SEG 17 JULHO 2017 12:15 ATUALIZADO EM SEG 17 JULHO 2017 10:52
Omar Freire/Imprensa MG
Curso já está na etapa de atividades práticas e busca dar uma nova oportunidade no mercado de trabalho para estas mulheres
Cinquenta mulheres moradoras de áreas vulneráveis de Santa Luzia e de Nova Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão colocando a mão na argamassa e encarando um novo desafio profissional.
Elas estão na fase final do curso de pedreira de acabamento, oferecido pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac) em parceria com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
Com carga horária de 200 horas, o curso já está na etapa de atividades práticas e busca dar uma nova oportunidade no mercado de trabalho para estas mulheres.
Ao fim da capacitação, elas conseguirão realizar pequenas obras e reparos que poderão ser aproveitados de forma profissional ou dentro do âmbito familiar.
Mas as aulas, oferecidas para quem está em situação de vulnerabilidade, vão além da construção civil. O treinamento também contempla conteúdos sobre inclusão digital, igualdade de gênero e empoderamento, como forma de contribuir com uma mudança real de vida.
Parte destas mulheres é atendida diretamente pelos programas de prevenção à criminalidade da Sesp, como Mediação de Conflitos, Programa de Inclusão Social de Egressos (Presp), Central de Acompanhamento de Alternativas Penais (Ceapa) e Fica Vivo!.
As demais por parceiros e rede dos Centros de Prevenção à Criminalidade (CPCs), onde são desenvolvidos os programas, em Santa Luzia e Nova Contagem.
Joelma Santana, de 26 anos, é uma das alunas. Filha de pai pedreiro, ela não quer depender de ninguém para organizar a casa onde mora com o marido e os dois filhos.
“Estou querendo quebrar uma parede, colocar cerâmica no piso do meu banheiro e consertar um cano que está vazando”, diz a jovem que já trabalhou em salão de cabeleireiro e que agora até pensa em ingressar no mercado de trabalho da construção civil, mesmo que o pai continue acreditando que essa é uma área exclusivamente masculina.
A etapa de atividades práticas é realizada na sede da Comunidade Kolping, uma ONG parceira do projeto. Lá as mulheres estão construindo um banheiro, fazendo reparo na área externa e paredes, bem como assentando pisos e revestimentos.
Nesse processo todos saem ganhando. Afinal a sede da comunidade ganhará uma reforma e as envolvidas aprendem efetivamente a preparar um canteiro de obras.
Para viabilizar a participação diária de todas as mulheres, elas recebem vale transporte e lanche todos os dias. Além disso, as que têm filhos podem contar com a ajuda de uma instrutora que fica por conta das crianças enquanto as mães se empenham no aprendizado.
Para Carmem Alves, de 40 anos, que cuida dos três filhos e de uma neta, a oportunidade é única.
“Quando soube fiquei logo interessada. Sempre quis fazer um curso assim. Gratuito, com passagem e alimentação incluídas, como poderia perder essa chance? Não quero depender de ninguém pra colocar uma cerâmica no meu banheiro e assentar a bancada da minha cozinha. Além disso, é uma oportunidade de eu ganhar uma renda extra pra ajudar nas despesas da minha família”, diz Carmem.
A mais nova da turma de alunas de Santa Luzia, Michelly Helena tem apenas 16 anos e está cursando o segundo ano do ensino médio. Como estava com as tardes ociosas ela decidiu se inscrever no curso. A oportunidade já influenciou a sua escolha no sonho da graduação.
“Estou pensando em cursar engenharia. Não pensava nisso antes de fazer o curso de pedreira. Mas estou gostando tanto que já penso em prestar vestibular nesta área”, afirma a adolescente, que conta também com o apoio dos colegas da escola.
Lincoln de Sales é o responsável por ensinar às mulheres de Santa Luzia o ofício predominantemente masculino e garante que a única diferença entre homens e mulheres numa obra é a força física.
“Sem dúvida o homem tem mais força física, mas não quer dizer que tenha mais capacidade. A mulher de um modo geral tem mais capricho, dedicação e força de vontade. Não sinto dificuldade em trabalhar com o público feminino. Eu me identifico muito com o trabalho que elas desempenham”, diz Lincoln, que é formado em Belas Artes e há 15 anos dedica seu tempo ensinando a profissão de mestre de obras.
Agência Minas Gerais
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