Por: Reinaldo Azevedo 10/11/2015 às 3:01
Desde que resolveu aposentar o natimorto Fome Zero — que nunca saiu do papel — e substituí-lo pelo Bolsa Família, Lula e o PT transformaram o programa num grande lixo moral. Não! Isso nada tem a ver com os assistidos. Tem a ver com quem presta a assistência. Agora, há o risco real de o programa sofrer um corte severo de recursos. Dilma e o PT, com aquela moral peculiar, decidiram usar o programa para fazer terrorismo contra os pobres e para chantagear a oposição com o intuito de facilitar a aprovação da CPMF. É muita coisa ao mesmo tempo. Vamos com calma.
Quando Lula chegou ao poder, havia 5 milhões de famílias — mais de 20 milhões de pessoas — atendidas por um dos muitos programas de assistência direta do governo FHC, a saber: Bolsa Escola, Bolsa Renda, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás. No dia 20 de outubro de 2003, Lula baixou uma Medida Provisória, depois transformada na Lei 10.836, que unificou todos esses programas num só: o Bolsa Família. E acelerou o cadastro único de assistidos, que começara a ser criado na gestão tucana.
Aqui está um trecho da Medida Provisória, que prova o que digo:
(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás,instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.
Até ali, o Babalorixá de Banânia era contra a doação de recursos em dinheiro para os pobres. No dia 9 de abril de 2003, num discurso no semiárido nordestino, na presença de Ciro Gomes, então ministro da Integração Nacional, o Apedeuta afirmou que programas de bolsa deixavam as pessoas preguiçosas, e elas paravam de plantar macaxeira. Já http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-bolsa-familia-e-os-vagabundos-de-lula-que-nao-plantam-mais-macaxeira/ a respeito. Relembro trecho do discurso:
Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas”. Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.
Atenção! Havia mais de 20 milhões de pessoas atendidas pelo Bolsa Família de FHC (que atendia por outros nomes), mas, acreditem, os programas não foram usados na campanha eleitoral de Serra contra Lula em 2002 porque se considerava de mau gosto transformar em moeda eleitoral uma assistência que só se fazia necessária em razão das iniquidades do Brasil. Teria sido muito fácil o PSDB afirmar, em 2002, que Lula queria pôr fim àquilo tudo porque, bem…, afinal, ele queria mesmo!!!
Quando Lula, o espertalhão, percebeu que o Fome Zero era uma patuscada — até porque a fome com a qual ele se propunha a acabar já não existia, lançou, então, o Bolsa Família, meteu polegar nele, fez de conta que era criação sua, expandiu o programa e acusou a oposição, nas disputas de 2006, 2010 e 2014, de querer acabar com o benefício.
Atenção! Estima-se hoje em 14 milhões o número de famílias alcançadas pelo programa — 56 milhões de pessoas, pois. O menor valor pago a uma família é R$ 77; o maior, R$ 336. A média dos pagamentos anda ali pela casa dos R$ 150. Se o país tivesse mesmo mais de 50 milhões de pessoas que dependessem desses valores para comer, a gente não conseguiria botar o nariz fora da porta sem ser comido pelos esfomeados. Entenderam?
Então, meus caros, é evidente que há milhões de pessoas inseridas no programa que nele não deveriam estar. O que Lula e o PT fizeram foi inchar o Bolsa Família de modo a transformá-lo numa máquina eleitoral. Aquilo que o PSDB nem sequer lembrou na campanha de 2002 por excesso de pudor, os petistas transformaram num multiplicador de votos porque nunca tiveram pudor nenhum. Desse mal, eles não padecem.
O Ministério do Desenvolvimento publicou nesta segunda um “estudo” demonstrando que, se houvesse mesmo um corte de R$ 10 bilhões nos recursos previstos no Bolsa Família no Orçamento de 2016 — de R$ 28,5 bilhões para R$ 18,5 bilhões —, 23,2 milhões de pessoas teriam de deixar o programa, de um total, estimado pela pasta, em 47,8 milhões. Insisto: o pagamento alcança mais gente do que isso. Segundo ainda o ministério, mais de 3 milhões de beneficiários teriam de deixar o programa só em São Paulo, que conta com estimados 5 milhões. No Paraná, 75% dos 1,4 milhão de assistidos também perderiam o benefício.
Ora, por que citar muito especialmente os Estados governados pela oposição? Para tentar atraí-la para a defesa do orçamento inicialmente previsto para o programa: R$ 28,8 bilhões. Ocorre que quem chegou a falar no corte foi o relator do Orçamento de 2016, o deputado Ricardo Barros (PR), que é do PP — membro, pois, da base governista.
O Ministério do Desenvolvimento Social e o Planalto estão fazendo terrorismo. Ora, se o governo não resolver a questão pelo lado da despesa, vai tentar resolvê-la pelo da receita. Sim, estamos falando sobre a CPMF. O que o governo prepara é o terreno para tentar jogar nas costas das oposições a impossibilidade de criar a CPMF e o desgaste por ter de cortar programas sociais.
É que os farsantes estão prestes a chegar à perfeição de sua obra: enquanto a economia brasileira crescia e tudo conspirava a favor do Brasil — por razões alheias à vontade dos valentes —, o Bolsa Família só se expandiu. E não se enganem: estivéssemos crescendo a 3,5%, 4,% ao ano, mais gente ainda estaria pendurada no programa. Como o país vai amargar pelo menos dois anos de recessão — e das feias —, terá necessariamente de cair o número de assistidos. Ora, não foi o que os petistas fizeram também com o seguro-desemprego? O benefício se multiplicou quando o desemprego caiu e agora cai quando o desemprego aumenta.
É que tanto uma coisa como outra, no petismo, nunca se colocaram como programas sociais, destinados a minorar a pobreza. Eram e são meros artifícios de natureza político-eleitoral.
Os petistas fraudaram tudo. Inclusive e muito especialmente a caridade.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/os-petistas-fraudaram-tudo-inclusive-a-caridade-ou-o-bolsa-familia-cresceu-quando-a-pobreza-caiu-e-vai-cair-com-a-pobreza-crescendo/
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