Vicente Nunes
Correio Braziliense
É importante ressaltar que a situação da economia brasileira é dramática. A inflação deste ano deve ficar entre 8% e 9%, nível sem precedente desde 2003, quando Lula tomou posse pela primeira vez. O rombo nas contas externas continua muito próximo de 4% do PIB, independentemente da alta do dólar, que deveria estimular as exportações. Nas contas públicas, quando se incluem os juros da dívida, o buraco corresponde a quase 7% de todas as riquezas produzidas pelo país. A desconfiança de empresários e consumidores é enorme. Com os investimentos travados e a demanda das famílias em baixa, a retomada do crescimento, se vier, só ocorrerá em 2016.
A faca continua no pescoço, mas a Standard and Poor’s (S&P) deu um refresco ao governo ao manter o país como porto seguro para o capital. Havia um temor generalizado no Palácio do Planalto de que, depois de recente passagem pelo país, técnicos da principal agência de classificação de risco do mundo retirassem o grau de investimento do Brasil, o que empurraria a economia mais rapidamente pelo precipício no qual se encontra.
Mas a ameaça de rebaixamento continua latente. Bastará um passo em falso da presidente Dilma Rousseff na condução do ajuste fiscal para que o país entre na lista das nações especulativas, com acesso restrito a crédito no mercado internacional.
META INSUFICIENTE
A S&P, como o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sabe que a meta de superavit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) é insuficiente para estabilizar a dívida bruta, que está encostando nos 64% de todas as riquezas produzidas pelo país. O importante, porém, é a trajetória, o comprometimento com a arrumação das contas públicas. Ou seja, o governo precisa mostrar que meta é para ser cumprida, sem os truques ou as maquiagens que se tornaram rotina no primeiro mandato de Dilma.
Pelos cálculos da S&P, para que a dívida bruta parasse de crescer em relação ao PIB, o Brasil teria que fazer superávits primários entre 3% e 3,5% do PIB por ano. Contudo, com a economia em retração – a agência prevê queda de 1% em 2015 –, seria necessário um arrocho brutal da atividade, o que tornaria a recessão estimada pelo mercado em brinquedo de criança. O desemprego explodiria. Assim, no entender dos técnicos da Standard & Poor’s, na atual conjuntura, a economia para o pagamento de juros da dívida deve aumentar gradualmente, para 2% em 2016 e, quem sabe, para 2,5% do PIB em 2017.
FALTA O CONGRESSO…
A expectativa da Fazenda é de que, a partir de agora, os mercados saíam da situação de pânico e botem os pés na realidade. No início da próxima semana, será divulgado o superavit primário de fevereiro, número que deve surpreender os investidores positivamente, pois a arrecadação foi melhor do que a esperada — os dados oficiais saem hoje. Não se pode esquecer, porém, de que o trabalho de Levy só está começando. O crédito da S&P que ele tanto contava foi dado. Agora, precisa que o Congresso Nacional, que anda refratário ao Planalto, lhe estenda as mãos.
Tribuna da Internet
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