segunda-feira, 25 de maio de 2015

Treinador suspeito de abuso foi levado para o Ceresp de Juiz de Fora.

24/05/2015 09h36 - Atualizado em 24/05/2015 09h36

Roberta Oliveira
Do G1 Zona da Mata
Caso foi descoberto na noite de sexta (22) no Eldorado (Foto: Reprodução/ TV Integração)


A partir da observação de um vizinho e da mobilização das mães, o suspeito foi detido na sexta-feira (22) no Bairro Eldorado. O homem, que era treinador de futebol das vítimas, teria estuprado três crianças na sede da associação de moradores, da qual era ex-presidente. A Polícia Militar (PM) suspeita que existam mais vítimas dele. O flagrante foi confirmado no sábado na Delegacia de Plantão em Santa Terezinha e o homem, encaminhado ao Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp), no Bairro Linhares.

Em menos de uma semana, houve o registro também de uma suspeita de abuso de um menino de cinco anos pelo vizinho adolescente no Bairro Santa Rita. "Só a denúncia impede mais casos. Ela ajuda a identificar e punir quem realiza estes atos", destacou o conselheiro estadual dos Direitos da Criança e Adolescente Claudinei Lima, em entrevista ao G1.

Além de familiares, o conselheiro estadual lembrou que profissionais que atuam com crianças e adolescentes devem estar atentos para detectar possíveis vítimas. “Precisamos que profissionais da área da saúde, da educação, da assistência social sejam capacitados para ter um olhar e saber identificar as vítimas por sinais ou pelo comportamento", afirmou

As denúncias podem ser feitas através dos telefones 190 ou 181 e também do disque 100, que a informa em ofício ao Ministério Público, Conselho Tutelar e Vara de Infância. Procurar os conselhos tutelares da cidade também são uma opção de solicitar apurações.

Superar o trauma
Após a descoberta do caso, uma das prioridades é oferecer apoio especializado para as vítimas e as famílias, segundo reforça o conselheiro. “A situação vai gerar um trauma, dependendo da personalidade de cada criança. Ela precisa de um acompanhamento e a família também. Uma orientação especializada para entender o que houve e como superar a situação”, lembro. Segundo ele, se não for especialista particular, as famílias devem ser encaminhadas ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para ter o atendimento.
São relações de proximidade que levam à oportunidade. São pessoas que abusam da confiança, tanto das vitimas quanto das famílias. Estão sempre próximas, ou no bairro, na rua ou mesmo de convívio pessoal. E na maioria das vezes, de quem não se desconfia"
Claudinei Lima

As três crianças que teriam sido abusadas pelo treinador de futebol passaram por exame de corpo de delito no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Juiz de Fora. De acordo com as informações repassadas à PM, não foi constatada penetração nas vítimas.

No entanto, a força do relato delas será considerada na apuração, conforme explicou Lima. “A narrativa delas é suficiente, quando possuem detalhes que demonstram que não foi imaginação, mas sim uma experiência à qual a vítima foi submetida”, analisou.

O homem foi descrito pelas famílias das vítimas como uma pessoa acima de qualquer suspeita, uma liderança comunitária, tendo sido, inclusive, ex-presidente da associação de moradores do bairro. O conselheiro destacou que, muitas vezes, o abusador se apoia neste perfil de confiança para ter acesso às vítimas. “É para se estar muito atento, porque o afeto se mistura. São relações de proximidade que levam à oportunidade. São pessoas que abusam da confiança, tanto das vítimas como das famílias. Estão sempre próximas, ou no bairro, na rua, ou mesmo ne convívio pessoal. E, na maioria das vezes, vem de quem não se desconfia”, comentou.

No caso descoberto no Bairro Eldorado, segundo a própria PM o homem teria relatado aos policiais que abusa de crianças há cerca de 20 anos. O conselheiro destacou que as vítimas devem procurar a Justiça. “A gente sabe que, muitas vezes, a vergonha impede a pessoa de falar, mas elas devem procurar a polícia até para oferecer informações que ajudem na apuração do caso”, afirmou Lima.
Famílias querem justiça
Neste sábado (23), durante o tempo de espera para o registro do caso, as mães das crianças ouviram a informação de familiares do suspeito de que ele alegaria ter problemas mentais. A possibilidade de impunidade causou indignação. “Estou revoltada. Queremos justiça. Ele não pode sair da cadeia impune, como vítima. Ele é um canalha. O que esses meninos passaram não foi brincadeira. A gente chegou ao ponto do delegado chorar”, narrou a mesma mãe que disse que o treinador estava acima de qualquer suspeita.

De acordo com o relato das crianças entre 8 e 12 anos, os abusos ocorreram geralmente após os treinos e sem dar pistas às outras pessoas que usavam a quadra do bairro. E que ele tratava o assunto como se fosse uma brincadeira.

Outra mãe destacou a relação de confiança que ele estabelecia com as vítimas. “A criança é vulnerável. Ele oferecia para comer um hambúrguer com ele, levar ao jogo, acampamento ou à natação e atividades da igreja”, lembrou.

Mais vítimas
O caso veio à tona a partir da desconfiança de um vizinho. De acordo com a PM, este vizinho teria visto uma movimentação na quinta-feira (21), no hall de um prédio em frente ao dele. O vizinho, então, teria descido para conferir o que estaria acontecendo e, conforme ele disse aos policiais, encontrou crianças se ajeitando e o suspeito. Diante da desconfiança, o vizinho conversou com outra moradora do bairro. Juntos, eles foram atrás das mães e contaram. Ainda na noite de sexta (22), as mães se reuniram em uma casa e, ao ouvir o relato das crianças, chamaram a PM.

Durante o registro do caso, cabo Alexandre Marques, da 31ª Companhia da Polícia Militar, que comandou o atendimento à ocorrência, percebeu que o suspeito estava correndo risco e acionou outra viatura para localizá-lo. “No momento em que estava ouvindo as partes, percebi uma grande movimentação de pessoas já se armando para ir atrás dele, que trabalhava em um restaurante perto da casa das crianças. De imediato, mobilizamos viaturas até o local de trabalho onde o escoltamos e o tiramos do local, porque a praça ficou lotada todo mundo queria linchá-lo. O suspeito pediu para vir à delegacia, como consta no BO de que ele veio de espontânea vontade com a equipe”, explicou Marques.

A PM informou que as crianças relataram que os abusos teriam ocorrido na sede da associação de moradores do bairro e que o suspeito tinha acesso a elas por causa da prática esportiva. “Ele era treinador de futebol, tinha contato com categorias de base, crianças de 8, 10, 12 anos. Ele tinha a chave da sede do bairro, apesar de não ser mais o presidente, continuava a levar as crianças para lá para praticar estes atos. E depois dava R$ 2, R$ 5 para elas”, narrou cabo Marques.

Na delegacia, o policial militar conversou com o suspeito e disse que há possibilidade haver mais vítimas. “De acordo com o suspeito, o primeiro histórico deste tipo ocorreu na quadra do Bairro Borboleta há cerca de 20 anos. Ele nem sabe mais quem é a pessoa. O delegado dará sequência à apuração, deve desencadear uma investigação e provavelmente devem aparecer mais vitimas. Os pais que desconfiarem, devem vir à delegacia, citar o nome do suspeito e serão incluídos no processo”, afirmou.
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