Boicote à reforma da Previdência é um desrespeito a Bolsonaro
Carlos Newton
O balanço dos dez primeiros dias de governo mostra que o presidente Jair Bolsonaro corre o risco de se tornar refém dos chefes militares que exercem o poder junto com ele. Pela primeira vez, desde a ditadura, existe no Palácio do Planalto um “núcleo duro” formado por militares, que inclui até mesmo a presença ostensiva do vice-presidente Hamilton Mourão, aquele cujo filho foi “perseguido em governos anteriores”, apesar de ter recebido oito promoções e uma remoção precipitada para Brasília, onde o pai trabalhava à época.
Além de Mourão, que é o primeiro vice-presidente a atuar no Planalto desde a proclamação da República, participam do núcleo duro os generais Augusto Heleno (Gabinete Institucional) e Santos Cruz (Secretaria de Governo). Como secretário-geral Gustavo Bebianno não manda nada, o único ministro civil no Palácio é Onyx Lorenzoni (Casa Civil), uma espécie de estranho no ninho.
EMPODERAMENTO – Não há a menor dúvida, está claro que os generais estão empoderados, como se diz hoje em dia. Esqueceram de que o eleito foi o capitão e se comportam como se ele nem existisse. O vice Mourão, por exemplo, que está causando um tremendo desgaste ao governo com a promoção do filho, teve a desfaçatez de declarar que nem chegou a conversar sobre isso com Bolsonaro. Quer dizer, não pediu autorização ao presidente e, diante da repercussão negativa, sequer pediu desculpas a ele pelo problema criado.
Em tradução simultânea, uma tremenda falta de respeito. E outros chefes militares acompanham Mourão nesse comportamento indevido. Na transmissão do comando da Marinha, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo Silva, colocou o presidente em má situação, ao defender que os militares sejam excluídos da reforma da Previdência, assunto que não é da competência do Ministério da Defesa. E o novo comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa, na mesma hora reforçou a tese do boicote militar à reforma, além de desastradamente “inventar” uma Terceira Guerra Mundial nunca vista.
DESRESPEITO À HIERARQUIA – Em cerimônia pública, portanto, o ministro e o almirante quebraram a hierarquia, uma das principais regras das Forças Armadas. E dois dias depois, o novo comandante do Exército, general Edson Pujol, cometeu a mesma transgressão, disciplinar, defendendo que a reforma não atinja os militares.
Como se sabe, o governo Bolsonaro ainda está estudando a reforma da Previdência. Impor a manutenção dos privilégios militares, que pagam contribuição menor e podem se aposentar aos 48 anos, e pressionando o presidente da República em atos públicos, é um comportamento abusivo e inadmissível.
O presidente Bolsonaro foi eleito, representa o país e não pode ser pressionado por ninguém. É o comandante-supremo da Forças Armadas e cabe a ele decidir as questões nacionais, em consonância com os demais poderes da República. Seus subordinados, sejam militares ou não, precisam ser enquadrados, para que conheçam seus lugares e suas limitações.
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P.S. 1 – Dê um soco na mesa, presidente Bolsonaro, e mostre a eles quem está no poder e detém a caneta, que pode demitir “ad nutum” (por sua vontade) todos os ministros que se insurgirem contra suas ordens.
P.S. 2 – Aproveite a ocasião e convoque uma auditoria para a reforma da Previdência e para a dívida pública. Como dizia o almirante Francisco Barroso, o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever. (C.N.)Posted in C. Newton
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