Como um sabão em pó em que o fabricante muda a embalagem para maquiar o produto, enganando o consumidor, o PT transformou radicalmente a campanha do seu candidato: retirou Lula da propaganda e trocou o vermelho pelo verde e amarelo
Wilson Lima 11/10/18 - 19h00 - Atualizado em 11/10/18 - 19h34
Na segunda-feira 8, o candidato do PT Fernando Haddad repetiu o gesto que fez durante toda a campanha e foi à sede da Polícia Federal em Curitiba pedir a benção do ex-presidente Lula na sala-cela que lhe serve de prisão. Nessa visita, Lula, que é o coordenador de sua campanha, pediu que fosse a última vez que o candidato o visitasse durante este segundo turno. Na verdade, como em uma sessão espírita, não foi Haddad quem se livrou de Lula. Mas Lula quem se livrou de Haddad. Na sua última recomendação ao candidato que lhe serve de avatar, Lula ordenou que Haddad passasse a tocar a campanha sozinho. O ex-prefeito de São Paulo foi autorizado pelo presidiário a tornar-se, de fato, candidato à Presidência da República. E, rapidamente, transmutou-se. Sumiram as camisetas com os dizeres “Lula livre”. Entraram em seu lugar fotos suas com ternos bem cortados e cabelos aparados. Sumiu a foto de Lula, que dividia espaço de destaque ao lado de Haddad e da sua vice, Manuela D’Ávila (PCdoB). Desapareceram outros gurus petistas, como o ex-ministro José Dirceu. Até a cor vermelha do PT saiu de cena. Agora, Haddad é verde e amarelo, as mesmas usadas por Bolsonaro. Se durante o primeiro turno, Haddad precisou se vincular diretamente à imagem de Lula para conseguir ter uma candidatura com alguma competitividade, agora ele se transforma para se aproximar de Bolsonaro e reverter o quadro que, no primeiro turno, rendeu 46% dos votos ao candidato do PSL contra os 29% dados a ele, diferença de 17% a favor do ex-capitão do Exército. Agora, para crescer, os marqueteiros concluíram que Haddad precisa se descolar do ex-presidente, que tem uma elevada rejeição, e fizeram nele uma maquiagem, com o intuito de engabelar o eleitor.
Nessa estratégia de colocar Haddad como se fosse um novo produto na prateleira com nova embalagem, mas com o mesmo conteúdo, o comando da campanha mudou toda a programação visual. No principal logo da campanha, o 13 do PT, em branco, tradicionalmente era rodeado pela estrela do partido em tons rubros. Agora, o 13 está em um inédito amarelo, rodeado por um círculo. O nome “presidente Haddad” idem. Outra mudança importante é que os materiais de Haddad já não virão mais com as imagens do ex-presidente Lula anexa, nem com a frase “Lula é Haddad / Haddad é Lula”. Os petistas concluíram que a menção a Lula afastaria a imensa maioria dos eleitores, manifestamente antipetista.
Pela primeira vez desde a primeira campanha presidencial em 1989, os símbolos e as cores do PT não prevalecerão mais na campanha de Haddad. Os novos tons objetivam atrair os incautos eleitores de outras legendas e de outros candidatos que não se identifica com as ideias de Bolsonaro. Na quarta-feira 10, começou a circular nas redes sociais petistas um pacote voltado justamente para atrair o eleitor não petista. São imagens de pessoas em diversas situações. Os textos iniciam-se sempre com a frase “Não sou petista”. Uma das peças diz: “Não sou petista, mas tenho sonhos. Entre eles, poder me aposentar e ter 13º salário”, numa alusão às declarações do vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, que disse que o 13º era uma “jaboticaba”, uma invenção brasileira que prejudicava as empresas. Bolsonaro desautorizou Mourão. Outra peça destina-se aos evangélicos. “Não sou petista, mas sou evangélica. E aprendi que devemos respeitar nossos irmãos e irmãs que estão sofrendo violência nas ruas”. Ou: “Não sou petista, mas sou mãe… e quero educar meus filhos com livros e não com armas”. Todos os textos terminam com: “Por isso, vou de Haddad”.
Haddad mudará, também, as propostas de seu programa. No campo econômico, ele defenderá agora uma mini reforma tributária, de forma a tentar atenuar os impactos da sua proposta de revogação da PEC dos tetos de gastos públicos. Um outro aceno ao Centro é tentar mostrar ao eleitor nesta etapa final que ele é um candidato mais equilibrado que o ex-capitão do Exército. Haddad tentará mostrar ao mercado que ele seria mais previsível que seu adversário, “por jogar dentro das regras”. Do outro lado, a máquina destrutiva de reputações que o PT usa na internet pretende espalhar, por grupos de whatsapp e outras redes sociais, informações sobre o passado de Bolsonaro. O projeto é atacar, principalmente, frases ditas pelo candidato do PSL que supostamente atingiram direitos de trabalhadores e das domésticas, por exemplo. A guerrilha petista pela Presidência continua, desta vez com transmutações orientadas, como sempre, pelo líder máximo do partido aprisionado em Curitiba.
https://istoe.com.br/a-transmutacao-de-haddad/
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