segunda-feira, 4 de abril de 2016

Trio preso durante falsa blitz em BH é integrante da Le Cocq

Objetos com símbolos da Scuderie Le Cocq são vendidos na internet
PUBLICADO EM 04/04/16 - 03h00

JOSÉ LUIZ LISBOA

Três homens foram presos fingindo ser policiais ao realizar uma falsa blitz na praça do Papa, no Mangabeiras, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Para agir, no dia 27 de março, eles se apropriaram de elementos que fazem referência a um esquadrão de extermínio surgido na década de 60 no Rio de Janeiro. Portando uma réplica de pistola, agressivos, e usando uniforme que trazia uma caveira – a mesma utilizada pelo antigo grupo de matadores –, os suspeitos abordaram pessoas de quem, conforme a Guarda Municipal, “apreenderam” porções de maconha e R$ 35 em dinheiro.

Os três envolvidos, que hoje estão sendo investigados pela Polícia Civil, fazem parte da Associação Filantrópica Milton Le Cocq de Oliveira, que funciona há 30 anos no bairro São Cristóvão, na região Noroeste de Belo Horizonte. Apesar de ser identificada como uma instituição filantrópica, o grupo mineiro também utiliza parte do nome e símbolos da Scuderie Le Cocq, que era constituída, principalmente, por policiais civis e militares e juristas, e que teve o nome envolvido em mais de 200 homicídios.

O presidente da associação e policial civil aposentado, José Maria de Paula, 70, o Cachimbinho, confirma que o trio detido na capital na semana passada é membro da instituição há aproximadamente dois meses, mas nega que o Le Cocq tenha apoiado a ação dos suspeitos na praça do Papa.

“A associação não tem nenhum poder de polícia, nossa função é filantrópica. Eles fizeram por conta própria e sem qualquer cobertura nossa”, garante. Cachimbinho diz que ações sociais são o objetivo da instituição desde sua criação. “Fazemos um sopão, servimos 160 pratos de comida a cada ação. Tem também o bazar e ajudamos em creches, asilos. Qualquer pessoa pode participar”, destaca.

A sede da associação na capital fica em uma casa simples, próximo da Pedreira Prado Lopes. Logo na entrada, um manequim está vestido com o uniforme da instituição. Nele se encontra um brasão com o símbolo de uma caveira e as siglas “E.M.” logo abaixo. Na recepção, é possível ver um quadro com a marca da associação e, espalhados na parede, diversos adesivos de delegacias e da Justiça.

Cachimbinho conta que, ao ser criada, a associação chegou a usar o nome Scuderie. No entanto, desde 2004, quando a Justiça Federal do Espírito Santo proibiu a atividade do esquadrão (envolvido em crimes no Estado), houve a alteração no nome. “Foi aí que resolvi mudar de Scuderie para associação”, explica. Ele diz que sua instituição chegou a ser investigada, mas que não houve comprovação de irregularidades.

Investigação. A ação dos três suspeitos que se passaram por policiais está sendo investigada pela 3ª Delegacia Sul, em Belo Horizonte. Detalhes não foram informados.

O promotor Marcelo Mattar, da Promotoria de Combate ao Crime Organizado de Belo Horizonte, informou que acompanha o caso. Ele explicou que o flagrante foi feito por usurpação de função pública. “Pode haver uma mudança para usurpação com agravante ou extração. A polícia pode investigar o eventual envolvimento da associação no crime”, pontua. O trio detido está no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional da Gameleira. Os advogados deles não foram localizados.

Respostas

Polícia Civil. A corporação informou que até então não há nenhuma denúncia contra a Associação Le Cocq, mas que, caso informações de irregularidades sejam apontadas, um inquérito poderá ser aberto.

Seds. A Secretaria de Estado de Defesa Social afirmou que “não comenta investigações que são de responsabilidade da Polícia Civil”.

Para analista, caso exige investigação

Analista criminal e membro do Fórum de Segurança Pública, Guaracy Mingard acha importante investigar a atuação da Associação Le Cocq. “Usar o nome não aponta para envolvimento em crimes, mas, por já ter sido nome de esquadrão da morte – e isso é emblemático –, o Estado tem que levantar o nome dos associados, expor a situação”, justifica.

Para ele, esses grupos tendem a ações extremas. “Tenho medo, pois eles não têm conotação político-partidária, mas são muito conservadores. No Rio, as pessoas se juntam para fazer a segurança no bairro, o que não é proibido. Uma pessoa pode ser presa por qualquer um em flagrante, mas não se pode abordar o outro sem crime”, afirma.

http://www.otempo.com.br/cidades/trio-preso-durante-falsa-blitz-em-bh-

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