
18 de fevereiro: três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
19 de fevereiro: batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.
20 de fevereiro: policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.
21 de fevereiro: tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.
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