Dilma fez o papel de vítima, mas não conseguiu convencer
Carlos Newton
Ao contrário do que se esperava, o debate dos senadores com a presidente afastada Dilma Rousseff transcorre em clima altamente organizado, democrático e republicano, decepcionando as quatro equipes de filmagem que se encarregam dos documentários que pretendem provar que houve um golpe no Brasil. Não há possibilidade de cenas de ação, confrome os cineastas ansiavam.
Os senadores e senadoras a favor e contra o impeachment estão sendo polidos e respeitosos, e a presidente se comporta do mesmo jeito, resultando num espetáculo altamente monótono e tedioso. As perguntas são acerca dos mesmos temas – o golpe parlamentar, os créditos em aberto junto ao Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES, e os decretos ilegais autorizando despesas sem aval do Congresso E as respostas também são sempre as mesmas, aumentando a overdose da repetição “ad nauseam” de argumentos falaciosos, na tentativa de Dilma justificar os crimes de responsabilidade.
Era esperado o maior espetáculo da Terra, de fazer inveja ao grande cineasta Cecil B. DeMille. E a frustração foi grande, porque o reality show do impeachment deixou muito a deixar,
ABOLINDO A CONSTITUIÇÃO – Basicamente, a enfadonha defesa de Dilma Rousseff se baseou em alegar que a Lei de Responsabilidade Fiscal autorizaria os decretos ilegais que a Constituição proíbe. Seu argumento é patético, porque não existe possibilidade de lei se sobrepor à Constituição.
Afirmou também que nas pedaladas (créditos bancários ilegais) não houve qualquer participação da Presidência da República, porque não cabia a ela, chefe do governo, autorizar o Plano Safra. Não assinou nada, não autorizou nada. Ou seja, simplesmente confessou que não mandava na administração pública, apesar de estar no exercício da Presidência da República.
Além disso, tentou convencer os senadores de que não houve pedaladas (maquiagem contábil ou contabilidade criativa), alegando que não se tratou de operações de créditos, embora a União tivesse sido obrigada a pagar juros aos bancos estatais.
SÓ RESTOU O DILMÊS – Para divertir o respeitável público, portanto, só restou o dilmês, aquele linguajar próprio e personalíssimo, que caracteriza a mais famosa representante da espécie conhecida como “mulher sapiens”. Mesmo assim, a performance da presidente também ficou prejudicada, porque os assuntos eram sempre os mesmos e ela foi instruída a não fazer suas célebres improvisações, ficava repetindo a mesma ladainha.
Na primeira pergunta de parlamentares pró-impeachment, feita pela senadora Ana Amélia (PP-RS), a presidente afastada chegou a ensaiar o dilmês, ao comparar a democracia a uma árvore, que num golpe militar é cortada, mas num golpe civil pode morrer atingida por fungos. Mas logo recebeu um toque do advogado José Eduardo Cardozo, que sentara a seu lado, e passou a obedecer às instruções e ao treinamento recebido nos últimos dias, nos ensaios com senadores da base aliada.
TUDO DECIDIDO – Logo na fase inicial dos debates, no final da manhã, ficou configurado que o impeachment será aprovado e não fará falta o voto do senador Wellington Fagundes, que está hospitalizado, com diverticulite.
O pronunciamento de senador Acir Gurgacz, líder do PDT, mostrou bem a situação. Apesar de ameaçado de expulsão pela direção do partido, ele se declarou francamente favorável ao impeachment, mostrando que o destino de Dilma Rousseff.
Realmente, os argumentos de Dilma foram frágeis e insatisfatórios, a teoria do golpe não pegou e ficou claro que ela não tem a menor condição de reassumir a Presidência, como diz o senador Telmário Mota, outro pedetista que vai enfrentar a cúpula do partido e votar pelo impeachment. O jogo acabou.
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