Ação. Durante a operação ontem, pelo menos cinco pessoas foram detidas pelos policiais militares
PUBLICADO EM 04/02/16 - 04h00
DANILO EMERICH / ESPECIAL PARA O TEMPO
COM JOSÉ VÍTOR CAMILO
Traficantes do aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, estariam obrigando moradores da comunidade não vinculados ao crime a esconder drogas, armas e até os próprios criminosos em suas residências. A Polícia Militar (PM) afirmou nesta quarta ter conhecimento da situação e apela para que a população denuncie e dê informações sobre os problemas para que consiga realizar as prisões dos bandidos.
Segundo o chefe do Comando de Policiamento Especializado (CPE), coronel Robson Queiroz, as denúncias podem ser feitas de maneira anônima. “Há informações de que os criminosos têm obrigado pessoas não só a escondê-los, mas também a produtos ilícitos. O que pedimos é que as denúncias sejam feitas pelo 181”, ressaltou. Uma moradora do morro confirmou o problema. “Ouvi comentários sobre isso. Fico com medo de me obrigarem a esconder armas e drogas”, contou uma jovem de 23 anos, que mora na região com a mãe e a filha de 9 meses.
A operação da PM na comunidade, que é realizada desde segunda-feira, conseguiu provocar uma trégua no conflito entre as gangues do aglomerado. Nesta quarta não foram ouvidos tiros. Porém, a relativa paz entre os traficantes que disputam o controle do tráfico pode durar só enquanto a polícia permanecer no local. Essa é a preocupação dos moradores. A funcionária pública Ana Paula Borges, 36, mora no bairro Serra e diz ainda estar apreensiva com a situação, mesmo com a ocupação da PM. “Evitamos ficar na rua após as 22h. Nem chegamos perto das janelas. O problema é a PM sair e voltarem os tiroteios”, disse.
Já um morador do aglomerado que pediu para não ser identificado afirmou que os traficantes ainda estão em atividade em vários pontos. “Estou saindo mais cedo do trabalho para não ter que passar na rua durante a noite”, contou.
Mesmo com a presença dos policiais, o medo fez com que escolas fechassem no aglomerado. As Unidades Municipais de Educação (Umeis) Capivari e Padre Tarcísio chegaram a abrir na terça-feira, mas, após uma suposta ameaça de traficantes, as instituições de ensino dispensaram os alunos em uma decisão conjunta entre a comunidade e a Secretaria Municipal de Educação (SME).
O funcionário de uma das escolas alegou que, na tarde desta terça, dois homens passaram no local e questionaram o motivo de a Umei estar aberta. “Mesmo com a PM, não dá para confiar. Nem os professores vieram trabalhar. A PM vai, e nós ficamos. Além disso, há muitos filhos de traficantes que estudam aqui”, disse. As aulas serão retomadas após o recesso de Carnaval, conforme a SME.
Serviços. O Centro de Saúde Cafezal chegou a funcionar nesta quarta, mas apenas de forma parcial, e vários serviços foram encaminhados para unidades de outras regiões. Os ônibus do transporte coletivo também seguem circulando com horário reduzido.
Sobre o fechamento das Umeis, o coronel Robson Queiroz afirmou que a segurança no local é garantida, mas que é preciso o contato dos gestores dos locais para que um efetivo seja deslocado e faça a escolta do ponto. “Não dá para manter o policiamento 24 horas, por isso a importância de a população denunciar”, afirmou o comandante.
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Efetivo
Participam da operação no aglomerado cerca de cem militares da Cavalaria, da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), do 22ºBPM, das Rondas Ostensivas com Cães Adestrados (Rocca) e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), além do helicóptero Pégasus.
Investigação. Uma equipe da Polícia Civil também foi ao aglomerado nesta quarta, mas não conversou com a imprensa.
Ação da PM deteve ao menos cinco pessoas no aglomerado
Pelo menos cinco pessoas foram detidas pela Polícia Militar (PM) durante a operação desta quarta no aglomerado da Serra. No decorrer do dia, os policiais realizaram revistas em pessoas, veículos e imóveis suspeitos. A maior movimentação de PMs ocorreu na parte da manhã. À tarde o número de policiais foi reduzindo no morro.
Dos detidos, três eram adolescentes e dois eram adultos. Também foram apreendidas três armas de fogo, sendo duas pistolas semiautomáticas, munição, rádios comunicadores, dinheiro e drogas.
Segundo a PM, um casal de adolescentes foi apreendido durante cumprimento de um mandado de busca e apreensão. Um dos adultos tem 18 anos e já era procurado por ostentar armas em redes sociais e por atirar em policiais na segunda-feira, durante uma incursão no morro.
O outro adulto detido foi um jovem que fugiu da PM em uma moto. Ele era inabilitado, e o veículo estava irregular. Na casa dele foi encontrada uma arma de fogo.
Criminosos mudaram de ponto
A presença da Polícia Militar (PM) no aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, teria obrigado os traficantes a remanejarem drogas e armas para outros pontos da capital. Segundo o chefe do Comando de Policiamento Especializado (CPE) da PM, coronel Robson Queiroz, a prova dessa ação é a apreensão de mais de 20 kg de drogas, nesta terça, no bairro Casa Branca, na região Leste.
A polícia acredita que o material seja dos traficantes do Serra. No total, foram encontrados 20 kg de maconha, cerca de 500 g de cocaína, uma porção de crack, três balanças, além de munição e material para embalo e refino de droga. Ninguém foi preso.
Olheiros. Durante a operação da PM nesta quarta, no aglomerado da Serra, era possível observar olheiros do tráfico monitorando a ação dos militares. De acordo com o coronel Robson Queiroz, o rádio da corporação consegue interceptar a comunicação entre os criminosos.
“Nossa rádio é digital, e eles não nos escutam, mas o sinal deles é analógico, e os ouvimos conversando sobre onde estamos subindo. Esse monitoramento pode ser considerado associação para o tráfico. Por isso também apreendemos os rádios-comunicadores”, afirmou.
http://www.otempo.com.br/cidades/moradores-coagidos-pelo-tr%C3%A1fico
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