sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

"Anjo da Chape" e colombianos são homenageados por solidariedade em tragédia

16/12/2016 19h42
Brasília
Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil


Johan Alexis Ramírez Castro durante cerimônia de entrega da Ordem de Rio Branco e da Ordem do Mérito da Defesa a cidadãos colombianos e ao prefeito de Chapecó Beto Barata/PR

Foi com um gesto simbólico e solene que o governo brasileiro escolheu retribuir, na tarde desta sexta-feira (16), a solidariedade e o carinho dedicados pelos colombianos ao povo brasileiro após a tragédia com o voo que transportava a equipe da Chapecoense, que vitimou 71 pessoas no último dia 29 de novembro.

As mais altas honrarias diplomáticas do Brasil foram concedidas a doze cidadãos e autoridades do país, que foi hoje promovido ao título de irmão dos brasileiros. Assim como o garoto Johan Ramírez Castro, que viajou pela primeira vez de avião para receber a homenagem, vieram a Brasília o prefeito de Medellín, Federico Gutiérrez e outros representantes da cidade que receberia os jogadores da Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana.

Eles foram homenageados com a Ordem de Rio Branco, reservada a serviços meritórios e virtudes cívicas. No mesmo dia em que a partida seria disputada entre os brasileiros e o Atlético Nacional, até então time rival, o estádio Atanasio Girardot se transformou em palco de uma emocionante homenagem feita por milhares de colombianos. Por este motivo, uma das apresentadoras do evento, jornalista Mónica Jaramillo, também recebeu a condecoração.

"Em meio a essa dor, testemunhamos as comoventes manifestações de solidariedade logo em nossa chegada a Medellín”, relatou o ministro das Relações Exteriores, José Serra, antes de entregar as medalhas. “Dos taxistas aos funcionários, dos dirigentes aos torcedores do Atlético Nacional, dos militares aos jornalistas. São essas pessoas que eu quero homenagear hoje, da forma mais sincera e com profunda gratidão”, disse.

Ao discursar após as homenagens, o presidente Michel Temer lembrou o gesto do clube colombiano de pedir que o título da Copa Sul-Americana ficasse com a Chapecoense. “A Colômbia fez mais do que responder ao acidente de forma exemplarmente profissional. Fez mais do que, com modelar competência, socorrer os sobreviventes e apoiar os familiares. Na verdade, fez muito mais do que isso. A Colômbia chorou com o Brasil”, afirmou Temer.

Para agradecer aos profissionais que atuaram no resgate das vítimas, o governo brasileiro agraciou os comandantes das Forças Armadas e diretores de polícia com a Ordem do Mérito da Defesa, que homenageia relevantes serviços prestados ao Brasil.

O garoto Johan, de 15 anos, que mora com os pais no território onde caiu o avião, lamentou ter conhecido o Brasil, país que achou “muito bonito”, numa circunstância como essa. Ele, que ficou conhecido como o “Anjo da Chape”, disse se sentir alegre, apesar da tragédia, por ter ajudado a salvar os seis sobreviventes.

“Estávamos assistindo televisão quando escutamos um impacto, meu papai me chamou. Foi quando ouvimos pelos meios de comunicação que havia sido perdido o avião da Chapecoense. Nunca pensamos que tantas vidas [estavam em jogo]”, declarou, após a cerimônia. Durante o ato, ele recebeu das mãos do ministro da Defesa, Raul Jungmann, uma camiseta da seleção brasileira com o número 10 e seu nome atrás.
Raul Jungmann e o presidente Temer entregam uma camisa da Seleção Brasileira personalizada a Johan Alexis Ramirez Castro
Valter Campanato/Agência Brasil

"Ele, naquela madrugada, foi quem orientou as autoridades de salvamento. Ele próprio ajudou no processo de achar e ajudar a resgatar seis sobreviventes”, contou Jungmann. Segundo o ministro, o que torna “inesquecível” o gesto dos colombianos vai além da ajuda estrutural e de logística prestada.

“A certa altura os socorristas precisavam de tradutores, porque chegavam equipes, famílias, e não entendiam espanhol. Eles fizeram um pedido de voluntários. Pois bem, no dia seguinte, mil voluntários se apresentaram. Fizeram outro pedido de ajuda psicológica para as famílias traumatizadas com aquela tragédia, e chegaram quase 2 mil profissionais”, lembrou.

Jungmann lembrou da comoção que a tragédia causou na Colômbia. “Naqueles instantes vivíamos algo que racionalmente é difícil dizer ou expressar em palavras: como é possível que eles sintam o que sentimos, que se emocionem para além dos moldes e culturas dos países? Eles sentiram como se brasileiros fossem e nós como se colombianos fôssemos. A fraternidade que nasceu dessa grande tristeza é indestrutível. Brasil e Colômbia são irmãos para sempre”, disse o ministro, dando o tom do sentimento de gratidão

De acordo com o prefeito de Chapecó (SC), Luciano Buligon, o município vota nesta sexta-feira um projeto de lei para que seja declarado cidade-irmã de Medellín, e para que um espaço público receba o nome da cidade colombiana. “Também vamos criar intercâmbios entre universidades. O sentimento em Chapecó é um sentimento muito forte, que cada vez que se fala na Colômbia é uma unanimidade”, disse à Agência Brasil.

Edição: Amanda Cieglinski
Agência Brasil

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