Eduardo Aquino
O Tempo
Nascemos sempre repletos de defeitos, não há quem não os tenha. Não à toa, tenho arquivada a entrevista da Gisele Bündchen na qual ela relata, em sua espontaneidade, o quanto se achava horrorosa e quanto sofreu com bullying e apelidos. Ela achava suas pernas magras, e o corpo, esquálido, até ser descoberta como modelo. Daí a ser considerada a mulher mais bonita do mundo foi um pulo. Imagina quantas tops estão por aí chorosas, mal resolvidas, se escondendo do mundo, que, por sua vez, está querendo desesperadamente revelá-las? Quantos jovens brilhantes deixam de ocupar uma vaga por não se acharem capacitados numa empresa de ponta?
Antes de mais nada, vivemos num tempo de falsidades, exibicionismos, exposição e de muita, muita imaturidade. Piorando a caótica realidade, as redes sociais na internet são inclementes ao expor pessoas a situações extremas e pesadas, ressaltando o ridículo, manipulando fatos, criando “verdades” e massacrando os defeitos nossos de cada dia. Daí a viralizar a baixa autoestima foi um pulo.
MAIS SUICÍDIOS – Entre crianças (algo raro até há poucas décadas) e adolescentes, a baixa autoestima tem se manifestado de forma tão grave que o aumento de suicídios pós-ciberbullying já virou tragédia nos Estados Unidos, no Japão e na Europa. Também está entre os adultos jovens, principalmente quando se trata de temas ligados à vida afetiva, sexual e profissional, e, nas pessoas maduras, causada por problemas financeiros, conjugais e familiares. Tudo isso só da baixa autoestima!
O achar-se pior que todo mundo virou lugar-comum. Não há photoshop, botox ou roupa de marca que resolva. Nem pós ou doutorado. Amor próprio não se compra, não se maquia, não se inventa… Amor próprio desenvolve-se com muita humildade, zelo, carinho e coragem.
Entrar em redes sociais e ver pessoas sorridentes, acompanhar suas viagens, conhecer seus filhos unidos, seus carrões (quanta coisa falsa, muitas vezes!)…
INFERNO PESSOAL – Ao comparar com a lida diária, quem assiste ao paraíso virtual se sente no inferno do dia a dia. E a baixa autoestima sempre será uma distorção da imagem de si mesmo. É o péssimo comportamento de supervalorizar as características alheias e menosprezar as próprias. “Queria ter o nariz do beltrano, o corpo do fulano, a inteligência do ciclano…” e por aí vai. Sem contar que o sofrimento costuma sobrar para a família: “tinha que ter cabelo tão ruim, mãe?!”.
A arte mais difícil é amar-se. Odiar-se é fácil, basta um espelho, uma frustração, uma paixão mal resolvida ou ouvir um sonoro “não” de alguém ou de uma vaga sonhada. É fácil se lamentar e achar a vida pesada, injusta. É fácil vestir seu uniforme de burro, horroroso, feio, zero à esquerda e se trancar no quarto, sentar no final da sala e querer ser invisível, querer morrer antes mesmo de merecer ter vivido. Pois amar a si mesmo dá um baita trabalho.
ESPELHO INTERNO – É preciso encarar o espelho interno a cada dia e surpreender-se. Olhar de perto nossas imperfeições. Não duvide, não há quem não as tenha. É preciso surpreender-se ao encarar que temos virtudes, muitas, por sinal, que se escondiam atrás da fixação pela aparência.
Esse coração enorme, por exemplo, o desejo de existir, fazer algo bom… E esse sorriso lindo, tão pouco usado pois o mau humor o roubava? Sim, o nariz pode ser largo, mas seus olhos são tão expressivos que, juro, não dá para censurar o nariz. Concordo que o cabelo é crespo, mas charmoso ao ser colocado de lado, e com essa voz rouca… Amar-se é ser benevolente, generoso consigo mesmo. Aprender a errar, não ser obrigado a ser nem o melhor, nem o pior, apenas você. Gostar de você mesmo é brincar com seu jeito de ser. Único, pois você faz a diferença, ninguém nunca será como você! Aproveite ser quem é. Deve ser encantador ser como é. Daria um livro. Escreva-o.
Zoar a si mesmo e assim desarmar a maldade alheia. As pessoas aqui fora sempre querem umas às outras, desde que umas se disponham a se apresentar às outras com seus defeitos e suas virtudes. Não busque no outro ou em coisas materiais a solução para sua baixa autoestima ou passará a vida inteira codependente de alguém ou de coisas materiais, para fingir ser feliz. Sorria, você está sendo filmado por sua estima própria.
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