domingo, 7 de janeiro de 2018

Ministro da Defesa age de forma irresponsável no caso do julgamento de Lula

A dúvida: só Lula pode conter ou incitar a multidão

Carlos Newton

O auditor da Receita Federal Darcy Leite enviou à Tribuna da Internet declarações do ministro da Defesa, Raul Jungmann, que merecem críticas veementes. Segundo a excelente colunista Mônica Bergamo, da Folha, Jungmann disse que a PM gaúcha (Brigada Militar) tem todas as condições de garantir a segurança no julgamento do ex-presidente Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, no próximo dia 24. “Não há sinais de descontrole”, afirmou ele, acrescentando: “Não há por que dramatizar e espetacularizar o julgamento do Lula. É um fato importante, sem dúvida, mas nada indica que levará à desordem pública”.

Ainda segundo o ministro da Defesa, “é preciso um trabalho de prevenção, como revistar os ônibus [com manifestantes] nas estradas e separar as tribos [a favor e contra o PT], o que a PM tem toda a condição de fazer”.

IRRESPONSABILIDADE – Não há dúvida de que o ministro, que nunca foi especialista ou estudioso de assuntos ligados à segurança pública, está agindo de forma altamente irresponsável.

Comporta-se como seguidor do professor Pangloss, célebre personagem do livro “Cândido ou o Otimismo”, de Voltaire. Ao contrário do que Jungmann diz, tudo indica que pode acontecer desordem no julgamento de Lula, porque os petistas e aliados estão sendo convocados por José Dirceu para a “luta” e “o combate”, não apenas para uma manifestação de protesto. 

O ministro desconhece que se trata de uma manobra que reunirá milhares de militantes sem terra, sem teto e sem juízo. Todos eles estão revoltados, por julgar que Lula vem sendo vítima de um complô político e judiciário, destinado a evitar que ele volte ao poder para novamente defender o povo.

REAÇÃO IMPREVISÍVEL – Esses milhares de militantes irão a Porto Alegre na esperança de que a presença deles seja suficiente para abortar o golpe e impedir que Lula seja condenado. E ninguém pode prever como reagirá essa multidão diante da notícia de que Lula foi condenado e não poderá mais se candidatar.

Pode o ministro Jungmann garantir que todos os militantes seguirão pacificamente até os acampamentos e para os ônibus, onde a grande maioria será alojada? Quem pode se arriscar a garantir que não haverá reação agressiva?

É certo que em setembro não houve tumulto em Curitiba, mas a situação era muito diferente, porque Lula foi dar apenas um depoimento. Agora é a decisão final, o clímax, o desfecho de tudo. E a reação da massa vai depender de Lula, que tanto pode conter ou incitar a multidão. Será uma decisão pessoal dele.

PROVIDÊNCIAS – A esta altura, o ministro da Defesa já deveria estar reunido com as autoridades federais, estaduais e municipais, para prevenir o menor impacto possível.

Deve haver uma divisão de tarefas, envolvendo a Polícia Federal, a Brigada Militar, a Polícia Civil, a Guarda Municipal, a Força Nacional de Segurança e até os serviços municipais de trânsito, que terão de bloquear vias públicas, inverter direção de ruas. É preciso delimitar os locais onde os os ônibus ficarão estacionados, as barracas serão erguidas e os banheiros químicos instalados, para que não façam suas necessidades no meio da rua, será uma trabalheira enorme.

O ministro Jungmann, porém, do alto de seu misto de arrogância e ignorância, diz que basta a Brigada Militar vistoriar os ônibus nos acessos à cidade. Como se vê, ainda não caiu a ficha do que realmente pode acontecer a Porto Alegre, no dia da condenação de Lula em segunda instância. Façam suas apostas.
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