quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Hino Nacional: uma execução que apenas João Carlos Martins sabe e pode fazer

João Carlos Martins, numa interpretação magnífica do Hino

Jorge Béja

Muitos sabem que, como cidadão, advogado e pianista, sou um dos que defendem a rigorosa observância que a legislação dispõe sobre os símbolos nacionais, que são o Hino Nacional, a Bandeira Brasileira, o Selo e as Armas da República. Já briguei muito na Justiça para impedir arranjos do Hino Nacional Brasileiro que não estavam de acordo com a lei fossem executados.

Começou na década de 80, com a Fafá de Belém, que gravou uma versão sem a devida autorização do presidente da República, como determina a Lei 5700/71 alterada pela Lei 8421/92. A Justiça proibiu. Fafá deixou de cantar. E a gravadora suspendeu a impressão de novos discos e a vendagem.

MADONNA – Depois foi a vez da Bandeira Brasileira. Ao desembarcar no Rio enrolada na Bandeira Brasileira, Madonna declarou que iria fazer no Maracanã com a Bandeira Nacional o mesmo fez com a de Porto Rico: esfregá-la na vagina. Ao ver as imagens na TV e ler a declaração da cantora, disse para mim mesmo: não vai não. Fui à Justiça, que expediu liminar proibindo a cantora de usar a Bandeira Brasileira na sua apresentação no Maracanã.

Com um oficial de justiça, um agente da Polícia Federal e um intérprete, fomos ao Hotel César Park em Ipanema levar a intimação. Madonna nos recebeu em sua suíte. Muito educada e gentil, assinou a ordem judicial, disse que iria respeitá-la e ainda dela ganhei um beijo e fez um elogio.

RESPEITO – Os símbolos nacionais não podem ser desrespeitados. E a lei diz como devem ser usados. Na lei, o que pode e o que não pode. Na lei, todos os protocolos que as autoridades desconhecem. Já vi na tv autoridade e gente famosa ser enterrada com a Bandeira Brasileira junto, envolvendo o caixão. Isso é crime contra a Bandeira. Já vi Dilma Rousseff, como presidente, discursando tendo a Bandeira Brasileira como pano que cobria o púlpito de onde discursava. Outro ato de desrespeito à Bandeira. Que barbaridade!

Mas ontem, senhores, pela primeira vez concordei com uma contrafação sublime, sacra, divina e abençoada do Hino Nacional Brasileiro.

TRÊS DEDOS – Foi no Maracanã, na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos. Vestindo terno azul anil e num majestoso piano de cauda, o pianista e maestro João Carlos Martins (o único do mundo que gravou ao piano toda a obra de Bach), com dois dedos da mão esquerda e apenas o dedo polegar da mão direita, tocou o Hino enquanto a Bandeira Brasileira ia sendo hasteada. Que beleza!.

Os dois dedos da mão esquerda faziam o acompanhamento apenas com quatro notas: dó e sol; fá e dó. E o polegar da mão direita tocava o Hino, nota por nota: dó, fá, mi, fá, sol, lá…..E no final, uma frase musical, que somente o talento e a sensibilidade de João Carlos Martins sabem criar e que deu muito mais beleza à beleza do próprio Hino. Tudo harmônico. Tudo heróico. Tudo reverente e respeitoso. Ele pode. A causa da cerimônia e a fatalidade que vitimou este fenomenal pianista que projetou o Brasil foram suficientes para autorizar aquela inimaginavelmente bela execução do Hino. Ele pode. João Carlos Martins pode.

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