quinta-feira, 29 de março de 2018

Chocolates caseiros e barras substituem ovos e barateiam páscoa

29/03/2018 17h26
Brasília
Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil
Grande volume de ovos de páscoa ainda nas prateleiras faz lojas baixarem preço Marcelo Camargo/Agência Brasil

A grande quantidade de ovos de chocolate ainda estocados em algumas redes de varejo tem resultando em promoções de última hora que podem beneficiar os consumidores nesta Páscoa. Em parte, isso se explica pela tendência cada vez maior de presentear as pessoas com barras de chocolate ou mesmo com ovos de páscoa feitos em casa.

“Leva menos de uma hora para derreter as barras e colocar o chocolate nas formas ovais ”, explicou à Agência Brasil a psicóloga Olívia Mendonça, de 53 anos. Olívia estava em uma loja localizada na região central de Brasília, onde buscava barras de pelo menos 1 quilo para preparar os ovos de páscoa dos filhos. “Além de ser muito mais barato, é uma forma de presentear com um ovo mais especial por ser personalizado”, afirmou.

Carregando várias barras de chocolate de 100g, de diferentes marcas e tipos, o promotor de Justiça Jaime Miranda, de 57 anos, disse que estava preparando entre 12 e 15 “combos" do produto para presentear parentes e amigos. “É a terceira Páscoa seguida em que estamos fazendo isso. Vamos colocar em sacos plásticos barras de vários sabores e marcas. A ideia é de variedade. Uma filosofia similar à da caixa de bombom, só que com barras de chocolate.”

Segundo o promotor, além de agradar pela diversidade, o combo representa uma economia entre 50% e 75% do que seria gasto caso comprasse o mesmo peso de chocolates, mas na forma de ovos. Para ter uma ideia, uma barra de 100g de chocolate ao leite custava R$3,89 na loja em que Miranda estava. O mesmo chocolate, no formato de ovo de 185g, estava a R$ 37. A barra de 1kg, que, derretida, poderia se transformar em ovos de chocolate, custava R$ 23,99.

Em Brasília, as lojas constataram a tendência e se prepararam para o novo tipo de demanda. “O consumo de ovos de páscoa tem diminuído nos últimos anos, na comparação com a venda de barras. Cada vez mais pessoas têm optado por fazer os próprios ovos, em vez de comprá-los, dando menos importância para a forma, mas sem deixar de lado o sabor ou a qualidade do chocolate”, disse a fiscal de caixa Gessiana Moreira, de 24 anos. Segundo a fiscal, o preço dos ovos tem subido a cada ano, o que acabou por reforçar ainda mais essa tendência.

Outro exemplo da discrepância de preços entre o mesmo tipo de chocolate são os bombons. Ovos de páscoa de marcas tradicionais de bombom custam, em uma mesma loja, R$ 33,69 (190g), R$ 35,59 (270g), R$ 47,19 (330g). Já o saco de 1kg com os mesmos bombons custa entre R$ 22,99 e R$ 27,99.

Promoções de última hora
Preços poderiam ser mais baixos desde o começo, afirmam consumidores Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em alguns casos, a frustração nas vendas de algumas das grandes redes de varejo – e a quantidade de ovos ainda em estoque a poucos dias da Páscoa – pode acabar beneficiando consumidores que optarem por comprar na véspera da festa. “Tenho pesquisado e vejo que, nas últimas 48 horas, as grandes redes de varejo têm baixado os preços para menos da metade”, disse o consumidor José Pedro Morgado, jornalista e supervisor de call center.

Na loja em que ele se encontrava, ovos de marcas populares já anunciavam diversas promoções. Os de bombom, que custavam R$ 44,99 (de 185g), baixaram para R$ 19,99. “Isso não é uma promoção e mostra que eles poderiam vender a um preço bem mais baixo desde o começo”, afirmou o jornalista.

“Ao que parece, as grandes lojas tentaram se aproveitar da imagem consolidada das marcas de chocolate para cobrar preços altos. Agora que a Páscoa está perto, elas estão fazendo de tudo para 'desovar' os ovos”, acrescentou. Morgado disse que adota dois critérios para fazer as compras típicas desse período do ano. “Prefiro dar qualidade para uns e quantidade para outros. Tudo depende da situação”, disse o jornalista, segurando uma sacola com chocolates de outra loja, famosa pela qualidade de seus produtos.

“Quando a qualidade salga demais o preço do chocolate, não vale a pena, mas notei, este ano, que a diferença de preços entre as grandes redes e as lojas especializadas em chocolate diminuiu bastante. Talvez seja uma estratégia das especializadas para pegar parte dos clientes insatisfeitos com o alto preço cobrado pelas grandes lojas de varejo”, acrescentou.

O preço, no entanto, parece não ter importância para uma pequena parcela de consumidores disposta a pagar até R$ 1.100 por apenas um ovo de páscoa. Cobrando este preço por um ovo de 5 quilos, uma outra loja especializada – e famosa não só pela qualidade, mas pelo alto preço de seus chocolates – só conseguiu vender uma unidade. Nessa loja, localizada na região central de Brasília, um ovo de Nhá Benta de 170g custa R$ 59,90 e o de 300g. R$ 99,90. Há também ovos que misturam quatro tipos de sobremesas e clássicos da loja. Para se deliciar com 610g desse tipo de guloseima, é necessário desembolsar R$179,90.

Ali perto, em outra loja especializada em chocolates, o ovo de páscoa mais caro, de 2,8k quilos custa R$ 299,90. “Já vendemos 12 desses, mas os que têm mais saída são o clássico, de 360g, que custa R$ 44,90; e o trufado de 180 g, que custa R$ 24,90”.

Para atrair o público infantil, a loja tem alguns ovos que vêm acompanhados de brinquedos, fones de ouvido e até mesmo bolsas em formato de concha. Em geral esses ovos têm entre 160g e 200g e custam de R$ 51,90 a R$ 61,90. “Nesses casos, notamos que o maior interesse é pelo brinquedo. Não pelo chocolate”, explicou disse à Agência Brasil a vendedora Iasmim Dias, de 24 anos.

Em geral, as lojas especializadas em chocolate trabalham com preço tabelado, o que inviabiliza descontos. A maioria dos clientes busca chocolates de qualidade. Iasmim também nota uma tendência de movimento maior nos últimos dias, antes do domingo de Páscoa. “Na semana passada muita gente entrou na nossa loja apenas para ver os preços. Foram poucas vendas, mas, desde a última terça-feira (27), nossos chocolates começaram a ter maior saída. Notamos que, agora, as pessoas têm entrado na loja decididas e vão direto ao produto que estão interessadas em comprar”, disse a vendedora.

O maior desafio para a servidora pública Flávia Gomes, de 38 anos, é encontrar ovos de chocolate sem lactose para o marido. “Como não há mais ovos sem lactose, terei de comprar em tabletes para presenteá-lo”. Segundo Flávia, raramente se encontram ovos sem lactose, o que foi confirmado pela vendedora Renata Lima, de 23 anos. “É sempre assim: os ovos [de páscoa] sem lactose chegam e acabam imediatamente.”

Edição: Nádia Franco
Agência Brasil

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