Polícia Civil apura compra de armas e realiza Operação 'Coruja' em Viçosa

08/05/2015 09h05 - Atualizado em 08/05/2015 19h25

Do G1 Zona da Mata

A Polícia Civil realizou a operação "Coruja" nesta sexta-feira (8) em Viçosa para combater o tráfico de drogas. Por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, policiais descobriram que os grupos compravam armamentos. Ainda segundo a polícia, as quadrilhas levavam drogas do Paraguai e da Bolívia para o Brasil e faziam o refino na Zona da Mata.

Ao todo, a Polícia apreendeu cinco pistolas, dois revólveres, uma cartucheira e 103 cartuchos de diferentes calibres, além de coletes a prova de balas. Durante a operação, foram cumpridos 27 mandados de busca e apreensão e 14 pessoas foram presas. Elas foram encaminhadas ao Presídio de Viçosa.

De acordo com a Polícia Civil, três grupos disputam pontos de venda no município. Até o momento foram apreendidos três armas de uso exclusivo da polícia, três motos, um carro, três coletes à prova de balas, computadores, notebooks, um pé de maconha e drogas. Doze pessoas foram presas, cinco pelo cumprimento dos mandados e outras sete em flagrante durante a ação.

Maioria dos homicídios tem relação com o tráfico,diz delegado (Foto: Reprodução/TV Integração)

A operação é resultado de uma investigação realizada há dois meses, após a apreensão de uma submetralhadora, arma também considerada de uso restrito. De acordo com o delegado José Donizete Teixeira, serão realizadas perícias para saber se as armas apreendidas podem ter relação com os assassinatos neste ano na cidade.

Por causa da disputa pelo tráfico, a criminalidade aumentou em Viçosa, cidade com 72.220 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro até agora foram registrados 22 assassinatos em Viçosa. A maioria deles está relacionada ao tráfico de drogas. "Pelo tamanho da cidade, a incidência de homicídios que a gente verifica aqui passa dos padrões aceitáveis”, disse o delegado Guttemberg Souza Filho.

Cerca de 150 policiais civis e militares participaram das ações, que aconteceram em toda a cidade, principalmente, nos bairros Santo Antônio, Grota dos Camilos, Morro do Escorpião e São José do Triunfo.

Insegurança

Escutas telefônicas gravadas com autorização da Justiça flagraram conversas entre os envolvidos no tráfico. Em uma delas, um dos suspeitos falou sobre a compra de um fuzil 762. “O ‘sete meiota’ também tem lançador de granada, entendeu? Só que, com o lançador de granada, aí já vai mais R$ 4 mil. 'Tá' indo com dois pentes carregados e um vazio. Tem luneta e tudo, mano”, descreveu o suspeito ao cúmplice.

O delegado de Tóxicos e Homicídios, Felipe Fonseca, ficou surpreso com a negociação. “Isso significa que as associações estão se armando para guerrear entre elas e também possivelmente para represálias contra os policiais”, afirmou.

O comprador da arma é apontado como um dos autores do assassinato de um homem de 30 anos em março deste ano. Segundo a polícia, ele era o maior traficante de Viçosa. Logo depois deste assassinato, houve uma sequência de nove mortes em pouco mais de um mês. As vítimas são jovens de baixa renda, entre 18 e 30 anos.

Delegado diz que que grupos se armam para guerrear (Foto: Reprodução/TV Integração)

Viçosa é a 178º cidade com o maior Índice de Desenvolvimento Humano do país. A Universidade Federal de Viçosa tem 17 mil alunos e é reconhecida pela excelência do ensino. A violência dos últimos meses assustou a população. “É anormal porque a gente está habituado a ver isso em cidade grande”, disse a cozinheira Luciana Soares.

O estudante Jânio Eustáquio concordou. “Está muito exagerado. Pelo tamanho de Viçosa, cidade universitária, a gente espera um ambiente mais tranquilo para se viver”, afirmou.

Violência

Entre os crimes registrados neste ano, estão as mortes de dois homens, ambos baleados, um no Bairro Santo Antônio e outro no Centro, em fevereiro. No início de março, em menos de 12 horas, ocorreram outras duas mortes.

Em seguida, houve a mobilização pelo desaparecimento do estudante Gabriel Oliveira Maciel, que foi encontrado morto dois dias depois. O caso completou dois meses nesta semana e está em investigação na Polícia Civil.

Polícia Civil investiga série de homicídios em Viçosa

(Foto: Reprodução/ TV Integração)

Ainda em março, entre os dias 10 e 17, um homem de 30 anos foi morto a tiros ao sair de um jogo de futebol no Bairro Santo Antônio, outro foi baleado ao sair do velório  e um jovem morreu ao ser baleado em frente a um bar.

Diante da violência, moradores conversaram com o G1 sobre o desejo de que as autoridades tomassem providências rápidas e também realizaram manifestação contra a insegurança na cidade.

Em março, durante a operação “Estrelas”, realizada pela Polícia Civil, foram presas dez pessoas suspeitas de envolvimento com atividades criminosas na cidade.

Em abril, a questão da violência foi tema de uma audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na cidade. No encontro, foi assumido o compromisso de levar as reivindicações à Secretaria de Estado de Defesa Social.