domingo, 4 de dezembro de 2016

Zagueiro da Chapecoense é velado na Câmara Municipal de Juiz de Fora

04/12/2016 09h38 - Atualizado em 04/12/2016 09h38

Bruno Ribeiro

Do G1 Zona da Mata

Corpo de Marcelo é velado na Câmara de Juiz de Fora 
(Foto: Cleberson Silva/Chapecoense)

O velório do zagueiro da Chapecoense, Marcelo da Silva, começou em Juiz de Fora. O corpo do jogador, que é um dos 71 mortos do acidente aéreo que aconteceu na última terça-feira, chegou à cidade durante a madrugada. A cerimônia teve início pouco antes das 8h, na Câmara Municipal, com presença de familiares.

A partir das 9h, o público terá acesso ao velório para prestar homenagens ao atleta. O sepultamento está previsto para as 16h, no Cemitério Municipal, mas pode acontecer até 17h.

Em razão de imprevistos, a tendência era que o avião que levava o corpo do jogador só desembarcasse na região no início da tarde deste domingo. Porém, o corpo do zagueiro, que atuou por Volta Redonda, Flamengo e Chapecoense, chegou ao município às 2h30, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
Pai de Marcelo deve chegar a Juiz de Fora às 15h
(Foto: Paulo Manoel da Silva/Arquivo Pessoal)

O pai de Marcelo, Paulo Manoel da Silva, bem como o primo do jogador, Felipe Emanuel, só vão chegar a Juiz de Fora próximo ao fim do velório. O avião, que levaria os familiares do jogador neste sábado (3), não pôde decolar em razão do mau tempo. Desta forma, eles foram de ônibus para Curitiba, onde estão na casa do primo de Paulo, Evaldo Fernandes de Almeida. De lá, Paulo e Felipe seguem em voo comercial para o Rio de Janeiro e, depois, viajam de carro para Juiz de Fora. A previsão de chegada é às 15h.

Por volta do mesmo horário deve terminar o velório de Marcelo na Câmara. A partir disso, o corpo será levado por um caminhão do Corpo de Bombeiros, em cortejo fúnebre, até o Cemitério Municipal. A previsão para o sepultamento é às 16h. Porém, há um acordo entre a família e o cemitério para que, em caso de atraso, Marcelo seja enterrado às 17h.

Família
O pai de Marcelo fez tudo que podia para ver o filho ser jogador de futebol. Levou para escolinha, calçou a cara para pedir que jogasse de graça, sem pagar a mensalidade, mais de uma vez em projetos sociais, não teve vergonha de acionar os vizinhos para custear a vida do menino longe de casa, e acompanhou todos os passos, da infância, até o profissional.

Dias após o acidente, o pai do atleta se mostra resignado e tranquilo. Para Paulo a maior tristeza tem sido acompanhar o noticiário e assistir aos depoimentos de sobreviventes e pessoas que, de alguma forma, tem contribuído com as investigações sobre a queda do avião da LaMia.

As informações sobre o plano de voo e a possibilidade de negligência do piloto da aeronave, Miguel Quiroga, quanto à quantidade de combustível utilizado para o trajeto entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia, indica a possibilidade de falha humana como razão para a tragédia.

De acordo com o pai de Marcelo, a dor por tomar conhecimento do que pode ter levado o filho à morte é o que mais tem machucado a família. "A perda, por si só, já motivaria a tristeza. Um time jovem, de jogadores que estavam buscando um título internacional e haviam marcado o nome da história do clube, foi destruído. E tudo por quê? Por falta de combustível? Pelo piloto ter calculado mal, ter arriscado e colocado a conta de chegar no aeroporto? É complicado. Isso é o mais triste", afirmou.

O pai de Marcelo revelou como foram os momentos, desde a última conversa com o filho, passando pela confirmação da morte, até as homenagens na Arena Condá. "Quando meu filho joga fora, a gente sempre deixa alguém com ele. Amigos, alguém da idade dele, para dar conselho, aliviar a ansiedade. Deixei o Felipe, que é primo dele, com o Marcelo. Em todos os clubes isso aconteceu. Eu estava em casa, sozinho. Minha filha mais velha, Marilene passou recentemente por uma cirurgia, e a família toda estava na casa da minha sogra, incluindo a minha esposa e outras duas filhas. Por isso, fui dormir cedo. Quando foi uma hora e meia, duas da manhã, tocou o telefone. Era o Felipe, que me disse: 'não tenho uma noticia boa'. Ele me pediu para ligar a televisão. Fiz isso. O volume estava baixo, mas nem precisei aumentar. Vi os destroços do avião e o escudo da Chapecoense", contou.

Os tios de Marcelo revelam a angústia da família. "O Marcelo é um jogador que sofreu muito na infância. Sempre se dedicou muito ao futebol. Com muito sacrifício chegou lá. Então a notícia para nós foi muito difícil. A família inteira está triste, Juiz de Fora está triste", disse Walter da Silva.

Jorge Manoel, tio de Marcelo, disse que o zagueiro conversava muito com a prima e que ele se dizia muito feliz por voltar aos gramados depois ficar fora tratando de lesão. Disse ainda que o jogador pensava nos últimos jogos da temporada e nas férias com os parentes em Juiz de Fora.
Jorge Manoel revelou angústia da família (Foto: Raphael Lemos/G1)

"Ele ficou muito tempo parado e até falou com a minha filha, com quem ele conversa muito. Ele estava feliz por estar voltando, jogou contra o Palmeiras, estava se preparando para ir à Colômbia e estava pensando nas férias. Estávamos até preparando a festa. Mas infelizmente, o destino", afirmou.

Humildade
O zagueiro entrou na escolinha quando tinha 16 anos e, de lá, foi para o Tupi-MG, em seguida Macaé, Volta Redonda, Flamengo, até chegar à Chapecoense. O ex-treinador Adilson Gomes destacou que o atleta estava animado pelo retorno aos gramados, e que ajudou a escolinha dele quando ainda jogava pelo Flamengo.

"O Marcelo sempre se caracterizou pela humildade e simplicidade. Nunca abriu mão das raízes dele. E nos momentos de férias ele dava muita atenção aos amigos. Na escolinha ele deu 35 pares de tênis novos para os meninos que não tinham condição, 35 bolas novas para a escolinha, que é um projeto social no Bairro Borboleta. Como ele teve uma passagem comigo, teve esse momento de gratidão, fiquei muito feliz", afirmou.

Queda de avião da Chapecoense
O avião que transportava a delegação da Chapecoense para a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional caiu na região de Antióquia, na Colômbia.

O zagueiro Neto, o lateral Alan Ruschel e o goleiro Follmann estão entre os sobreviventes, sendo que Follmann teve uma perna amputada. Os outros três que escaparam vivos da tragédia são o jornalista Rafael Henzel e dois integrantes da tripulação: Ximena Suárez e Erwin Tumiri. O goleiro Danilo chegou a ser resgatado com vida, mas não resistiu.

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