sábado, 20 de agosto de 2016

Delfim Neto recebia propinas da Odebrecht quando era deputado federal

Delfim Netto é um exemplo de impunidade através dos tempos

Deu em O Tempo
(Agência Estado)

Em depoimento ao delegado da Polícia Federal Rodrigo Luís Sanfurgo de Carvalho, da Lava Jato, o ex-ministro Antonio Delfim Netto afirmou que recebeu R$ 240 mil em espécie da Odebrecht em outubro de 2014 por “motivos pessoais, por pura conveniência”, devido a um serviço de consultoria que ele teria prestado à empreiteira. Delfim, 88 anos, foi o todo poderoso ministro da Fazenda do regime militar, nos anos 1970. Ele ficou famoso como o ministro do “milagre econômico”. Seu depoimento à Polícia Federal ocorreu na segunda-feira (dia 15).

Ele declarou que “presta serviços” para a empreiteira há 20 anos, mas que esta consultoria específica, pela qual ganhou R$ 240 mil, foi feita sem contrato. Afirmou que não recebeu outros valores da empreiteira “em circunstâncias similares”.

O ex-ministro alegou, ainda, que “não tinha ideia” que o valor foi pago pelo setor da Odebrecht responsável pelo caixa 2 da empreiteira, conforme revelou a investigação da Lava Jato.

SEM CONTRATO – “Que em diversas oportunidades presta consultoria (à Odebrecht) sem qualquer contrato, o que não exclui a natureza da consultoria prestada; que, conforme afirmado, presta serviços para a Odebrecht há mais de 20 anos; que, por vezes, presta consultoria por telefone ou pessoalmente; que, no caso em questão, não possui um contrato firmado, mas assegura que prestou tal consultoria e recebeu por ela o valor de R$ 240. 000,00”, afirmou o ex-ministro.

O valor repassado a Delfim consta de uma das planilhas do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht. Operações Estruturadas é o nome oficial do “departamento da propina” da empreiteira, revelado pela Operação Xepa, desdobramento da Lava Jato.

No documento, aparece que a entrega foi feita no dia 22 de outubro de 2014 no escritório de advocacia na capital paulista onde trabalha um sobrinho de Delfim chamado Luiz Appolonio Neto. Appolonio chegou a ser conduzido coercitivamente na Operação Xepa – 26ª fase da Lava Jato que tinha como alvo o setor responsável pelos recursos ilícitos da empreiteira – ocasião em que disse não se recordar de ter recebido o pagamento.

A PEDIDO DE DELFIM – Posteriormente, sua defesa encaminhou ofício à PF em Curitiba – base da Lava Jato – informando que “referidos valores não lhe pertencem, apenas foram recebidos no endereço acima mencionado a pedido do economista Antonio Delfim Netto, o qual por motivos particulares e em razão de sua avançada idade, não quis receber em seu escritório”.

Ainda segundo a defesa de Apollonio, todo o valor foi repassado ao ex-ministro, que recebeu a quantia “em virtude de consultoria prestada”.

À Polícia Federal, Delfim Netto disse que seu sobrinho presta “consultoria jurídica” para ele. O ex-ministro não detalhou qual foi o serviço de consultoria para a Odebrecht que justificou os R$ 240 mil. Ele afirmou que o dinheiro já foi gasto e declarado em seu Imposto de Renda.

RETIFICAÇÃO – “Que o valor em questão foi gasto; que não sabe precisar exatamente a destinação; que referido valor foi posteriormente declarado aos órgãos competentes; que seus contadores providenciaram a retificação da declaração de imposto de renda para inserir referido valor; que declarou citado montante como serviço prestado”, disse o ex-ministro.

Delfim disse ainda que produz relatórios mensais para a empreiteira e que iria encaminhar o contrato de consultoria que mantém com a empresa. E a empreiteira informou que não vai se manifestar sobre o caso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não há a menor novidade. Delfim sempre foi corrupto, desde jovem, quando roubou um livro raro da biblioteca da USP. No governo da ditadura, notabilizou-se como embaixador na França e foi denunciado pelo adido militar, coronel Raymundo Saraiva Martins. Não aconteceu nada a Delfim, mas o oficial teve interrompida sua carreira, não conseguiu promoção a general. No governo Figueiredo, Delfim trabalhava no Palácio do Planalto, e os militares instalaram um grampo no escritório dele. Sabiam que não era possível confiar nele. Nesse depoimento à PF, Delfim revela que há 20 anos presta serviços à Odebrecht. Isso significa que recebia propinas da empreiteira durante o período em que foi deputado federal, e a Constituição proíbe que parlamentar tenha outra fonte de rendimento. Delfim é um delinquente contumaz, uma inteligência voltada para o crime. (C.N.)

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