segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Documentários sobre impeachment revelam grande número de canastrões

Em cima da hora, o sensacional suspense da entrega da defesa

Carlos Newton

Além da transmissão da TV Senado ao vivo, a filmagem de quatro documentários sobre o impeachment fez com que os participantes do julgamento no Senado se transformassem em atores e figurantes. A exacerbação dos ânimos e as cenas de chanchadas derivam dessa situação, em meio às mancadas de um dos atores principais, o ministro Ricardo Lewandowski, que saiu do roteiro ao chamar José Eduardo Cardozo de “nosso advogado” e citar o “senador Cristovão Colombo”. Parece comédia, mas vira uma verdadeira novela, quando se perdem horas e horas debatendo detalhes sem a menor importância, como se estivéssemos num reality show.

Um dos documentários está sendo produzido pela cineasta paulista Anna Muylaert, sob direção de Lo Politi, que trabalha em filmes de publicidade. Outras equipes são comandadas pelo diretor carioca Douglas Duarte e pelas cineastas Petra Costa e Maria Augusta Ramos, que passaram a filmar os acontecimentos políticos a partir da votação do impeachment na Câmara, com os deputados votando por suas mães, seus filhos e outros parentes.
No Senado, canastrões e canastronas se exibem em cena

CANASTRÕES – Como se trata de documentários, os atores e figurantes interpretam livremente, sem orientação do diretor, sem marcação de cena e sem roteiro fixo. É por isso que o resultado está sendo desastroso e até mesmo patético. Uma das cenas mais concorridas foi a chegada esbaforida do advogado José Eduardo Cardozo para entregar a defesa de Dilma Rousseff à Mesa do Senado. Cercado pelas equipes de filmagem, ele protocolou o documento de 670 páginas faltando apenas três minutos para o encerramento do prazo fatal, num suspense de matar o Hitchcock, como dizia nosso amigo Miguel Gustavo.

Essas cenas combinadas com as equipes transformam os documentários em verdadeiras chanchadas, com senadores e senadoras se exibindo como grandes canastrões, em performances que causam constrangimento, como ocorreu nos três dias iniciais desta maratona cinematográfica, nos debates e xingamentos transmitidos ao vivo e a cores.

DILMA EM CENA – Agora, chegamos aos últimos capítulos, com a ansiada e apoteótica entrada em cena da protagonista, em seu papel de vítima de um golpe, cercada de 35 figurantes de altíssimo nível. Na Mesa Diretora do Senado, Dilma Rousseff vai ler dramaticamente o roteiro que escreveram para ela, para enfim desfazer o suspense se irá até o final da película ou se apresentará uma explosiva renúncia, numa reedição da célebre “Carta Testamento” de Getulio Vargas, mas sem cerimônia de corpo presente.

Se renunciar, a atriz estará saindo definitivamente de cena, sob vaias e aplausos ensurdecedores, captados pelos microfones de som ambiente das equipes de filmagem. Nesta hipótese, as cenas seguintes terão de ser canceladas, a não ser que o Senado decida manter a programação, como aconteceu no caso de Collor.

GRAN FINALE” – Caso a atriz principal não renuncie, haverá então os acalorados debates, com a protagonista podendo exibir à exaustão os dotes linguísticos personalíssimos, a oratória invulgar e a capacidade histriônica da mulher sapiens, em seu criativo papel de vítima do Dragão da Maldade, em filmes que desprezam o Santo Guerreiro.

Esse “gran finale” cinematográfico traz saudades do nosso amigo Glauber Rocha, que foi embora cedo e jamais poderia ter perdido essas cenas. Mais do que nunca, estamos vivendo numa “Terra em Transe”.

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