Donos da loja também orientam parentes sobre o cadastro de visitas e a procurar advogado na Defensoria
PUBLICADO EM 04/09/18 - 20h58
PEDRO FERREIRA
Você chega à loja, pede uma coruja e recebe uma cueca; um táxi e recebe um chinelo de borracha. Pede um papagaio e vem um rádio de pilha. Parece até loucura, mas essa loja existe em uma galeria da avenida Augusto Lima 1.263, no Barro Preto, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. É a PJL, que significa Paz, Justiça e Liberdade, especializada em vendas de produtos para presidiários e que adota o glossário dos presos na hora das vendas, pois muitos pedidos chegam à família por meio de uma “chorona”, como chamam as cartas. Na loja, as famílias têm acesso às listas do que pode e do que não pode entrar em cada unidade prisional de Minas Gerais, pois cada uma tem sua regra, definindo, inclusive, a cor do chinelo.
A loja pertence ao ex-presidiário Péricles Gomes Ribeiro, de 38 anos, que passou 83 dias atrás das grades por tráfico de drogas. Ele quis se endireitar na vida quando conseguiu a liberdade em 2016, mas o ex-dono de casa lotérica conta que não conseguiu emprego por causa do preconceito. Há cinco meses, ele abriu a loja com a mulher, a ex-bancária Michelle Kellen de Almeida, de 36. São tantos clientes que o casal tem que se desdobrar. Nem nos fins de semana eles descansam: partem para o boca a boca na porta de presídios para divulgar o negócio.
PEÇAS ÍNTIMAS
Além dos kits higiene, alimentação, roupas e eletrônicos, a loja também oferece peças íntimas para mulheres que vão aos presídios para visitas íntimas. “Também oferecemos roupas para os visitantes, que têm que ser adequadas ao que o presídio exige”, conta Péricles. Para as famílias, a loja facilita por vender o produto certo. “Na primeira visita, voltei com tudo para casa. Não tinha conhecimento”, disse uma senhora.
PREÇOS
Os kits completos variam de R$ 250 a R$ 300. Cada unidade tem os seus critérios. No caso do Presídio Bicas 1, são 42 itens na lista, dos quais somente 15 o visitante pode levar.
LEGALIDADE
A Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) esclareceu que o envio do kit para presos, por meio de familiares ou amigos devidamente cadastrados, é normatizado pelo Regulamento e Normas de Procedimento do Sistema Prisional de Minas Gerais (ReNP). “Ressaltamos que todos os materiais entregues (roupas, alimentos, produtos de higiene, rádios etc) passam por rigorosa revista. O kit entregue não contém um “uniforme” e, sim, um moletom sem a logomarca ou nome da Seap”, informou.
GLOSSÁRIO DOS PRESOS
Carta – Chorona
Caneta – Pena
Cueca – Coruja
Colher - Goela
Barbeador – Trator
Táxi – Chinelo de borracha
Roupa – Brechó
Café – Moca
Aparelho de rádio – Papagaio
Pão – Marrocos
Copo – Taça
Suco em pó - Veneno
https://www.otempo.com.br/cidades
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