Política adotada por Parente favoreceu corrupção
Mateus Coutinho
O Globo
Em ofício sigiloso encaminhado à força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, a Petrobras admitiu que não possui os registros de todas as autorizações de compras e vendas de combustíveis e derivados de petróleo no mercado internacional no período de 2004 a 2018. No documento, a empresa apontou que havia uma “informalidade no registro de tais aprovações pelos gestores”.
Na prática, a situação reforça as suspeitas apontadas por delatores de que a área de trading internacional da estatal era um “terreno fértil para ilicitudes” pelo fato de movimentar milhões diariamente e de que pequenas variações artificiais nos preços dos combustíveis poderiam render margem para propinas.
CERVERÓ – As primeiras suspeitas sobre a área de trading vieram à tona com as delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e do ex-senador e também ex-diretor da estatal Delcídio Amaral em 2015. A Lava-Jato, no entanto, avançou pouco nesta área. Nos últimos meses, porém, a Polícia Federal (PF) retomou as investigações e pediu que a estatal detalhasse como funciona todo o procedimento das áreas de trading bem como todas as pessoas e principais empresas envolvidas nas negociações.
“Cumpre destacar que as operações comerciais realizadas ao longo do período em questão (2004 a 2018) tiveram diferentes tipos de registros, no que concerne a sua aprovação. Devido a uma informalidade no registro de tais aprovações pelos gestores, não é possível localizar todas as aprovações, visto que algumas ocorreram em despachos presenciais ou por telefone, principalmente para os casos mais antigos”, afirma a estatal no ofício, encaminhado à PF em Curitiba no dia 19 de abril deste ano.
PADRÃO DE REGISTROS – No documento, a empresa ainda admite que, em 2015, já depois de a Lava-Jato revelar a existência de um esquema de corrupção e loteamento político na estatal petrolífera, foi estabelecido um “padrão de registros com foco na garantia da rastreabilidade das negociações”, segue o ofício. De acordo com os delatores, a Petrobras negociava de 300 mil a 400 mil barris de petróleo por dia no mercado internacional, o que equivalia a movimentação de cerca de US$ 10 milhões diariamente.
De acordo com os delatores, o trading seria uma área de “influência do PSDB” na estatal, mas que também teria sido utilizada por outros grupos políticos, inclusive para abastecer o caixa 2 da campanha de Jaques Wagner ao governo da Bahia em 2006.
Um dos focos da Lava-Jato é o antecessor de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, Rogério Manso, que, segundo Cerveró, operou nesta área antes do governo do PT e também durante as gestões petistas, tendo atuado para repassar recursos da área de trading para abastecer a campanha de Wagner ao governo baiano em 2006.
MANSO NEGA – Desde que vieram à tona as delações, Manso rechaça as acusações e afirma que jamais realizou ou permitiu que alguém realizasse qualquer ato ilícito que pudesse prejudicar a Petrobrás. “Nunca precisei de apoio político para progredir; como empregado concursado e com experiência nas áreas em que atuei, sempre exerci minhas atribuições de forma leal e honesta”, afirmou o ex-diretor em nota divulgada quando as delações vieram à tona.
O ex-ministro Jaques Wagner também vem negando seu envolvimento em irregularidades e desde que os depoimentos vieram à tona se colocou à disposição das autoridades.
QUATRO EMPRESAS – Ao todo, a PF cobrou da Petrobras uma série de informações e documentos sobre o funcionamento da área dentro da estatal, bem como a relação de todos os invoices (comprovantes) de operações com as empresas Trafigura, Glencore, Cockett e Vitol de 2004 até hoje.
O inquérito para investigar a área de trading da Petrobrás foi instaurado em 29 de agosto de 2016 e tem dentre os investigados, além de Manso, o ex-braço direito de Paulo Roberto Costa José Raimundo Brandão Pereira e o executivo Mariano Marcondes Ferraz, já foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 10 anos e quatro meses de prisão pelo pagamento de propina a Costa envolvendo um contrato de serviços de armazenagem e acostagem de navios no Porto de Suape, em Pernambuco. Também são investigadas duas empresas multinacionais que mantiveram negócios com a Petrobrás na área de trading de combustíveis.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Em tradução simultânea, Parente não quis mexer na área controlada pelo PSDB na estatal. Isso explica a estratégica maluca de diminuir o refino no Brasil e comprar diesel nos Estados Unidos, uma política empresarial suicida que foi abandonada pela Petrobras após a saída de Parente, que também precisa ser investigado pela Lava Jato, é claro. (C.N.)Posted in Tribuna da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário