terça-feira, 28 de junho de 2016

“Não existe um corrupto no mundo que não diga que é perseguido político”

Ugaz veio ao Brasil para cumprimentar o juiz Moro

Cleide Carvalho
O Globo

O presidente da Transparência Internacional, José Carlos Ugaz, defendeu, após encontro com o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, a internacionalização das investigações da Lava-Jato, com apurações conjuntas de crimes de corrupção praticados pelas empreiteiras brasileiras em outros países. Ugaz afirmou que, até agora, existem apenas acordos de cooperação jurídica com outros países e que a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção possibilita a investigação conjunta quando crimes de corrupção têm impacto em mais de um país.

– As construtoras brasileiras estão presentes em diversos países da região (América Latina) e em vários deles com práticas corruptas bem identificadas – disse Ugaz, que nasceu no Peru, um dos países onde as obras de empreiteiras brasileiras são investigadas.

– O que temos hoje é uma assistência legal mútua, uma cooperação jurídica, não uma investigação conjunta – explicou.

DENTRO DA LEI – Ugaz também rebateu críticas feitas em relação à Lava-Jato, como os longos períodos de prisão e o uso de delação premiada. Na avaliação dele, as investigações da Lava-Jato são complexas, não só pelo tamanho mas pelas personalidades envolvidas, pois envolvem corrupção de poder, e estão ocorrendo dentro da lei.

– Não existe um corrupto no mundo que não diga que é um perseguido político. Isso acontece aqui e no Sri Lanka. Portanto, estamos acostumados a escutar esse tipo de coisa. O que estamos vendo aqui são pessoas que cometeram graves delitos e que são poderosas – disse ele.

DE OLHO NO BRASIL – O presidente da Transparência internacional ressaltou que todo o mundo está acompanhando e têm interesse nos resultados da Lava-Jato, que poderão servir como lição ao Brasil e serem levados como exemplo para o resto do mundo.

– É um pais muito relevante na região, muito importante para o mundo. É do máximo interesse a investigação que está sendo feita no Brasil e sua implicância no setor privado. É uma investigação exemplar – afirmou.

Ugaz anunciou que a Transparência Internacional vai implantar no Brasil um centro de análise e pensamento anticorrupção, para que as experiências sejam compartilhadas com instituições dentro e fora do país.

EM OUTROS PAÍSES – Ugaz lembrou que países como Guatemala e Honduras estão combatendo a corrupção e citou como exemplo o Peru, onde o ex-presidente Alberto Fujimori foi condenado a 25 anos de cárcere (por corrupção e violação aos direitos humanos). Ugaz, que é jurista, participou das investigações do caso Fujimori.

– A Lava-Jato chamou a atenção do mundo no combate à corrupção. É uma experiência que tem de deixar lições para o Brasil e também para os outros países – disse Bruno Brandão, representante da Transparência Internacional no Brasil.

Segundo ele, a entidade já atua com escritórios compartilhados em São Paulo, Rio e Brasília, mas quer expandir sua atuação a outras cidades do país.

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