Charge do Alpino (Yahoo Brasil)
Carlos Newton
Sérgio Cabral Filho tinha uma carreira sólida. Sou testemunha-partícipe, porque estava entre os amigos de seu pai e de seu sogro, que impulsionaram a entrada dele na política. Já contei aqui. Em 1990, no lançamento da primeira candidatura de Serginho a deputado estadual, organizamos um jantar de adesão na Churrascaria Copacabana, para arrecadar recursos à campanha. Fiquei na mesa principal, com os pais dele, então vereador Sérgio Cabral e Magali, junto com o sogro Gastão Neves, sobrinho do doutor Tancredo, e os deputados federais Artur da Távola e Francisco Dornelles, também sobrinho de Tancredo. Era uma mesa pequena.
Serginho foi eleito e não nos desapontou, muito pelo contrário. Recusou o carro oficial e as mordomias, dirigia o próprio Voyage, criou os bailes da terceira idade no clube Boqueirão do Passeio e no Canecão, a gente se orgulhava dele, que se reelegeu em 1994, virou presidente da Assembleia e aí todos sabem o que aconteceu.
A FARSA DAS UPPs – Eleito governador, quando criou as primeiras UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), nosso orgulho era ainda maior. Pela primeira vez, havia um programa sólido para o problema das favelas. Um grande amigo, o delegado Manoel Vidal, ex-chefe de Polícia e considerado um mito na corporação, então me disse que era uma farsa de marketing, porque o Rio já tinha mais de mil favelas e não havia recursos nem efetivo para instalar UPPs em todas elas.
De posse dessas informações, saí em campo e descobri algo estarrecedor. As UPPs de Cabral e do secretário José Mariano Beltrame eram mesmo uma farsa e tinham sido criadas mediante acordo com os traficantes. A Polícia deixava de persegui-los, eles continuavam com a venda de drogas no estilo “delivery”, mas desfaziam suas tropas, desarmavam os “soldados”das máscaras ninjas, e as favelas ficavam em paz, sem maiores problemas.
Foi assim que a PM subiu nas favelas e não houve tiroteio, os traficantes não dispararam um só tiro, não lançaram granadas, não houve a menor reação.
CABRAL, DELIRANTE – Em seu delírio de grandeza, Cabral disse aos jornalistas: “Dei 48 horas para os traficantes saírem do Cantagalo e do Pavão-Pavãzinho”. Nesta época, eu apenas editava o blog e não escrevia artigos. Passei as todas informações por escrito a Helio Fernandes e o grande jornalista publicou uma série de artigos demolidores, que Cabral e Beltrame jamais tiveram a coragem de desmentir.
É por isso que Helio Fernandes afirma que o ministro Torquato Jardim está certo em suas denúncias. Alguém acha que Cabral ganhou dinheiro somente com corrupção? Ora, os cargos nas UPPs sempre foram disputadíssimos, porque não havia mais o menor risco para os policiais, somente atendiam brigas de bêbados, marido batendo em mulher, rixas de vizinhos, pequenos delitos, coisas assim. Em contrapartida, os traficantes, que não gastavam mais dinheiros com seus “soldados”, tornaram-se generosos com a corporação.
CRIMINALIDADE EM ALTA – Os antigos “soldados” do tráfico, sem alternativa para sobreviver, desceram para o asfalto e passaram a fazer assaltos, roubos de carga etc. A criminalidade se expandiu, apesar da maquiagem estatística, até fugir totalmente ao controle, invadindo shoppings e condomínios, como se vê hoje em dia.
A farsa das UPPs tinha data de validade para acabar, porque se formaram outras quadrilhas que resolveram participar do esquema, enfrentando os donos dos pontos de venda, que tiveram de armar novamente seus “soldados”. Começou assim esta guerra civil nas favelas, em todas elas, atingindo os bairros proletários do Grande Rio e até na Zona Sul.
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P.S. – Hoje, para qualquer PM, ser lotado em UPP é uma sentença de morte.
P.S 2 – As informações da Inteligência do Exército, citadas pelo ministro da Justiça, têm a griffe da “Tribuna da Internet”. Foi a partir das denúncias aqui publicadas por Helio Fernandes que o Exército conseguiu entender o que aconteceu no Rio de Janeiro, depois da “liberação” do tráfico de drogas pela dupla Cabral/Beltrame, e nesta armação o atual governador Pezão sempre foi apenas coadjuvante, é preciso reconhecer.
P.S 3 – O mais chocante é lembrar que Cabral esperava ser eleito presidente da República, no embalo do marketing da pacificação das favelas. Quase deu certo, porque estava cotado para ser vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff e levou uma rasteira de Temer. Se isto não tivesse acontecido, Sérgio Cabral seria hoje o presidente da República, e não poderia ser processado pelos crimes praticados antes de assumir o mandato, algo surreal… (C.N.)Posted in Tribuna da Internet
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