Charge do Tacho (Jornal NH)
Carlos Newton
Já era esperado que o presidente Michel Temer conseguisse vencer o primeiro round contra a força-tarefa da Lava Jato. Foi um resultado que custou muito caro e, portanto, precisa valer a pena. Mas ninguém sabe o que pode acontecer, até porque o procurador-geral Rodrigo Janot ainda está preparando a segunda denúncia contra Michel Temer, que não conquistou imunidade total na compra e venda de deputados no mercado livre de Brasília.
FACHIN SE PRONUNCIA – Nesta quarta-feira, enquanto os deputados ainda discursavam, o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, anunciou que logo após divulgada a decisão da Câmara, ele iria despachar nos autos da denúncia que envolve o presidente da República e um de seus ex-assessores no Planalto, o suplente de deputado federal Rodrigo Rocha Loures, ambos denunciados por crime de corrupção passiva.
Porém, quando saiu a decisão da Câmara, o ministro Edson Fachin já não estava mais no Supremo, somente nesta quinta-feira é que se saberá o teor de seu despacho no inquérito. Mas já se pode fazer uma projeção.
NAS MÃOS DE MORO – Com a decisão da Câmara, fica claro que o maior prejudicado será o ex-assessor Rocha Loures, porque a denúncia contra ele será encaminhada por Fachin para o juiz Sérgio Moro, na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba. A situação judicial de Loures já está definida, ele será inevitavelmente condenado, não apenas por ter sido filmado recebendo a mala de dinheiro do executivo Ricardo Saud, da JBS, mas sobretudo porque voluntariamente se tornou réu confesso.
Ao devolver a mala de dinheiro à Polícia Federal contendo R$ 465 mil e depois completando os R$ 500 mil com depósito judicial de R$ 35 mil na Caixa Econômica Federal, o ex-assessor tacitamente confessou o crime e eliminou qualquer possibilidade de defesa. Agora, a única chance que lhe resta é fazer delação premiada, uma possibilidade concreta que destruirá o que ainda resta do presidente Michel Temer.
TEMER INVESTIGADO – Ao contrário do que pode parecer, com a decisão da Câmara o presidente Temer não recebeu imunidade nem atestado de bons antecedentes. Pelo contrário. Sua situação só tende a se agravar. Embora o relator Fachin não vá mencionar essa circunstância em seu despacho, o fato concreto é que o presidente da República continuará ser investigado, e não apenas no aprofundamento da denúncia contra Rocha Loures, mas também nos outros inquéritos que envolvem propinas e doações ilegais ao PMDB, pois Temer era presidente do partido.
Ao investigar Rocha Loures, automaticamente a Lava Jato estará investigando também Temer, porque os dois são irmãos xifópagos na corrupção. Da mesma forma, ao investigar Padilha, Moreira, Cunha, Funaro & Cia, a força-tarefa vai colher também evidências e provas contra o presidente da República, cuja imunidade é relativa e tem prazo de validade exíguo, porque termina impreterivelmente em 31 de dezembro de 2018,
NÃO GOVERNA – Temer é uma figura estranhíssima e sinistra. Há vários meses ele não governa, apenas cuida de sua defesa. E vai chegar ao final do mandato sem governar, porque quem está segurando a administração é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. É nele que o mercado confia.
Nesta conturbada quarta-feira, por exemplo, a Bolsa subiu espantosos 0,93%, com o índice atingindo 67.135 pontos, patamar que exibe o surrealismo da economia brasileira, totalmente descolada do momento político, como se estivéssemos no mundo da Lula. E ninguém sabe até quando isso vai durar.
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P.S. – Michel Temer aparenta ser vitorioso, passou a exibir um sorriso permanente, mas na política as aparências sempre enganam. Na verdade, ele está em fase de inferno astral, completa 77 anos no dia 23 de setembro. Sua vida deixou de ser prazerosa. Pelo contrário, todo dia recebe notícias ruins, é obrigado a estar viajando com frequência, não tem sossego nem consegue relaxar. É como se estivesse submetido à tortura chinesa, que aumenta um pouquinho a cada dia. (C.N.)Posted in Tribuna da Internet
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