PUBLICADO EM 04/01/15 - 04h00
RAQUEL SODRÉ
As férias de janeiro chegaram e, a despeito das declarações polêmicas do prefeito Orly Gomes (DEM) nas últimas semanas, Guarapari, no Espírito Santo, está cheia de turistas – muitos deles, como de costume, mineiros. Em entrevista à rádio CBN Vitória no último dia 16, o político afirmou que a cidade precisa de “pessoas que venham com dinheiro para gastar e, assim, justificar os investimentos na cidade”. Na prática, porém, o que turistas e moradores percebem é que os investimentos ainda estão longe de ser suficientes para promover melhorias reais na cidade.
Uma crítica frequente de moradores e visitantes é sobre o tratamento das águas. Segundo dados do IBGE, 33,91% dos domicílios do município não têm conexão com a rede de esgoto nem possuem fossa séptica. Os dejetos domésticos são despejados irregularmente na rede fluvial e pluvial.
O resultado disso são multidões de pessoas doentes, como ocorreu com a família da psicóloga Queli Aparecida Batista da Silva Abreu, 40. Em 2011, ela e a filha Helena, então com 6 anos, viram as férias virarem pesadelo. “Ela passou três dias no hospital tomando soro e medicamento.
Vomitava muito e tinha diarreia forte. No dia em que a levei para casa, voltei para o hospital com os mesmos sintomas”, conta a psicóloga. A “virose”, segundo o médico que a atendeu, pode ter sido contraída pela água. Desde o trauma, a família de Queli nunca mais voltou à cidade. “Nem se me pagarem a passagem e hospedagem no melhor hotel”, diz.
O mestre de obras Gilmar Silva, 40, natural de Congonhas e morador de Guarapari há sete meses, gasta cerca de R$ 50 por mês com água mineral, que usa para beber e cozinhar. “Eu moro na Praia do Morro. Lá, a maioria das pessoas conta com poços artesianos, mas a água é imprópria para consumo. Muitas casas têm poço e fossas irregulares no mesmo terreno”, denuncia.
Na opinião do historiador José Amaral Fernandes Filho, 42, morador de Guarapari, o que falta é um plano de desenvolvimento para o turismo. “Existem ações isoladas, mas não políticas públicas. A prefeitura organiza um evento aqui, outro ali, promove shows, mas nada disso segue uma ordem, um critério”, critica.
Ele, que faz levantamentos históricos da região, afirma ainda que a cidade está engatinhando em um processo que deveria estar muito mais avançado. “Nos anos 50 já havia um turismo interessante na cidade por conta das propriedades terapêuticas das areias de Guarapari. Mas, de uns 30 anos para cá, praticamente cessaram os investimentos em turismo”, diz.
A Prefeitura de Guarapari foi procurada insistentemente na última semana, mas não retornou à reportagem.
Protesto
Seca. Trinta moradores de Setiba, em Guarapari, fecharam a pista da Rodovia do Sol sentido Sul, na manhã de ontem, em protesto com a falta de água. O congestionamento na cidade foi grande.
O desconforto das filas e do rodízio de água
A falta de infraestrutura de Guarapari gera desconforto para visitantes e moradores. “No dia 31 de dezembro, havia 32 pessoas na minha frente na fila para pegar o pão na padaria”, conta a designer Érica Ranieri. A cidade ainda enfrenta rodízio no fornecimento de água.
Segundo o historiador José Amaral, há uma rixa. “Os moradores culpam os turistas pela falta de água, luz e pelas filas. Os turistas acham injusto, pois são eles que levam dinheiro para a cidade. E a culpa não é de nenhum dos dois”, opina.
Jornal O Tempo
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