sábado, 13 de agosto de 2016

As mãos de Bárbara forjaram, no melhor sentido, uma paixão nova no Brasil

A goleira Bárbara comemora a defesa que deu a vitória ao Brasil

Lucas Alvares

Times e seleções de futebol são diferentes das equipes de outros esportes e de seus destaques, por mais brilhantes que sejam. Enquanto atletas de esportes individuais e dos antigamente chamados por aqui como “esportes amadores” nascem diamantes brutos, são lapidados e, com apoios aqui e ali, ascendem ao estrelato pelo próprio talento, times e seleções são entidades natimortas se não fizerem circular em suas veias, já no nascedouro, elos com o público que os italianos definem por “tifosi”, termo de difícil tradução, e que significa a amálgama entre o apaixonado e o objeto da paixão futebolística.

Quando mais de 50 mil pessoas vibram na mesma frequência que onze em campo, há a gênese de um relação maior, de uma marca étnica de relação entre o povo e uma de suas mais fascinantes expressões culturais, o futebol.

O futebol feminino, na épica classificação sobre a Austrália, parece ter encontrado, vez por todas, seu caminho no Brasil. Noves fora a falta de apoio à categoria pelos grandes clubes brasileiros, o foguetório nas madrugadas de todo o país e os gritos nas janelas após a defesa derradeira de Barbara, conjugado com o desespero da zagueira australiana Kennedy, fez o brasileiro sentir orgulho do seu futebol.

GRANDE MOMENTO – Foi, sem dúvidas, um dos grandes momentos desses Jogos Olímpicos até aqui, e o nascedouro de um elo de amor que, esperamos, transcenda à semifinal olímpica e a eventual final que o Brasil disputará.

A seleção feminina continua um exemplo de disciplina tática, senso de posicionamento e dedicação. Todas jogam por Vadão: Marta volta pra marcar, Formiga, 38, desarma nos minutos finais de uma extenuante prorrogação e as zagueiras Rafaelle e Mônica, frágeis fisicamente, se desdobram para marcar atacantes muito mais fortes.

Em momento algum o Brasil perdeu o padrão tático, houve pressão (29 chutes a gol) sem ceder contra-ataques em excesso, um ótimo indicador para uma semifinal que deverá ter o mesmo desenho, terça-feira contra a Suécia no Maracanã.

O final operístico, com Marta ajoelhada e Bárbara se desdobrando para salvar o gol da classificação australiana, que ficou no devir da meia Gorry, deu o tom. Se o ouro vier, certamente essa partida ficará entre as grandes do futebol. Da altura do que representa o futebol brasileiro, como tem sido desde a primeira fase cumprido por um time de gigantes do comprometimento.

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