segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Greve da PM foi provocada pelo governador, que ficou rico dando “consultorias”


Paulo Hartung está sendo processado no Supremo

Mathias Erdtmann

Aqui no Espírito Santo, a família, o convívio familiar, o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal e a saúde são talvez os principais valores perseguidos pelo povo. Parques públicos numerosos e cuidados com esmero, clima excelente, com o céu persistentemente azul. Pessoas acordam cedo e fazem exercício ao ar livre, mesmo no domingo. Esses valores têm seu aspecto positivo, mas sempre existem controvérsias. A valorização excessiva do núcleo familiar em detrimento da sociedade leva a concentração, desigualdade e fortalecimento de familias hegemônicas, chegando à arrogância (“antes o meu, depois o deles”).

RETRATO DA ARROGÂNCIA – O cenário que se viu nos últimos dias no Espírito Santo é o retrato desta arrogância, que é característica da sociedade capixaba. Várias autoridades, todas com salários altíssimos (em alguns casos, bem maiores do que o teto constitucional) e jornada de trabalho diminuta, reclamam de policiais que recebem dois mil e tantos reais por mês para arriscar a vida. Aos mais pobres, se espera somente a subserviência (“onde já se viu reclamarem de não receber reajuste inflacionário há três anos, pelo menos eles têm trabalho esão pagos todo mês”).

O governador Paulo Hartung, do PMDB, recém chegado do Hospital Sírio-Libanês (quem pagou essa conta?), diz que o estado não tem dinheiro, enquanto seu palácio manda comprar 70 mil reais em queijo.

EX-CONSULTOR – O fato é que o atual governador ficou milionário no período de quatro anos que esteve afastado do governo, dando consultorias (de novo, as “consultorias”) a empresas com grandes interesses no governo. Comprou um apartamento por 48 mil reais e revendeu por milhões, dias depois (“Pagou todos os impostos”, diz o advogado).

Este mesmo governador ainda desonera, todo ano, R$ 700 milhões de reais para empresas desconhecidas, protegidas pelo sigilo imposto por ele mesmo. Em contrapartida, a arrecadação cai há três anos, mostrando a falácia do argumento de isenção para crescimento das empresas “campeãs”.

O governador ainda ignorou parecer do TCU que apontava sobrepreço de 700 milhões em pedágios cobrados na ponte que liga Vitória e Vila-Velha. E advoga a favor do retorno da operação da Samarco, que matou o Rio Doce, sem ter, até agora, cessado o vazamento nem pago multa alguma.

IRRESPONSABILIDADE – O Espírito Santo foi o primeiro estado a ir correndo para a austeridade e a atender as metas de economia para pagamento da dívida financeira. Esqueceram, no entanto, que governar é gerenciar uma série de dívidas: sociais, ambientais e também financeiras.

Essa priorização completa e irrestrita à dívida financeira, a qual o governador Paulo Hartung diz que é errado renegociar, em detrimento a todas as outras, traz agora um resultado desastroso: mais de 100 mortos, 7 dias de PIB reduzidíssimo no magro mês de fevereiro. Para tudo existe limite.

O pior é que a austeridade é extremamente seletiva, com os luxos da corte “palaciana”, como gostam de chamar, cada vez mais extravagantes. Vencimentos de centena de milhares de reais, Judiciário explodindo o teto orçamentário – tudo que não funciona sendo premiado, com a inflação e muito mais.

MÍDIA SOB CONTROLE -Como o orçamento para a grande mídia também sofreu gordos aumentos, abundam editoriais dizendo que a crise não tem nada a ver com a austeridade. Mas é preciso contar outra. Congele salários por três anos (ou mais) e espere que nada mude. O Espírito Santo de hoje é o Brasil de amanhã. Até porque a mídia busca pintar o governador como herói da austeridade, exemplo a ser seguido, em sua luta contra uma população mal agradecida, irresponsável e ensandecida, composta por criminosos, da qual só ele e seus asseclas se excluem.

Afirma-se que policial fazer greve é contra lei. Mas também é contra lei não ajustar os salários do funcionalismo público pela inflação a cada ano. É contra lei gastar dinheiro público (ou deixar de arrecadar) sem informar o destino. Em tempos de desobediência persistente do poder público, os policiais são somente uns a mais para contribuir para a desobediência, que em breve poderá ser civil e generalizada.

“Trabalhe e confie” que a “Ordem e Progresso” virão – é o que nos ensinaram. No entanto, sem os exemplos vindos de cima, esse lema não passará de uma bandeira demagógica e hipócrita.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Hartung silenciou boa parte da imprensa, mas não consegue calar a internet. Nas redes sociais circula um verdadeiro dossiê do governador com a compilação de várias noticias escandalosas, desmistificando sua aura de grande administrador. (C.N.) 


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