Por Rodrigo Rangel
13 jul 2016, 14h22
Os terroristas criaram um canal de comunicação na internet que seria coordenado por um brasileiro e tem sido usado pelo Estado Islâmico para recrutar novos militantes jihadistas (VEJA.com/VEJA)
A 23 dias do início dos Jogos Olímpicos no Rio, o governo brasileiro concentra esforços para, publicamente, minimizar os riscos de atentados terroristas no país. A medida é parte de uma operação de redução de danos coordenada pelo Palácio do Planalto e tem por objetivo evitar que a propagação de informações sobre riscos de ocorrência de atos extremos possa desestimular turistas e até atletas que se preparam para viajar ao país. “Não é momento de tratarmos disso publicamente, sob pena de contribuirmos para prejudicar os Jogos que estamos sediando”, disse a VEJA uma alta autoridade encarregada de coordenar os preparativos na área de segurança.
A estratégia foi combinada há pouco mais de um mês, em reunião no Palácio do Planalto que contou com a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e dos ministros incumbidos de tratar do assunto. Nesta quarta-feira, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República apresentou a jornalistas o Centro Nacional de Inteligência – uma sala de pouco mais de 200 metros quadrados instalada na sede da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), em Brasília. É a partir desse centro que agentes do serviço secreto brasileiro e de países estrangeiros vão monitorar e trocar informações sobre eventuais ameaças terroristas durante o evento.
“Não achamos nenhum dado que nos faça deixar a população preocupada com a probabilidade (de atentados)”, declarou o ministro-chefe do GSI, general Sergio Etchegoyen. O discurso oficial é cuidadosamente calculado, até porque descartar a existência de riscos pode representar um problema: se algo ocorrer, como explicar depois que as ameaças haviam sido negligenciadas? A alternativa está no meio do caminho: dizer que todas as medidas de prevenção estão sendo adotadas. “Estamos hoje garantidos pelas melhores práticas, pelos procedimentos que têm dado certo no mundo inteiro”, disse o general. “Todos os riscos são considerados, independentemente da probabilidade.”
Se em público o discurso é tranquilizador, internamente a preocupação é grande. Neste momento, as autoridades se esforçam para localizar pelo menos dois suspeitos de ligação com organizações extremistas que entraram clandestinamente no país. Um deles é o sírio Jihad Ahmad Deyab, ex-prisioneiro de Guantânamo que vivia no Uruguai e que, segundo autoridades que acompanham o caso, atravessou a fronteira para o Brasil. “Há várias operações em andamento neste momento em várias partes do país”, diz um oficial. Há três semanas, VEJA revelou um relatório reservado em que a própria Abin estipula em 4, numa escala de 1 a 5, o nível de ameaça terrorista ao Brasil durante os Jogos Olímpicos do Rio.
Nesta quarta-feira, veio a público na França o teor de uma investigação conduzida pelo serviço secreto do país segundo a qual o Estado Islâmico (EI) estaria planejando um ataque contra a delegação francesa no Rio – o atentado seria perpetrado por um combatente brasileiro do EI. Indagado sobre o assunto, o diretor-geral da Abin, Wilson Trezza, disse que a inteligência brasileira não recebeu qualquer informação da França acerca do assunto. Na mesma entrevista, como parte da estratégia de minimizar os riscos, Trezza afirmou que a Abin não classifica numericamente o nível de risco de atentados nos Jogos. Confrontado com o relatório revelado por VEJA em que a própria agência classifica como a ameaça como 4 (algo “sem precedentes” no país, de acordo com o documento), ele acabou desmentido por um subordinado, diante de mais de uma dezena de jornalistas.
http://veja.abril.com.br/brasil/abin-minimiza-terrorismo-no-rio-preocupacao-porem-e-altissima/
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