Oswaldo Barbosa de Almeida: "A farsa nacional"
Advogado e escritor
30 JAN 2017Por 02h:00
Nos últimos dias, em que a população brasileira, horrorizada, assiste às barbáries ocorridas em alguns presídios do norte e nordeste do país, outra barbaridade, esta perpetrada contra o bom senso e ofendendo a credulidade das pessoas, ganha, em paralelo com aquelas, o noticiário da imprensa. Refiro-me às movimentações da chamada “Força Nacional” pelo país, por decisão das autoridades federais, atendendo a pedidos dos governadores das unidades em que aconteceram os massacres em estabelecimentos carcerários.
Essa tal “Força Nacional”, criada na gestão petista, é, na realidade, uma figura da ficção política brasileira. Foi, na época de sua criação, mais um evento propagandístico, como o foi o lançamento do tal “Programa de Aceleração do Crescimento”; conhecido pela sigla PAC, esteve sempre emPACado”. Quando do lançamento desse “programa”, a propaganda oficial torrou milhões de nossos impostos para alardear que estava “começando o espetáculo do crescimento”, quando, na verdade, ali começava “o crescimento do espetáculo”, como bem pontuou um órgão da imprensa independente.
Voltando ao que, jocosamente, alguns apelidaram de “farsa nacional”. Trata-se de um grupamento formado por elementos requisitados das polícias e bombeiros dos estados, não tendo ele contingente próprio. Ou seja, para formar esse arremedo, desfalcam-se outros setores sempre deficientes em matéria de segurança pública.
“Criada em 2004, a Força Nacional é só um engenhoso instrumento de propaganda do governo federal, que a utiliza para fingir que se importa. Trata-se de ação meramente cenográfica que, dizem especialistas, não faz diferença.” (Coluna Cláudio Humberto, jornal “Correio do Estado”, 16/1/2017). Para exemplificar a insignificância dessa “força”, a citada coluna aponta alguns dados: “... após anos de insistência e 39 presidiários esquartejados, o governo enviou a Força Nacional para Roraima. Eram apenas 100 homens para o Estado cuja Polícia Militar tem quase 1.600.” Segue-se outro exemplo: “Em 2015, com graves ameaças à segurança pública, o Piauí recebeu ridículos 90 soldados da Força Nacional. Sua PM tem 5.507 homens”. E ainda outro: “Na mais recente incursão em Brasília, a Força Nacional destacou 80 soldados. Não fez a mínima diferença onde a PM tem 16.000 homens.”
Esse disparate custa caro, quase 240 milhões de reais por ano, que seriam muito melhor empregados se fossem distribuídos aos Estados, ainda segundo a referida coluna. Realmente, não tem sentido deslocar pequenos contingentes de militares para os mais distantes pontos do país, onde pouco significam em termos de atuação (quando os estados “beneficiados” possuem forças policiais em muito maior quantitativo), gastando fortunas em transporte, alojamento, alimentação, diárias, etc. Nesse sentido, manifestou-se o renomado advogado João Batista Pereira, em artigo publicado em 18/1/2017 neste mesmo “Correio do Estado”. Pergunta o articulista, expert em segurança pública, uma vez que foi oficial de nossa Polícia Militar e Secretário de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul: “Qual o benefício concreto da Guarda Nacional (sic) no episódio das rebeliões?” E ele mesmo responde: “Nenhum. Atuam de maneira pontual por tempo determinado com gastos consideráveis com transportes, diárias, etc.”
Se contingentes tão insignificantes “fazem a diferença” nos estados “beneficiados” por sua atuação, por que razão não cuidaram eles de selecionar, nomear e preparar elementos locais para suprir essas poucas vagas? Custaria infinitamente mais barato ao espoliado contribuinte tupiniquim.
http://www.correiodoestado.com.br/opiniao/oswaldo-barbosa-de-almeida-a-farsa-nacional/296662/
Nenhum comentário:
Postar um comentário