JUIZ DE FORA - 23/10/2018 - 11:16
Foto: Vinícius Ribeiro
Cada visitante do Museu é atraído por algo em especial, seja pela beleza de uma peça, pela curiosidade de saber a procedência de outra ou, até mesmo, pelo sentido de sua criação. Dos itens expostos na galeria “Maria Amália”, é quase impossível alguém passar desatento pela obra “Menina e Moça” do artista José Otávio Correa Lima. De crianças a adultos, todos param para observá-la e, em muitos casos, fazer uma foto ao lado, imitando-a.
A escultura foi doada à Fundação Museu “Mariano Procópio” pelo próprio artista em 24 de maio de 1938. Já a reprodução da peça, em bronze, pode ser encontrada no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Datada de 1917, a obra foi feita em gesso patinado e simboliza a transição entre a infância e a juventude, representada por uma figura feminina ainda na adolescência. A peça foi inspirada em um poema de mesmo nome, de Machado de Assis. Recentemente a escultura recebeu um QR Code, código que possibilita que o visitante, através de um aplicativo no celular, saiba mais sobre a peça e leia o poema.
Correa Lima foi escultor e professor, aluno de Rodolfo Bernardelli, na Escola Nacional de Belas Artes. Ao longo de sua vida, recebeu várias premiações e condecorações. O artista ficou conhecido como “escultor de Juiz de Fora”, devido ao grande número de obras executadas por ele, representando personalidades juiz-foranas para o Museu, a Santa Casa de Misericórdia, instituições e praças públicas. Além disso, é possível encontrar várias de suas obras em espaços públicos do Rio de Janeiro.
Menina e Moça
Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.
Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.
Outras vezes valsando, e* seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.
Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.
Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.
Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.
Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.
Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.
Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!
Ah! se nesse momento alucinado, fores
Cair-lhes aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar dos teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.
É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!
Machado de Assis
* Informações com a Assessoria de Comunicação do Museu Mariano Procópio: 3690 2004.
Portal PJF
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